𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟼𝟶 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

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Fui deixar o shopping perto das quatro da tarde, o tempo tinha fechado e ficado completamente cinzento, anunciando antecipadamente que vinha chuva por aí. Meu pai insistiu em me levar seja lá onde eu fosse, mas neguei veementemente assim como o dinheiro em que ele me ofereceu.

Atravessei a rua correndo quando gotículas finas de chuva começaram a cair. Por sorte, lembrei-me de colocar a sombrinha dentro da bolsa antes de sair. Esperei o ônibus para Barra da Tijuca por uns vinte minutos, até que ele aparecesse quase que vazio.

Olhei pela janela o bairro do Leblon ficando para trás e fechei os olhos, deixando um grosso par de lágrimas escapar. Eu estava bem, no entanto meu coração apertado dentro do peito dizia exatamente o contrário. Ele dizia que eu não voltaria aqui outra vez… Que jamais encontraria com o meu pai novamente.

Cheguei no Chapadão às seis em ponto, o dia já estava se pondo e com ele a escuridão tomando conta. Subi o morro com cuidado do lamaçal que havia se formado nas ruas por conta da chuva forte que caiu. Antes de ir para casa, passei no mercado para pegar algumas coisas que estavam em falta.

— Oi Dulce, tudo bem? — Uma voz falou atrás de mim. Coloquei o extrato de tomate dentro da minha cestinha e me virei para mulher que me encarava com atenção.

— Oi. — Respondi meio desconfiada. — Jéssica, não é?

— Isso aí... — Ela concordou e sorriu. — Nos conhecemos no Natal, lembra? — Assenti. Claro que eu me lembrava da garota que o Relíquia passou a noite toda conversando e que no final me esnobou para ficar com ela. — Só queria deixar bem claro que pra mim isso não é nenhuma competição! — Falou, mas franzi o cenho sem entender do que exatamente ela falava. — Relíquia. — Explicou. — Não tenho nada contra tu, pelo contrário, até te acho uma pessoa bacana.

— Err… ok! — Concordei meio desconcertada e observei ela se afastar para fora do mercado. Dei de ombros e voltei a fazer minhas compras.

Depois de pagar as coisas, fui para casa. Ainda tinha que me trocar e subir para casa de Anahí, hoje ela cantaria. Tomei outro banho relaxante e vesti um conjuntinho simples jeans, os cabelos deixei-os soltos mesmo.

Perto das oito, subi o ladeirão em direção a rua da Anahí. Notei que o subordinado me seguia mais atrás, feito um cãozinho, mas decidi resolver aquele assunto diretamente com Relíquia.

— Tô bonita? — Ela perguntou assim que abriu a porta.

Dei risada e balancei a cabeça.

— Não existe uma palavra certa no dicionário para explicar o tamanho da sua perfeição neste momento! — Brinquei, ela revirou os olhos e me deu um murrinho de leve. — Vamos?

— Sim, só deixa eu pegar meu celular… — Ela murmurou enquanto corria escadas a cima.

Fui esperá-la do lado de fora, em frente ao portãozinho da casa dela.

— Tô muito nervosa, a sensação de que sempre é a primeira vez! — Anahí falou, me alcançando. Começamos a caminhar em direção a pensão de Dona Nice, que não ficava tão distante.

— Fica calma, você sempre arrasa muito. — Garanti.

Assim que chegamos a pensão, Anahí correu para checar com os meninos do som se os equipamentos estavam tudo certo. Pelo que eu sabia até então, eles eram os mesmos que tocavam na igreja da tia dela.

— Boa noite pessoal, bora dar início ao karaokê… Espero que gostem! — Ela sorriu enquanto os primeiros acordes do violão soavam.

O repertório de Anahí era bem versátil, ela não se apegava tanto a um único ritmo e sim cantava um pouco de cada. Eu sempre me pegava encantada, como se também fosse a primeira vez que a via cantar. Era simplesmente… Lindo! Meu coração se enchia de paz com a sua voz de anjo.

Dono do Morro [M]Where stories live. Discover now