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Já havia passado uns 40 dias, e eu ainda estava no hospital. Eu não sei o pq, mas acredito que tenha dedo do meu pai pra que não saísse e fosse pro Morro.

Era o dia da minha alta, já estava mais calma em relação a morte do meu filho. Não que tenha aceitado, mas já conseguia passar o dia sem chorar e dormir alguns minutos por noite.

Como sempre era Pedro, o motorista que estava lá. Meu pai nem ao menos apareceu depois que me deu aquela notícia, simplesmente me largou lá com as enfermeira  

Sai do hospital e fui direto para o cemitério onde estava a lápide do meu neném.

- Me perdoa filho, eu não pude nem vir ao seu enterro, eu estava sem forças, estava fraca demais, eu te amo tanto meu amor, te amo mais que minha vida. – sussurrei baixinho, já chorando.

Depois de um tempo lá, fui pra casa. 

- RITA? - abri a porta gritando seu nome, estranhava ela não estar no hospital na hora em que tive alta. Na verdade, nesses quarenta dias em estive lá não vi Rita nenhuma vez.

- RITAAAA? - gritei novamente entrando na cozinha.

- Oi querida, como você está? Se sente melhor? - perguntou Maria assim que me viu.

- Olá Maria - me aproximei e dei um abraço. - Estou bem e você? Sim, me sinto um pouco melhor - sorri fracamente. - Cadê Rita? Não a vejo desde que fui ter meu filho.

- A Rita? Você não soube? Ôh minha filha, sinto muito. Rita não trabalha mais aqui, não sei se seu pai demitiu ela, ou se ela que pediu as contas. Mas desde quando tu tá naquele hospital que ela não trabalha mais aqui. 

- QUE? Como assim? Cadê meu pai? - não podia ser verdade, primeiro meu filho e agora Rita, não era real. Eu estava sozinha. 

- Está viajando meu amor. 

Nem deixei Maria terminar de falar e sai correndo para meu quarto, não podia ser possível que além do meu filho, Rita havia me deixado também. Passei o resto do dia apenas chorando e tentando entender o que acontecia para que todos me deixassem sozinha quando eu mais precisava. 

Eu tinha que dar um jeito de ver o Magrão, de falar com ele. Será que sabe que nosso filho morreu? Respirei fundo e pensei em um jeito de sair de casa, sem que meus seguranças me vissem.

A segurança tinha diminuído, ao invés de seis seguranças, agora só havia dois. Um ficava em frente da minha porta e me seguia pela casa, e o outro ficava rodeando a casa. Esperei até a noite e fiquei reparando o dia todo como o segurança de fora agia, para que eu pudesse sair pela janela e ir em direção ao portão. Ele passava a cada 15min em minha janela, fazia a volta pela casa. Então assim que ele passou eu fui, tinha que ser rápida. 

Meu quarto ficava no segundo andar, e logo abaixo dele tinha umas pequenas arvores. Me joguei mesmo, não tinha tempo de ficar descendo aos poucos. Me machuquei um pouco, dei um jeito no tornozelo e tive alguns arranhões, nada demais. 

Sai correndo o máximo que podia pela rua até encontrar um ponto de táxi. 

Cheguei lá logo avistei Jotinha, um dos cara do Magrão.

- Jotinha, oi.

- E ai patroinha, quanto tempo hein, achei que a sinhora num ia mais aparecer aqui. – sorriu.

- Pois é, você poderia me levar pra casa do Magrão.

- Jaé, vou só passar o rádio e ver se ele ta lá, segura ai.

Rádio On

- Chefe?

...

- A patroinha ta aqui, cê ta em casa? Pode subir?

...

- Firmeza, jaé.

Rádio Off.

- Óh, ele disse pra sinhora segurar as pontas que ele ta vindo aqui, firmeza?

Assenti com a cabeça e então fiquei esperando ansiosa. Meu coração parecia que ia sair pela boca, estava tão acelerado, respirava fundo tentando me acalmar e não conseguia. Depois de alguns minutos vejo Magrão descendo da moto, involuntariamente abri um sorriso enorme, que saudade que eu tava dele.

- Oi meu amor. – disse já indo em sua direção e o mesmo levantou a mão mandando eu parar. – Que foi? – perguntei preocupada.

- Que cê ta fazendo aqui Elisa? – ele nunca me chamava pelo nome, estranhei.

- Vim te ver, falar sobre nosso filho. – meu coração tava mais acelerado que antes.

- Não precisa, eu já soube, a Rita veio me contar. Ela não falou que eu não te quero aqui? Uma mulher que não consegue nem deixar seu filho vivo serve pra que? Você matou meu filho, então some daqui, SAI, VAI EMBORA E ME DEIXA EM PAZ, NUNCA MAIS APARECE NO MEU MORRO SENÃO EU TE MATO, VOCÊ ENTENDEU? – diz gritando a última parte e me virando as costas. Me assustei, não entendi aquilo tudo, meu coração parou de bater, o que ele tava falando. Não era o meu Magrão, não era o meu Luís ali, não era.

- Para com isso, vamos conversar você não sabe o que passei. – fui até ele e segurei sua mão o fazendo virar pra mim já com a arma na outra mão. Ali sim meu coração parou de vez, arregalei os olhos pra arma e depois pra ele. Já não conseguia controlar minhas lágrimas, ele tava apontando a arma pra mim, ele nunca tinha feito isso.

- Eu tô falando pra tu sair daqui, sai antes que eu te meta bala, sai daqui Elisa. – apertei a mão dele com toda força que tinha, e então soltei. Fiquei paralisada olhando pra ele, enquanto virava e subia na sua moto dando partida pra subir o morro.

- E ai patroinha sinto muito ai hein, quer que eu te leve pra casa? Já ta tarde e é perigoso pra sinhora. – neguei com a cabeça e sai andando dali, meu tornozelo já nem doía mais, eu não conseguia sentir nada, só lembrar aquela arma brilhando e apontada na minha cara.

Fui andando até chegar a alguma praia maispróxima, já era de manhã. Sentei na areia e chorei tudo que podia chorar. Perdimeu filho, perdi minha mãe, perdi a mulher que me ensinou tudo e perdi o homem que eu amava, eu não tinha mais nada. Minha vida tinhaacabado ali.    

*

Não subi o morro, esperei minha patricinha ir embora pra trocar ideia com Jotinha. Voltei depois de alguns minutos e já fui tirando a arma e apontando pra cara dele:

- Você fica esperto hein, não viu, não sabe. Pra você e pra todo mundo do morro a Elisa morreu. Se tu soltar um piu de que ela ta viva e apareceu aqui, eu mato você e sua família sem nem pensar uma vez, moro?

Ele arregalou os olhos pra mim e só assentiu a cabeça.

Voltei pra minha moto e subi pra minha casa. Cheguei e vi Rita com meu filhote nos braços, apenas peguei ele e cheirei sua cabecinha e então me permiti a chorar, esse muleque era a cara dela, como eu ia sentir sua falta.

Depois de apontar a arma pra minha patricinha eu nunca mais fui o mesmo, piorei com o passar do tempo, me afundando cada vez mais em meus vícios. Até o dia da minha morte. 

HERDEIRODonde viven las historias. Descúbrelo ahora