𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟹𝟼 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

17.2K 839 78
                                    

— Fica a vontade, Dulce! — Anahí falou assim que abriu a porta de casa e me deixava passar. — É tudo simples, mas bem limpinho viu? Tia faz a gente de escrava direto! — Dei risada enquanto me sentava no sofá. E realmente a casa de Anahí cheirava a flores e era toda ajeitadinha.

— Daqui consigo ouvir o ronco dela... — Louise comentou dando risada e se jogou no outro sofá.

— Ô pirralha vai lá arrumar a cama para Dulce dormir, tu fica hoje no sofá. — Anahí disse tirando os saltos e jogando em qualquer canto da sala.

— Eca, vou dormir aqui não! Acha que eu não sei que tu se pegava com aquele estrupício bem aqui? — Louise fez cara de nojo e torceu o nariz.

— Tudo bem, eu posso dormir aqui sem problemas. — Falei, mas Anahí negou com a cabeça.

— Pode ficar com a minha cama então Dulce, essa pirralha mal educada só fala besteira! — Deu um cascudo na irmã, que tentou chutá-la de brincadeira. — Vai pelo menos trocar o lençol da cama! — Mandou.

Louise bufou e se levantou.

— Vou só porque cansei de ouvir essa sua voz de taquara rachada! — Louise reclamou e subiu as escadas correndo.

— Que dia hein... Você está bem? — Perguntei.

— Relaxa, tô acostumada a sair no tapa com aquela lá. — Riu e pareceu realmente não se importar. — E tu, por que decidiu subir o morro? Faltou emoção lá no asfalto? — Brincou.

— Claro que não. — Dei risada. — Digamos que minha mãe e eu nunca nos demos bem, essa noite foi o auge das nossas brigas. — Expliquei e ela balançou a cabeça.

— É complicado esse negócio de família... — Murmurou.

— Posso te fazer uma pergunta? — Indaguei, meio indecisa.

— É sobre os meus pais? — Anahí perguntou, concordei surpresa por ela já saber do que se tratava o assunto. — Minha mãe morreu no parto da Lou, era uma gravidez de risco e tudo mais por conta do estresse que ela passava em casa, e meu pai morreu alguns anos depois em uma invasão do morro do Alemão aqui. — Ela explicou e respirou fundo, parecendo por alguns segundos perdidas nos próprios pensamentos.

— Eu sinto muito, Any! — Falei e estendi a mão para segurar a sua.

— Tudo certo, tia cuidou de nós duas como uma mãe. Apesar das dificuldades sabe, ela nunca deixou faltar nada. — Disse e parecia bem orgulhosa ao falar da tia.

— Tenho certeza que sim. — Eu sorri. — E o Poncho?

— O que tem ele? — Perguntou desconfiada.

— Como o conheceu?

— Ah... — Ela sorriu e pareceu voltar alguns anos atrás enquanto se mantinha em silêncio. — O Poncho eu conheci quando era piveta ainda, a gente era da mesma sala no fundamental até que ele decidiu largar a escola para entrar nessa vida ai que tá agora. Mas só fui gostar dele mesmo quando tinha uns dezesseis anos e via ele passar aqui na frente de casa. — Ela prendeu o cabelo em coque, sentando-se em perna de índio. — Naquela época ele sequer olhava para mim, nunca me reparava, era como se eu fosse invisível para ele, apesar de às vezes me cumprimentar na rua. — Ela sorriu triste. — Até que em um baile que rolou no quinze ele esbarrou em mim sem querer, eu tinha acabado de completar meus dezoito anos, sabe? Parece que ali as coisas mudaram... Ele passou a me notar mais nos lugares, me olhava diferente...

Ela disse aquilo e voltou a ficar quieta.

— Vocês ficam tão lindos juntos. — Eu comentei, tentando deixá-la feliz.

Dono do Morro [M]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora