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Chegamos em sua casa, ele abriu a porta e acendeu a luz, entrei bocejando e de olhos fechados. Quando abri os mesmos me deparei com algo que eu jamais acreditaria se me contassem.

- Você ta zoando né? – me aproximei passando a mão. – De quem é? Quando isso? – me viro espantada e ele apenas sorri.

- Comprei no mesmo dia que sai da sua casa. Comprei pra você cantar só pra mim. – corri e pulei em seus braços e o beijei.

- É lindo. Eu nunca ganhei nada assim. – já estava pronta pra chorar, ele havia comprado um piano de cauda branco.

Ele passou a mão no meu rosto, acariciando.

- E eu nunca dei nada assim pra ninguém, eu nunca me dei pra alguém como estou entregue totalmente a você.

Não pensei duas vezes e o beijei, com toda a vontade que tinha, com toda paixão e fogo que estavam dentro de mim. Ele logo parou o beijo e me convidou para tocar.

Me sentei em frente ao piano sorrindo que nem uma criança quando ganha aquela Barbie que tanto desejava, e comecei a tocar ...

Estava alguns minutos tocando quando ouvimos três fogos estourarem, Gringo arregalou os olhos e se levantou rapidamente já indo em direção as armas, já fiquei assustada e com medo, ele pegou a fuzil e sua arma e voltou até mim.

- O morro ta sendo invadido, quero que fique aqui, não saia por nada daqui, cê me entendeu? – não conseguia responder, apenas assenti.

Ele me beijou na testa e quando ia saindo segurei seu braço.

- Não vai, por favor. – já sentia as lágrimas pelo meu rosto. – por favor. – choraminguei mais uma vez.

- Eu preciso ir, relaxa eu vou voltar. – e ele se soltou da minha mão pequena, e eu corri até o sofá, me sentei no chão e me encostei no mesmo tapando os ouvidos e desesperada.

*


Só podia ser brincadeira, anos que não sofríamos uma invasão.

Sai e tranquei a porta, e quando ia abrindo o portão recebi três tiros, fui mais rápido e fechei na mesma hora, mas não consegui escapar de um dos tiros, pegou no meu braço de raspão. Esses filhos da puta não paravam de atirar, por sorte o portão era blindado.

Depois de um tempo ouvi mais alguns tiros e logo cessaram. Ouvi quatro batidas no portão e sabia que era Lipinho e que a barra tava limpa.

- Maluco são os verme que ta ai. – ele falava enquanto me deu a mão pra me levantar. – Cê ta bem mano? Pqp tu levou um tiro porra. 

- Relaxa to de boa, só to fodido agora pra saber como eles chegaram tão rápido na minha casa, como eles tinham a localização exata e subiram sem nenhum alarme. Tem X9 nessa porra e quem for vai morrer. – Lipinho apenas concordou.

Saimos de casa e fomos descendo o morro com cuidado, e trocando tiros com os merdas.

*


Ouvi vários tiros e estavam perto, corri pra porta e estava trancada e a chave não estava lá, comecei a bater na porta desesperada. Olhei pelo vidrinho que havia do lado da porta e vi Gringo sentado no chão com a mão no braço, estava escuro e não conseguia ver direito. Batia no vidro o chamando gritando e ele nem se quer olhava, os tiros não paravam e eu já estava louca. Depois de um tempo os tiros pararam e Lipinho entrou, me senti aliviada achava que já havia terminado, mas ele logo saíram e novamente já estava ali no chão aos prantos.

Horas se passaram e nada de Gringo voltar, eu já estava sem forças de tanto que já tinha chorado. 

Nenhuma notícia, nenhum sinal, já se passava das 3h da manhã.

Eu já havia tomado uma garrafa de café e fumado um maço quase inteiro de cigarro que eu escondia na minha bolsa para ocasiões de necessidades. Nesse momento eu me encontrava deitada no chão da sala, fumando mais um cigarro, as lágrimas não me acompanhavam mais.

Quando eu dei meu ultimo trago e joguei a bituca no copo com água que havia preparado exatamente pra isso, ouvi o barulho da chave na porta me levantei rapidamente e antes dela ser aberta completamente eu já estava ao seu lado e então ele apareceu com o braço todo sujo de sangue e eu nem me importei, o importante era que ele estava vivo e tinha voltado pra mim.

Pulei em seu colo e o abracei com toda força que tinha no momento que era pouca e voltei a chorar.

- Ei calma, eu to aqui. – ele me abraçou e subiu uma mão até meu cabelo fazendo cafuné.

- Você demorou, eu achei que tinha acontecido algo – falava entre soluços. – não faça mais isso, por favor.

Ele me colocou no chão, segurou meu rosto com as duas mãos, limpou minha lágrimas e me beijou, um beijo calmo e rápido.

- Eu to bem, eu voltei pra você do jeito que havia falado. – eu o abracei novamente encostando minha cabeça em seu peito.

Depois de alguns minutos assim lembrei que ele estava machucado.

- Você está machucado, onde fez isso? Vem, vamos limpar. – digo passando as mãos em meu rosto.

- Foi um tiro... – meu coração parou na hora e eu nem deixei o termina de falar.

- O QUE? VOCÊ TÁ BEM? COMO VOCÊ TÁ EM PÉ AINDA? – ele apenas riu e eu dei um tapa bem onde estava machucado. – VOCÊ RI DE UMA COISAS DESSAS.

- AI PORRA - se encolheu. - Eu to bem, foi só de raspão calma.

Subimos para o quarto e eu como uma boa enfermeira que não sou, devo ter só piorado o machucado. A sorte é que ele entendia dessas coisas e me auxiliou em tudo.

HERDEIROOnde histórias criam vida. Descubra agora