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Giovanna

Estou me olhando no espelho e quase não me reconheço, estou linda demais, não dá nem pra acreditar.

Carine está tagalerando alguma coisa na cadeira do lado e o cabeleireiro está se acabando de rir, me desliguei deles e todos que estão aqui por alguns segundos. Estou me olhando no espelho e vendo não apenas como estou linda, mas refletindo toda minha vida até aqui. Já estou com meus 33 anos e toda ela até agora foi muita loucura. Esses últimos treze anos em que moro aqui no Rio, mas principalmente os anos em que Guilherme está incluso, foram totalmente fora de controle. Mas agora tudo está normal e do jeito que acredito que deveria ser.

As vezes acho que não deveria ter saído de São Paulo e vindo pra cá, mas penso em como estaria minha vida sem a louca da Carine, minha linda afilhada, e sem ao menos ter sentido os lábios de Guilherme em mim, sem ter o experimentado. Eu teria passado tudo novamente, e jamais o deixaria se entregar para a polícia, se eu pudesse ter uma segunda chance teria feito diferente.

Olho para lado e dou risada de alguma piada que o maquiador soltou, mas paro assim que na TV começa a passar um plantão.

- Eita, que é babado. Aumenta que eu quero saber bixa. – o maquiador diz para o ajudante do cabeleireiro e ele pega o controle e aumenta.

- Estamos em frente ao presídio de segurança máxima, aguardando aos últimos minutos de Guilherme Silva cumprindo sua pena. Dois anos atrás houve uma nova audiência, e sua pena que era de trinta anos, diminuiu para dez anos. O Réu já havia cumprido oito anos quando o resultado saiu. – nesse momento o meu coração está quase saindo pela boca e eu não estou conseguindo respirar. – Guilherme, conhecido também como Gringo, era comandante do tráfico do Morro do Alemão, e ficou mundialmente conhecido por ser herdeiro também de uma das maiorias empresas que não age apenas no Brasil, mas como em vários países fora.

Porque hoje, porque isso tinha que acontecer hoje? Essa pergunta não sai da minha cabeça.

- Eita que babado, mas o bofe é o bofe viu. Eita homi lindo. – diz o cabeleireiro e o quase arranco seus olhos.

Meu ciúme está ativado novamente, ele voltou, mas me proíbo totalmente de senti-lo, estou com outro homem e não posso me permitir isso.

- Ele está saindo agora acompanhado de sua mãe, a arquiteta conhecida Elisa Riquiezzi e suas duas filhas. Vamos nos aproximar e tentar falar com ele. – a repórter fala e se aproxima a câmera vai direto nele.

Sinto um bolo na minha garganta, meus olhos estão cheio de lágrimas e estou segurando o máximo para não solta-las, pois sei que não irei conseguir parar. Ele está lindo, ele está mais lindo que antes se é que pode ser possível isso. Consigo sentir seu cheiro, consigo sentir seu gosto, seus toques, apenas de ver sua imagem o consigo sentir. Tento respirar fundo, mas falho miseravelmente, minhas lágrimas começam a cair uma atrás da outra e eu não consigo parar.

Olho pra Carine e ela está parada me olhando com cara de que não sabe o que fazer, mas não a culpo, eu também não sei. Me levanto e saiu correndo do salão de robe e tudo, o cabeleireiro e o maquiador gritam para eu voltar, saiu correndo entre as pessoas e todas me olham estranho, pois estou ainda com alguns bobs no cabelo e de robe.

Paro em frente a uma padaria e por sorte não tirei meu short e estou com dinheiro, compro um maço de cigarros e novamente coberta de olhares. Saiu de pressa e procuro um lugar pra poder me acalmar, encontro uma pracinha e lá me sento em um banco e acendo o primeiro cigarro.

Na primeira tragada, começo a tossir não fumo há anos. Continuo puxando como se minha vida dependesse daquilo, meu nó na garganta não se desfaz, minhas lágrimas ainda não pararam.

HERDEIROWhere stories live. Discover now