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25 ANOS DEPOIS

Acordo cedo como sempre, nessa data é aniversário do meu filho. Olho no celular – 02 de Agosto, 05h46 - Levanto antes do meu marido e minhas filhas acordarem, faço minha higiene, coloco um vestido preto básico e uma sapatilha, desço na cozinha tomo um café preto já que nada mais desce. Pego o carro e dou partida em direção ao Rio, onde se encontra o túmulo do meu filho. 

Estou morando em São Paulo agora, depois de tudo não consegui ficar mais no Rio, era impossível. 

Meu pai nunca me contou o que houve com Rita, apenas dizia "ela foi embora, não aguentava mais você e seus dramas". Já não era suportável viver com meu pai, então pedi pra ir embora do Rio.

Depois de algumas horas chego ao Rio, e passo na padaria de sempre.

- Bom dia minha filha – Seu Zé, sempre muito educado. – Seu bolinho está pronto já, vou pegar pra você. – assenti.

Ele entrou e saiu com um bolinho pequeno, já com a vela.

Em todos esses 25 anos eu venho na mesma padaria, compro o mesmo bolinho com uma vela, vou ao cemitério e canto parabéns pro meu bebê. Seu Zé quando descobriu parou de cobrar os bolinhos.

- Mande meus parabéns pra ele – sorriu educadamente, devolvi o sorriso pegando o bolo.

- Obrigada Seu Zé, vou indo lá. Tenha um bom dia e até o ano que vem.

- Tchau minha filha, e até o ano que vem se Deus quiser.

Sai da Padaria e segui em direção ao cemitério, ele se encontrava enterrado ao lado da minha mãe, então eu aproveitava e conversava um pouco com os dois. Cheguei no mesmo e fui direto ao encontro deles.

- Bom dia meus amores, bom dia meu bebê. Olha seu bolinho, de chocolate pq eu sei que é seu favorito. – sorrio com lágrimas já nos olhos, acendo a vela e já começo a cantar. – Parabéns, pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida – engulo seco nessa parte e deixo as lágrimas caírem. – Viva ao Gui, viva ao meu Gui. – assopro a vela.

- São 25 anos meu amor, 25 e eu te amo mais que a mim, te amo mais que tudo. 25 anos sem nunca ter olhado seu rostinho ou se quer olhar em seus olhos, mas a mamãe te ama do mesmo jeito viu – sento no meio duas lápides. – O primeiro pedaço vai pra mamãe claro né, pq você não é nem louco de dar pra outra pessoa – solto uma risada leve com minhas palavras.

Começo a comer o bolinho pequeno, três a quatro mordidas e já finalizo.

- Oi mãe, desculpa, comi tudo e esqueci de você – acaricio sua lápide. – Não fica brava, o Gui deu pra mim – sorrio e mais lágrimas descem.

Continuo ali por mais algumas horas, falando o que aconteceu nesse ultimo ano, e o que pretendo fazer no próximo ano.

Olho no meu celular e vejo que já passa das 15h.

- Passei bastante tempo com vocês hoje hein. Infelizmente tenho que ir, já ta tarde e ainda tenho que voltar pra São Paulo. Eu amo vocês meus amores, fiquem bem e fiquem com Deus. Ano que vem eu volto com mais novidades.

Faço uma oração ajoelhada na frente das lápides deles, me benzo e saio. Entro no carro, seguro o volante com força e dou partida. E como sempre na volta eu sempre passava na frente do Morro do Alemão. Estacionava e ficava encarando a entrada por alguns minutos e ia embora. Eu jamais o esqueci, amava meu marido, mas não chegava nem perto do amor que eu sinto pelo Magrão, é vivo em mim até hoje, mesmo depois de 25 anos, mesmo depois dele ter apontado a arma pra mim mandando embora de sua vida, do seu Morro.

Dou partida e sigo de volta pra São Paulo, de volta pra minha realidade. 


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