𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟸𝟷 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

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Fiquei esperando por muito tempo, acho que em torno de quinze a vinte minutos, mas ela não voltou. Será que havia acontecido algo de grave? Liguei para o celular de Maite mais de dez vezes, mas sempre acabava caindo na caixa postal. Praguejei uma lista de insultos contra ela e decidi sair dali. Não era seguro eu ficar, literalmente, no meio de uma encruzilhada.

Segui até o final do beco e subi as escadas de uma viela correndo o mais rápido que eu podia, já que os tiros pareciam estar cada vez mais próximos, passando entre as casas que eram quase coladas uma na outra e interligadas por um emaranhado de fios de redes elétricas. Cai algumas vezes por estar com botas de salto, me esfolando todinha no chão. Ardeu muito e ameacei chorar com a dor, mas não parei.

Foi quando cheguei no topo da escadaria e topei com um homem enorme, com metade do rosto escondido por uma bandana e uma arma apontada na minha direção. Ele não me parecia nem um pouco amigável e muito menos ser morador do Chapadão. Então entendi tudo, ele era um inimigo. Inimigo do morro. E saber daquilo me deixou ainda mais apavorada.

— C-calma... Não tenho nada a ver com isso! — Pedi sussurrante, erguendo lentamente minhas mãos ao lado do corpo.

Ele me avaliou por alguns segundos e foi abaixando o fuzil devagar, sem desviar aqueles olhos hipnotizantes de mim. Senti algo diferente em relação a ele, afinal meu coração havia ficado disparado com a sua presença e minha boca ficou seca. Seus olhos eram de um castanho esverdeado intenso. Ele não se aproximou de mim, muito menos dirigiu a palavra comigo, apenas indicou com a cabeça para que eu saísse dali.

E eu estava prestes a fazer aquilo quando de repente ouvi o som da sua voz em um grito doloroso e angustiante, seguido de seu corpo estirado no chão, sangrando pelo abdômen. Sem pensar, corri até ele e comecei a pressionar o buraco de bala com as mãos, me sujando toda de sangue. Sangue... Muito sangue!

— Tá pagando de maluca, porra? Deixa esse filho da puta aí! — Relíquia apareceu me puxando pela cintura, me afastando daquele homem desconhecido. Olhei uma última vez para aqueles olhos esverdeados e fui arrastada dali. — Mete bala nesse comédia caralho! — Falou com alguém atrás de nós. 

Ouvi mais um disparo e olhei para trás, conseguindo um vislumbre de Sabiá apontando a arma para cabeça do homem. Ele tinha o matado!

Relíquia me arrastou para dentro de uma casa qualquer, cruzando-a pelo corredor e chegando na laje. Os moradores ficaram nos olhando assustados, sem entender do porquê da nossa presença ali, mas Relíquia nem ligou e continuou andando. 

— Vai, pula! — Ordenou. Olhei com receio para a laje do outro lado. Ele queria mesmo que eu, Dulce Saviñon, pulasse de uma casa para outra? — Vai logo antes que eu te jogue! — Relíquia bufou. Ele estava todo suado e com as roupas sujas tanto de sangue quanto de terra.

Respirei fundo, buscando impulso com um dos pés e pulei, felizmente me esborrachando toda de joelhos na laje, bem ao lado da pequena caixa d'água. Ótimo, já estava toda esfolada mesmo.

Relíquia pulou logo atrás e não teve o mesmo problema que eu, com certeza estava acostumado a invadir a casa dos outros pela laje. Aqueles bandidos era um uó mesmo. Olhei para os meus joelhos que ardiam, mas nem tive tempo de reclamar ou limpá-los já que Relíquia saiu me puxando pelo braço novamente.

— Vou te largar perto da pista! — Falou enquanto descíamos mais um lance de escadas e saíamos na rua de trás.

— Não! Maite também está aqui, preciso encontrá-la. — Respondi. Relíquia revirou os olhos e me puxou para uma viela estreita.

— Problema é seu e dela, não mandei nenhuma madame subir o morro! — Vociferou. Respirei fundo e fechei os olhos, tentando recuperar o fôlego que havia perdido na correria. — Agora pode me soltar o que tu estava fazendo aqui? Estava com outro macho, é?

Dono do Morro [M]Where stories live. Discover now