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Giovanna

Três meses se passaram três longos meses.

Não aconteceram muitas coisas, principalmente na minha vida que anda parada desde que Guilherme foi preso. Tentaram invadir o morro e não conseguiram, mas fiquei sabendo que Guilherme pagou caro por isso, numa das tentativas de ir visitá-lo com Elisa, ele estava todo machucado e nada me tira da cabeça que Murilo fez isso por não ter conseguido entrar no morro.

Tirando isso tentei ir visitá-lo várias e várias vezes, e ele se recusou em todas. No dia em que fui com Elisa quando me viu pediu pra ir embora, e saiu da sala sem nem mesmo falar com sua mãe. Ele arrancou toda esperança que eu tinha quando saiu por aquela porta, ele levou meu coração, pois até hoje não o sinto bater aqui dentro.

Hoje é o dia do seu julgamento, Murilo cumpriu o que disse, conseguiu que o julgamento saísse o mais rápido que ele pudesse.

Nesse momento estou trancada em casa, com tudo fechado, mal posso ver a luz do sol que me incomoda. Emagreci uns dez quilos, mal me reconheço na frente do espelho. Mas isso pouco importa pra mim, agora nesse momento só me importa ele. Me sinto culpada demais para me permitir viver como ele me pediu, mal consigo saber como ainda respiro. Eu nunca deveria ter aparecido em sua vida, maldita hora que me entreguei.

Está passando em todos os jornais, em vários canais, só se fala nisso. Eu espero de coração que Elisa consiga tira-lo de lá, ela está acompanhada dos melhores advogados, mas algo me diz que não será assim tão fácil.

Já se passaram horas que começou o julgamento e nenhuma notícia, já estou na metade da garrafa de seu whisky favorito. Tentei me manter sóbria, mas a ansiedade me comeu. Mais um pouco e eu enlouqueço.

Mais algumas horas e já estou quase no fim da garrafa, estou me segurando o máximo para não ficar inconsciente e ver o que aconteceu.

Alguma jornalista começa a falar sobre o fim do julgamento, pego o controle da TV e aumento o volume.

- Chega ao fim o julgamento de Guilherme Silva, mais conhecido como Gringo. Como já era previsto por ser um caso sem direito a fiança o julgamento seria de apenas um dia. Guilherme Silva, acusado principalmente de comandar o maior tráfico do Brasil foi condenado a trinta anos de prisão. – depois que ela fala isso já não escuto mais nada, apenas desligo a TV.

Me jogo no chão e todas aquelas lágrimas que haviam secado voltam com tanta força que mal consigo me mexer, só consigo chorar e chorar. Grito com toda força que tenho e tento colocar pra fora a imensidão dessa dor que estou sentindo, dessa culpa que estou carregando.

Como é que ele quer que eu viva depois disso? Como vou viver sabendo que ele está lá e a maior parte disso é minha?

Depois de um bom tempo me levanto e vou à cozinha direto na caixinha de remédios, não quero saber pra que são só quero que essa dor e essa culpa passe. Eu não suporto mais.

Começo a colocar alguns em minha boca e engulo com uma dose de whisky, repito isso mais uma três vezes e volto pra sala e me jogo no sofá já com a garrafa vazia. Parece não ter adiantado tomar, essa dor não está indo embora. Apenas um enjôo está vindo forte, uma ânsia. Mas não quero jogar pra fora.

Já não aguentando mais segurar corro em direção ao banheiro e jogo pra fora até o que não tinha em meu estomago. Me jogo no chão do banheiro que está gelado e é tudo que eu preciso agora.

Não sei por quanto tempo fico ali, mas preciso de um banho, estou fedendo. Me levanto e caminho para meu quarto, vejo meu celular vibrar e olhos na tela Carine está me ligando. Recuso a chamada e vejo que já me ligou umas 18 vezes, acredito que passei mais de duas horas deitada naquele chão do banheiro. Abro as mensagens e tem várias dela perguntando como estou e dizendo que passou aqui, mas não viu sinal meu e está preocupada. Agora agradeço por ter esquecido e nunca ter feito a cópia da chave pra ela. Apenas respondo que estou bem e que estava dormindo.

Deixo o celular de lado e vou direto pra de baixo do chuveiro com roupa e tudo ligo no frio e me sento no chão e novamente as lágrimas vêm e eu não consigo apenas parar. E novamente vem a vontade de gritar e colocar tudo pra fora e é o que faço, começo a gritar o mais alto que posso até minha garganta pedir pra parar.

- Eu não consigo, eu não aguento. – sussurro pra mim mesmo. – Volta pra mim, me perdoa.

Não sei mais quanto tempo fico embaixo do chuveiro, mas quando sinto que eu não aguento mais ficar naquela posição, com uma grande dificuldade me levanto, desligo o chuveiro e vou em direção ao quarto. Tiro a roupa molhada e me visto com um roupão.

Já estou praticamente sóbria novamente. Volto pra sala e me sento em frente ao piano que ele me deu, toco duas notas e as lágrimas já querem voltar. Respiro fundo, e então começo a tocar uma canção (música do vídeo). 

- Thought I found a way (Pensei ter encontrado um caminho)

Thought I found a way, yeah (Pensei ter encontrado um jeito, sim)

But you never go away (Mas você nunca vai embora)

So I guess I gotta stay now (Então eu acho que tenho que ficar agora)

Sinto algumas lágrimas cair, as seco e volto a tocar.

- Oh, I hope some day I'll make it out of here (Oh, espero que algum dia eu consiga sair daqui)

Even if it takes all night or a hundred years (Mesmo que demore a noite toda ou cem anos)

Need a place to hide, but I can't find one near (Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar um perto)

Wanna feel alive, outside I can fight my fear (Quero me sentir vivo, não consigo enfrentar meu medo lá fora)

Isn't it lovely, all alone (Não é adorável, ficar sozinho?)

Heart made of glass, my mind of stone (Coração feito de vidro, minha mente de pedra)

Tear me to pieces, skin and bone (Rasgue-me em pedaços, pele e osso)

Hello, welcome home (Olá, bem-vindo ao lar)

Walkin' out of town (Andando fora da cidade)

Lookin' for a better place (Procurando por um lugar melhor)

Something's on my mind (Algo está em minha mente)

Always in my headspace (Sempre no meu espaço vazio)

Olho para o canto da sala e o vejo perfeitamente lá, sentado no chão com seu copo de whisky como ele costumava fazer quando eu tocava. Sentava-se no chão encostado na parede, bebericava seu whisky e ficava me olhando e sorrindo, podíamos passar horas daquele jeito.

Olho o canto da sala e lá está ele sumindo aos poucos, levando com ele tudo de bom em mim.

- Por favor não vá, fica comigo.

Posso ouvir claramente sua voz.

- Não posso você me colocou lá.

- Me perdoa, ME PERDOA. – coloco uma de minhas mãos em minha boca e a mordo, tentando controlar meu nervosismo.

Me deito no banco do piano e entre lágrimas e soluços, adormeço. E nos meus sonhos o tenho ao meu lado. 


    –    

Gente, tentei postar mais cedo, mas estava dando erro no site.

Enfim é isso, bjkinhas e obrigada.

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HERDEIROWhere stories live. Discover now