𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟹𝟺 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

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UM MÊS DEPOIS

Naquelas últimas semanas que se passaram, fui no morro apenas umas quatro ou cinco vezes, porque Relíquia praticamente me obrigou. Ele estava estranho comigo, não conversava muito e o pouco que falava era só para reclamar das coisas que eu fazia. Fora que evitava a todo custo ficar a sós comigo, com excessão quando queria fazer sexo. O que parecia para ele que era só para isso que eu servia.

Bruna voltou de viagem duas semanas atrás para a nossa festa de formatura, mas logo após ingressou em outra para Nova York, agora ela só voltaria depois do ano novo. Falando no baile de formatura, esse sim causou! Com direito a barraco e tudo mais na hora da celebração. Parece que a mãe de uma das alunas da outra turma, descobriu que a filha era amante do próprio padastro. Foi uma loucura!

Hoje era noite de natal, ou melhor, véspera. Minha mãe, como sempre, teve a genial ideia de reunir as famílias mais influentes da cidade para ceiar com a gente esta noite. Maite foi passar a véspera lá no morro, seus pais estavam viajando de cruzeiro e parece que todos combinaram de se encontrar num barzinho lá no Chapadão.

Queria ter ido junto, mas meus pais praticamente me obrigaram a ficar por aqui, participando da reunião chata deles.

— Melhore essa feição, Dulce! — Minha mãe reclamou ao meu lado, sentada no sofá. — Os convidados estão olhando. — Dei a ela um sorriso forçado, sem mostrar os dentes. — Melhor! — Ela afirmou e se levantou, caminhando até Jules Philips.

Levantei-me logo em seguida e caminhei até a porta da rua, precisava tomar um pouco de ar. Me sentei na calçada em frente a minha casa e observei a rua deserta. Os casarões estavam enfeitados com arranjos de Natal, deixando uma visão bem bonita e colorida para os meus olhos. Particularmente, o Natal era a minha celebração favorita, um mês de pura magia.

Ouvi a porta abrir atrás de mim e encarei um Mateus bem envergonhado enquanto caminhava até onde eu estava.

— Posso? — Perguntou, apontando para o piso de calçada ao meu lado. Assenti e abracei meus joelhos, estava vestindo um conjunto preto de calça cintura alta flare e um cropped. — Já reparei que você não gosta muito desses jantares... E para falar a verdade, eu também não. — Falou e o encarei surpresa.

— Sério? — Perguntei boquiaberta e Mateus concordou. — Por quê?

— Sei lá, me sinto meio deslocado entre eles. Tenho dezenove anos, mas às vezes parece que tenho cinquenta... — Confessou sem disfarçar a tristeza.

— Também me sinto assim, Mateus! — Respondi sorrindo e coloquei a mão em seu ombro. — Você também sente uma vontade absurda de entrar lá dentro, quebrar tudo e depois mandar geral ir embora?

— Bem… Isso não! — Ele respondeu e caímos na gargalhada.

— Desculpa, só me sinto uma fantoche idiota! — Desabafei, encolhendo os ombros. — Eles me controlam, me sinto tão sufocada... Minha mãe só sabe me criticar, nada do que eu faço é bom o bastante para ela. Nada!

— Nem sei o que lhe dizer, Dulce… — Ele murmurou tímido. — Mas não fica se prendendo muito nisso, se você não gosta dessa vida... Um dia vai mudar, sei lá.

— Obrigada. — Sorri e o abracei. Pela primeira vez tinha conseguido ver a essência de Mateus. Ele não era o garoto fútil que eu imaginava, talvez ele seja mais parecido comigo do que eu pensava.

— Dulce… Eu… Queria aproveitar agora para te falar q-que... — Ele balbuciou e ficou todo vermelho. Sério, coitado! — Eu gosto de você. — Confessou. Fiquei embasbacada por ele ter tido a coragem de me dizer àquilo, porque apesar de sempre me elogiar e querer estar perto de mim, nunca abriu de fato seus sentimentos.

Dono do Morro [M]Where stories live. Discover now