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Guilherme

Um mês que estou nesse inferno, e vou confessar que não está sendo muito fácil. Murilo parece fazer de tudo para piorar minha situação aqui.Por sorte cai em uma cela onde tem muitos aliados, mas faço de tudo para que não deixe chegar aos ouvidos do infeliz que me colocou aqui. 

Desde que entrei aqui arrumei três brigas nos primeiros dias e a última briga o cara foi parar no hospital, e por conta disso estou a 16 dias na solitária e nada me tira da cabeça que é obra de Murilo. Bom, pelo menos aqui fico sozinho, a única coisa ruim é a comida, se na cela já é ruim, aqui na solitária é bem pior. Por sorte o carcereiro que fica de vigia durante o dia até que é legal. Trocávamos algumas palavras e ele me mantinha informado sobre algumas coisas.

Desses 16 dias em que estiver aqui dentro, apenas sai para fazer uma coleta de sangue, que até agora não sei o que significava. Provavelmente alguma ideia louca de Murilo, deve estar querendo me incriminar mais do que já conseguiu, pois meu julgamento ainda não saiu e tenho a plena certeza que ele está fazendo tudo para acelerar o procedimento e me deixar aqui mais tempo que ele conseguir.

Ninguém veio me visitar e eu até agradeço, apenas queria ver Filipe pra saber como está todos e principalmente minha Pequena, mas acho melhor que eles nem venham e Murilo continue com sua parte no trato e os mantenha afastados de qualquer suspeita.

Estava sentado naquele chão podre onde passavam ratos e baratas, fazendo a única coisa que tinha pra fazer, exatamente, nada.

Ouço batidas na porta, bom provavelmente deve ser Jorge, o carcereiro. Me levanto e me sento próximo a porta.

- Diga seu Jorge. – me pronuncio.

- Então, tem uma visita ai. – me levanto imediatamente. Deve ser Lipinho.

- Você sabe me dizer quem é?

- Não. Vou abrir a janela, então coloque suas mãos para que eu possa algemar e te levar até lá. – e assim ele faz, abre um tipo de janela que fica na porta por onde recebo a comida e assim que abre coloco minhas mãos para fora para ser algemado, logo ele abre a porta por inteira e assim que o vejo lanço um sorriso sem mostrar os dentes em forma de agradecimento.

Saiu da cela e antes de seguirmos caminho ele ainda algema meus tornozelos. Ele vai me guiando e quando chegamos ao final do corredor há um policial.

- Pode deixar que eu o levo a partir daqui. – o carcereiro apenas assentiu e o policial me puxa pelas algemas e depois me empurra pelas costas me fazendo andar. Filho da puta.

Vamos seguindo até uma sala, por ser um preso "nada comum" sendo considerado perigoso, logo eu, um anjinho; minhas visitas são feitas em uma sala e do lado de fora fica dois policiais.

O que está me acompanhando abre a porta e me faz entrar e me manda sentar na cadeira, e ele fica atrás de mim encostado na parede. Começo a bater o pé impaciente, que demora da porra.

Alguns minutos se passam e a porta se abre, mas a primeira pessoa a entrar faz com que eu trave meu maxilar e queira voar da cadeira para enforcá-lo com as mãos.

Murilo.

Mas ele está sorrindo de forma muito amigável, não é ele que veio me ver.

Ele dá espaço para outra pessoa entrar e meu coração falha por uma batida, quando vejo a figura daquela coisa pequena entrando. Quero rir, pois ela está com a cara fechada e tenho a plena certeza que se tivessem balas em seus olhos Murilo estaria morto pelo modo que ela o encara.

Como senti a falta desse seu mal humor, principalmente pelas manhãs, ou quando estava com fome e praticamente queria quebrar a casa porque não tinha o que comer, na verdade, ter tinha, ela que não queria fazer.

Me levanto assim que ela me olha.

Passo meus olhos por seu corpo, ela está mais magra e suas olheiras, estão profundas, quero acreditar que não sou o responsável por isso.

- Pequena. – sussurro mais pra mim do que pra ela.

Quando ela faz menção de vir me abraçar, dou um passo a frente, mas Murilo a puxa pela cintura e o policial que antes estava encostado na parede passa o cassetete pelo meu pescoço me puxando. Giovanna arregala os olhos em desespero.

Ele a segura pela cintura e leva a mão segurando sua mandíbula, e fala bem perto de seu ouvido olhando pra mim, apenas para provocar.

- Minha Pequena. – eu quero apenas explodir a cara desse filho da puta. – Sem encostar nele, ta bom? Assim vou ficar com ciúme. – ele gargalha e vejo lágrimas se formarem em seus olhos, e a mesma deixa uma escapar e logo assenti.

O Policial que me segurava me põe de volta sentado na cadeira e dou uma leve tossida recuperando o fôlego. E assim que sento ele a solta e ela vem em direção a mesa e se senta do outro lado, ficamos alguns segundos nos encarando. Eu quero apenas sentir seu toque e eu cheiro.

- Pode sair. – Murilo diz ao policial que logo se retira. E então ele se encosta na porta. – Vocês não vão conversar? Por favor, finjam que eu nem estou aqui. – sorri e eu quero apenas arrancar e fazer ele engolir todos os seus dentes brancos.

- Você vai ficar ai o tempo todo? Não vai nos dar privacidade? – Giovanna se vira pra trás para encará-lo.

- Giovanna, você tem sorte de eu estar deixando você ver ele. Quer ainda que eu saia e confie você nas mãos desse bandidinho? Nunca. – ele cruza os braços e ela bufa.

Ela se vira pra me olhar e põe as mãos em cima da mesa e as apertas, vejo que está nervosa.

- Desculpa. – ela sussurra. E eu nego, ela não tem a menor culpa.

Tudo que ela fez foi amar a pessoa errada. E agora a vendo aqui com quilos a menos, olheiras profundas e tendo que pedir favores ao Murilo vejo que tenho que afasta - lá de mim o mais rápido possível. Não poderia deixar presa a mim, eu nem sei quanto tempo ficarei aqui e pra falar a verdade sei que vai ser muito tempo, Murilo com certeza está cuidando para que eu fique no mínimo uns 30 anos. E ela tem que viver sua vida, longe disso, longe dele, e por mais que eu não queira longe de mim.

Que vida daria a ela? Vindo me visitar aqui, sendo mulher de bandido que passa horas na fila de visita num domingo a tarde para ver seu namorado, marido, amado. Sem poder te dar uma vida digna que ela merece. Giovanna sempre gostou da liberdade e eu a privei muito disso, então agora estou disposto a te dar mais que isso, vou fazê-la se livrar de mim.

Agora mais do que nunca eu preciso ser o Gringo, o dono do Morro, o cara que matou o pai e torturou e matou diversos homens. E não o Guilherme que é completamente apaixonado por essa baixinha e que daria o mundo para ver apenas seu sorriso.

O celular do embuste começou a tocar e o mesmo atendeu rápido.

- Olha que sortudos, terei que dar uma saída. Mas Giovanna, qualquer coisa que esse marginal fizer, você grita, o policial está aqui na porta. Tá bom meu anjo? – ela revira os olhos. E assim ele se vai.

Continuamos nos olhando por alguns segundos e respiro fundo. É agora, agora que eu preciso tirar ela de vez da minha vida. 

HERDEIROTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang