𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟻𝟶 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

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Boa parte do fim de tarde, Relíquia e eu passamos em um silêncio confortável. Nunca me imaginei passando aquele tipo de tempo com ele, Relíquia costumava a me procurar somente para se aliviar sexualmente.

Quando o sol deu lugar a lua no céu, Relíquia decidiu que era hora de ir embora. Se levantou da pedra ao meu lado e foi caminhando em direção a sua moto.

— Tu vai dormir comigo hoje. — Ele falou simplesmente, montando na moto.

— Amanhã pego cedo no trabalho, vou acordar antes das seis. — Eu avisei e subi atrás dele, na garupa.

— Eu te deixo no barraco daquela lá antes de ir pra boca. — Ele respondeu e acelerou, descendo por uma trilha de barro que saia na rua de trás da única igreja católica presente ali.

Relíquia cortou o morro em direção a sua casa que ele sempre me levava. Sabia que aquela não era a única, ele tinha casas muito maiores do que aquela em especial de que íamos. Notei que as pessoas apontavam discretamente para nós dois e comentavam a respeito. Muitos me intitularam indiretamente como a “fiel” de Relíquia e me respeitavam, outros nutriam ódio por mim pelo mesmo motivo, especialmente as garotas. Inclusive andava recebendo ameaças de rostos conhecidos nas minhas redes sociais, mas eu sempre buscava bloquear aquelas pessoas que não agregavam em nada a minha vida.

— Tô na mó larica, prepara um rango aí. Vou subir pra jogar uma água no corpo! — Relíquia falou e não deu espaço para uma resposta, subindo as escadas para o andar de cima.

Percebi que ele deixou o seu fuzil jogado no sofá da sala, fui até o mesmo e o peguei, guardando ao lado da televisão. Depois caminhei até a cozinha e dei uma olhada nos armários. Peguei um pacote de macarrão, decidindo preparar um espaguete.

Enquanto a massa do macarrão e as almôndegas cozinhavam no fogão, coloquei uma coca-cola no congelador da geladeira e fui preparando uma salada de alface com tomate.

Apesar da minha pouca idade e ter crescido com empregados que fariam tudo por mim, sempre me interessei em aprender a cozinhar. Ficava sentada horas e horas na bancada da cozinha observando Julieta, a cozinheira, preparar o almoço. Minha mãe implicava comigo por causa disso, dizendo que eu era uma dama e que não devia me preocupar em aprender a cozinhar porque sempre teria alguém para fazer aquilo por mim.

Pois bem mãe, olha eu aqui tendo que me virar sozinha.

Despertei do meu transe quando ouvi o barulho de Relíquia fechando a porta do armário, pegando um copo para beber água. Fui até as panelas e terminei de mexer o molho com as almôndegas. De modéstia parte, minha janta estava cheirando muito bem.

Esperei Relíquia se sentar à mesa para colocar os pratos. Coloquei o macarrão branco em um utensílio de vidro e despejei as almôndegas por cima, logo colocando a travessa de espaguete em cima da mesa.

Pensei se devia servir ele ou não, mas a sua feição já respondia tudo. Peguei o seu prato e coloquei um monte de espaguete, sem me esquecer da salada. Aproveitei para tirar o refrigerante da geladeira e servir a nós dois. Relíquia ficou me observando minuciosamente enquanto eu me sentava à sua frente e colocava minha janta também.

Comemos em uma paz que até eu estranhava. Por que diabos Relíquia não estava me xingando ou me pondo para baixo? Ele até chegou a repetir o espaguete! Fiquei feliz por tê-lo lhe agradado de alguma forma.

Depois que terminamos, Relíquia foi para a sala enquanto eu fiquei para lavar os pratos sujos.

— Preciso tomar um banho. — Falei assim que terminei, indo para a sala.

— Pode usar o banheiro do meu quarto. — Ele respondeu sem nem ao menos me olhar, concentrado no filme sangrento que assistia na televisão. — Vê se não mexe em nada, pô! — Acrescentou quando comecei a subir as escadas.

Dono do Morro [M]Where stories live. Discover now