Dono do Morro [M]

𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟺𝟺 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

— Bora comigo, Dulce? Por favor, te faço massagem por um semana! — Anahí implorou, me chacoalhando forte na cama. Ela estava toda emperiquitada, pronta pra subir para o baile. Só que eu queria ficar em casa, na minha tranquilidade. — Nunca te peço nada, isso é tão injusto!

— Ai, estou cansada! — Reclamei e tampei minha cabeça com o travesseiro para não escutar as suas apelações.

— A gente precisa comemorar seu feito, tu descolou um trampo, pô! — Ela lembrou, me fazendo com o pensamento de que agora conseguiria meu próprio dinheiro. Tinha arrumado um emprego em uma boutique feminina perto do postinho de saúde, aqui no morro mesmo.

Minhas esperanças de que meu pai voltasse atrás na decisão da minha mãe se dissipava a cada dia que passava, já nem contava mais com a sua ajuda.

— Verdade, não é? — Levantei a cabeça e sorri. Anahí bateu palmas empolgada e começou a tirar minha mala de debaixo da cama. — Vai com calma ai, não disse que iria para esse baile. Até porque se eu for, é certeza que vai acontecer alguma merda comigo! — Falei e Anahí gargalhou, sem deixar de fuçar as minhas coisas.

— Larga de ser exagerada. — Ela disse e tirou um vestido rosa e preto da minha mala. — Pronto, veste esse aqui e arrasa com as faveladas, barbie girl.

— Barbie girl? Sério, Any? Melhore! — Falei, dando risada. Ela mandou eu calar a boca e me enxotou em direção ao banheiro.

Tomei um banho rápido e me troquei, colocando a roupa que ela havia escolhido e um par de sapatênis. Meus cabelos só escovei e pronto. Básica mesmo, porque nem com vontade de ir para esse baile eu estava.

— Agora vamos, já é meia noite fia! — Disse e começou a me arrastar para fora da sua casa.

— Louise não vai?

— Aquela coisa já deve é estar lá. — Anahí respondeu e assobiou para um garoto do outro lado da rua. — Ei menor, dá uma fortalecida ai?

— Só falar, gata! — O garoto respondeu com um sorriso de canto.

— Arrasta a gente até o baile? — Ela pediu, fazendo um biquinho ridículo, mas que pareceu funcionar com o garoto.

— Opa, demorô. Ia puxar um beck, mas levo vocês lá. — Ele concordou e bateu na lataria do seu gol. — Pô, satisfação aí. Bruno!

— E ai Bruninho, sou a Any. Essa é a minha amiga Dulce... — Apontou para mim. Acenei e me sentei no banco de trás do carro ao lado de Anahí, que foi batendo papo o caminho inteiro com o Bruno. Diria até que, quem não os conhecessem, acharia que eram melhores amigos.

— Tu que é a dona do Relíquia, não é? Papo reto, pô! — Ele perguntou, me encarando pelo retrovisor.

— Eu não! — Neguei prontamente com a cabeça, rindo por dentro daquela baboseira. Eu dona do Relíquia? Estava mais para o saco de pancadas dele!