No dia seguinte, acordei mais cansada do que quando fui dormir. E apesar de ainda ser bem cedo, precisava me levantar para entregar os currículos. Quanto mais rápido eu conseguisse um outro emprego, melhor seria.
Olhei para o outro lado da cama e não encontrei Relíquia, e pelo silêncio que a casa estava ele já devia ter ido para a boca. O filho da mãe tinha acabado comigo, perdi até a conta de quantas vezes fizemos amor a noite toda.
Deixei o morro com a esperança de conseguir um bom emprego no centro, de preferência com um salário aceitável e de carteira assinada. Sabia que a procura não seria fácil, pois querendo ou não eu era apenas uma garota de dezoito anos, recém formada no ensino médio e sem nenhuma qualificação no mercado.
De início, algumas lojas até se recusaram a aceitar meu currículo, por me acharem jovem demais para preencher a vaga, mas comecei a insistir com mais veemência e eles passaram a aceitar. Perto das três da tarde, uma agência de viagem ficou de me ligar nos próximos dias, dizendo que eu era bem comunicativa e levava jeito com os clientes. Fiquei super feliz, o salário não passava dos mil reais, mas já seria de bom tamanho.
Peguei a condução lotada, tinha pessoas quase sentadas no colo do motorista, e pra variar o ônibus veio se esvaziar apenas quando já estava perto do ponto em que eu desceria. Assim que saí da lata de sardinha, fui caminhando até a entrada do morro. Alguns vapores conhecidos acenaram para mim e eu retribuí com um meio sorriso, ainda me sentindo intimidada ao ver aquelas armas gigantescas em seus braços.
— Ei, estava batendo perna? — Senti meu braço sendo agarrado assim que passava ao lado da boca principal. Me virei para Relíquia e quase deixei uma baba escorrer pelo canto da boca ao me deparar com ele sem camisa. — Passei na boutique e tu não estava lá.
— Não tinha o porquê estar, fui demitida. — Respondi simplesmente.
Relíquia uniu as sobrancelhas, parecendo pensar no que eu acabara de dizer.
— Estava entregando currículos no centro. — Completei, ajeitando minha bolsa no ombro e trocando meu peso de pé.
— Por que a velha te mandou embora? — Ele parecia estressado em fazer aquela pergunta. — Ela é louca de fazer isso, caralho!
— Andei vacilando com ela de novo… — Respondi. — Mas eu a entendo, Julia me deu mais oportunidades do que eu merecia.
Ele balançou a cabeça, mas não me convenceu totalmente. Parecia determinado em conseguir algo.
Desci os olhos pelos seus braços fortes, admirando-o com paixão, e acabei reparando na pequena sacolinha rosa em sua mão.
Dessa vez fui eu que ergui a sobrancelha em confusão.
— É pra tu, pô! — Ele explicou, me estendendo a sacola rapidamente.
— O que é isso? — Perguntei ao mesmo tempo em que bisbilhotava o conteúdo dentro da sacola. Seria uma bomba? Ou um… Vestido?
Relíquia tinha acabado de me presentear com um vestido, era sério isso?
— Quero que vista ele sexta feira, tu vai colar comigo no baile!
— Tudo bem, eu visto. — Concordei no automático, deslumbrada demais com o vestido para pensar em alguma resposta melhor. — Vestido novo, chique… Vai ter alguma coisa especial nesse baile?
Relíquia desviou os olhos e balançou a cabeça.
— Tu vai saber logo mais, papo reto! — Respondeu e voltou a entrar na boca, me deixando ali sozinha e morrendo de curiosidade.
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Dono do Morro [M]
Fanfiction+18| Será possível o amor nascer entre as duas pessoas mais improváveis do mundo? Dulce jamais imaginou se envolvendo com um morador de favela, ainda mais sendo ele o dono do morro. Ela não sabia explicar o porquê de se sentir atraída por uma pessoa...