— O que tá pegando? — FP perguntou ao meu lado. Olhei para todos a mesa, que pareciam distraídos enquanto conversavam banalidades, só assim para me dirigir a ele.
— O quê?
— Tá caladona ai, pô. Mó estranho ver tu assim. — Ele respondeu, bebendo um longo gole da sua cerveja.
— Não, é só que… Eu nunca me imaginei passando o Natal aqui e por vontade própria, entende? — Indaguei, mexendo as mãos nervosamente em cima do meu colo.
— Ah, isso com certeza! — Felipe concordou. — Favela tá muito longe de ser parte do seu mundo, boneca. Tô surpreso que esteja aqui também.
— Me desculpe se eu pareci rude, só estou me sentindo um pouco perdida agora. — Pedi. Se eles soubessem que aqui eles eram bem mais felizes que muitas pessoas que moravam no luxo e na regalia.
— Tudo mec, pô! — Felipe sorriu, mostrando alguns dentes de ouro que ele tinha na boca. Um movimento a nossa frente chamou nossa atenção, Jéssica se levantou da cadeira e ajeitou o cabelo afro, sorrindo para nós dois.
— Vou pegar mais biritas pra gente, ninguém aqui quer correr o risco de passar o Natal sóbrio, não é? — Ela brincou e todos a mesa deram risadas, inclusive eu.
Relíquia se levantou abruptamente e envolveu a cintura dela com o braço, pela cara fechada estava bem estressado.
— Vou com tu! — Ele falou parecendo nervoso.
— Qual foi, Relíquia? Eu sei o caminho tá, corro risco de me perder não. Fica tranquilo! — Jéssica brincou e os meninos começaram a zoar com Christopher.
Por acaso eles não tinham amor a própria vida?
— Que fora, meu parceiro.
— Tá perdendo a moral com a Perigosa, hein! — Christian gargalhou.
— Vão se foder, bando de filho da puta! — Ele grunhiu em resposta e apertou o saco. — Eu falei que vou junto, tá surda porra? Bora logo, guia! — Disse impaciente e saiu arrastando a menina para o bar.
Fiquei observando os dois com mais atenção enquanto se afastavam da mesa. Eles tinham se mantido juntos o tempo todo desde que cheguei e conversavam baixinho entre eles. Jéssica ria bastante quando falava com Relíquia, o que era um tanto impressionante. Alguém estando ao lado dele feliz e por vontade própria era novidade para mim. Mas o mais estranho era que aquilo mexia comigo de uma forma nada boa, não gostava de ver os dois tão próximos...
Por que estava me sentindo daquele jeito afinal?
— Eles me parecem bem íntimos... — Eu comentei com Felipe, apontando discretamente para os dois no bar. Agora Jéssica parecia flertar com Relíquia, rindo e mexendo no cabelo, com a sua outra mão por cima do peito dele.
— Ela é a amante mais antiga do Relíquia, são fechamentos desde pivetes, cresceram juntos, pô. — Felipe respondeu com um sorriso de lado.
— Ele gosta dela? — Perguntei sem saber ao certo o que sentia em relação àquilo.
— Acho que sim, já que com a maioria das outras putas não duram mais que dois meses... — Respondeu, distraído com uns palitos de dente que estavam por cima da mesa. Olhei ofendida para ele, que coçou a cabeça sem jeito. — Foi mal aí, não estava falando de tu não.
— Tudo bem, eu nem me considero nada daquele ali. Mas então, se ela é diferente das outras, por que ele não a assume como fiel? — Insisti no assunto, curiosa.
— Patrão não é desses que assume não, boneca. O lance dele é pente e rala. — Adiantou em dizer. — E mesmo sabendo disso, as minas daqui ainda procuram ele, morô? Seja por necessidade ou por ser maria fuzil mermo. — Felipe deu de ombros. — Ele gosta dela, mas acho que só como parceira.
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Dono do Morro [M]
Fanfiction+18| Será possível o amor nascer entre as duas pessoas mais improváveis do mundo? Dulce jamais imaginou se envolvendo com um morador de favela, ainda mais sendo ele o dono do morro. Ela não sabia explicar o porquê de se sentir atraída por uma pessoa...