𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟼𝟽 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

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Na manhã seguinte, acordei com os fortes raios solares invadindo o quarto pelas frestas da janela e batendo no meu corpo. Revirei-me na cama e escondi o rosto atrás do travesseiro, gemendo só com o pensamento de como a noite anterior tinha sido boa. Ainda não tinha caído a ficha que Relíquia havia me escolhido como sua fiel.

Como seriam as coisas entre nós a partir daquele dia? Eu não fazia a mínima ideia!

Levantei-me e sentei na cama, observando o meu quarto revirado. Minhas roupas ainda estavam espalhadas pelo chão, o que me trazia uma breve lembrança de como elas foram parar ali, e meu celular em cima do pequeno criado mudo. Peguei-o e verifiquei às horas, faltavam de minutos para dar uma da tarde.

Desbloqueei a tela e arrastei meu dedo pelas inúmeras mensagens enviadas. Dei risada de uma que Anahí havia me mandado no WhatsApp, comentando ainda sobre o acontecido no baile. Ela estava tão incrédula com o que vira quanto eu. Mas a que chamou minha atenção foi a deixada pelo meu pai, pedindo para ligá-lo assim que fosse possível pois ele tinha uma surpresa para mim.

Disquei seu número e fiz a chamada. No quinto toque ele atendeu.

— Oi, minha princesa. — Ele comentou com uma voz contente.

— Oi pai, está tudo bem com o senhor?

— Estou ótimo e você?

— Bem também. — Respondi e sorri por saber que ele estava levando a vida. Meu sorriso se fechou assim que escutei uma segunda voz do outro lado da linha, falando com ele. Era minha mãe.

— Dulce, tenho uma surpresa para você... — Meu pai disse, mal contendo a empolgação no seu tom de voz.

Fiquei curiosa.

— O que é? — Perguntei.

— Eu te comprei um apartamento no Leblon, aqui perto de casa, mas prometo que vai ser um lugarzinho só seu. E adivinha? Da janela do seu quarto tem uma vista maravilhosa para o mar… Você não adora o mar, minha filha? — Ele comunicou e eu fiquei estática do outro lado da linha. Quase deixei o celular cair na cama, de tão chocada que estava. — O que achou?

Não conseguia responder nada, porque simplesmente um nó se formara na minha garganta. Meu pai estava dizendo tudo aquilo que eu esperei por longos meses, mas que agora não fazia sentido algum para mim.

— Dulce?

Apertei o celular entre os dedos e suspirei baixinho.

— Muito obrigada, papai. — Finalmente respondi, com os olhos embargados. — Mas não posso aceitar.

— Como assim? É seu, Dulce. Já comprei, só preciso te entregar as chaves.

— Não, papai… Não posso aceitar. — Neguei com a cabeça, deixando um par de lágrimas caírem dos meus olhos. — Isso foi tudo que eu mais desejei escutar de você quando sai de casa, mas agora as coisas mudaram.

— Nada mudou! — Ele retrucou com a voz mais séria.

— Pelo contrário, todos nós mudamos. Eu já não sou mais a sua princesinha, a menina dos seus olhos… Eu me envolvi com pessoas erradas, pai. — Confessei, me sentindo envergonhada.

— Como assim, Dulce? Que pessoas erradas são essas? — Ele insistiu, preocupado.

— Eu me tornei um deles.

Queria lhe dizer o quanto estava feliz e que eu tinha encontrado outra pessoa que cuidaria de mim, mas sabia que no instante que eu falasse de Relíquia para o meu pai ele surtaria.

— Você… Você entrou para o crime, filha? É por isso que não quer voltar para casa? — Ele balbuciou, com medo da minha resposta.

— Não, claro que não! — Respondi e pude ouvir ele respirando aliviado. — Você é uma pessoa maravilhosa pai, nunca vou me esquecer disso tá bom?

Dono do Morro [M]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora