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Gringo tinha acabado de sair, não nos beijamos mais nem nada. Subi e tomei um banho sem querer tomar, pois seu cheiro estava em mim. Me visto e assim que desço pra sala o interfone toca. Era Murilo. Sinto o suor frio escorrer pelo meu rosto.

'Puta que pariu, por pouco merda'.

Antes mesmo de eu abrir a porta, ele faz o favor e entra todo sorridente.

- Oi amor – me dá um selinho.

- Oi Murilo – respiro fundo e aliso o braço como se estivesse com frio.

Ele senta no sofá, franze o cenho e me olha desconfiado.

- O que aconteceu?

- Como assim? Nada ué.

- Você ta estranha. – ele olha pra frente, pro painel da TV onde embaixo se encontra um pequeno raque com alguns livros, o home theater e o roteador.

Sigo até o sofá pra me sentar ao seu lado e conversar sobre nós quando ele se levanta pega algo no raque e aponta pra mim.

- De quem é esse relógio?

Ainda estou em pé e pela cara dele eu me entreguei fácil.

- É dele né, você passou a noite com ele não foi? Por isso me mandou mensagem dizendo que não ia mais pro bar porque Carine estava passando mal, bem que desconfiei, mas sou BURRO em confiar na minha própria namorada.

- Não foi bem assim Murilo, me escuta.

- Vai a merda Giovana, você merece esse bandidinho de merda, merece se afundar com ele, é da mesma laia, merece morrer com um tiro na cara ou espancada, pois é isso que vai acontecer com você. – ele diz e simplesmente sai batendo a porta com força me fazendo levar um pequeno susto. 

Me encontro no meio da sala olhando pra porta e depois de alguns segundos me lembro de respirar. Me abraço não por frio, mas por estar me sentindo péssima em relação a isso. Eu nem consegui dizer nada, eu nem tinha o direito de dizer na verdade, estava errada. Respirei fundo e fui na cozinha preparar um copo de água com açúcar, tava tremendo de tão nervosa que tava depois disso tudo.

Gringo saiu de casa faltava pouco pras 16h, ri com meu pensamento lembrando quando disse que pra ele ir embora as 16h da tarde no carro. Depois que Murilo foi embora fiquei um tempo sentada no sofá com o relógio de Gringo nas mãos.


*

Voltei feliz pro morro, sabia que Giovana ia voltar pra mim e agora ia ser só minha e não deixaria ninguém encostar nela. Nem aquele merda.

Logo que Carine e Lipinho saíram pra "dançar" eu percebi que era um plano deles, até por que quando Carine saiu piscou pra mim. Ela é mais filha da puta do que eu pensava.

Cheguei no Morro e subi direto pra boca. Estaciono o carro e saiu com os cara tudo me olhando por estar de social.

- E ai, olha chefe, todo engomadinho – Perninha fala rindo.

- Koé chefe, virou do asfalto – VG entra na onda e os outros ficam tudo dando risinho solto.

- Vão trabalhar seus vagabundos, o próximo que falar algo vai lá pro quintalzinho ou pra grade. – sorriu brincalhão. Eu era chato, mas sabia ter meus momentos.

- Oi Gringo, você ta perfeito assim. – Marcela me olha da cabeça aos pés, morde o lábio sorrindo e pisca pra mim.

Balanço a cabeça como se agradecesse e vou entrando e escuto baixo.

- Coitada de você Cela, achando que o Gringo vai olhar pra você. Anota ai que tem patroinha na área. – e escuto risadas altas.

Entro na minha sala e avisto Lipinho sentado na minha cadeira anotando algumas coisas no caderno.

- E ai viado. – levanta o olhar.

- Quem é vivo sempre aparece hein, achei que não ia voltar mais. – abre um sorriso largo. – Como foi lá?

- Ela vai voltar pra mim. – digo confiante.

- Senti firmeza – faz toque comigo.

- Vou lá em casa tirar esse grude e já volto ai.

- De boa chapa. – faz hang loose.


*


A semana estava passando lentamente, troquei algumas mensagens e ligações com Gringo. Tudo estava indo bem entre  nós, não nos vimos deste então, mas provavelmente sábado estarei lá no Morro. Deve ser por esse motivo que a semana não passava, estava ansiosa.

Na manhã de quinta feira recebi uma ligação de Murilo pedindo pra me encontrar, fiquei surpresa achei que por conta do que aconteceu no sábado ele não iria mais olhar na minha cara, bem estava esganada. 

Estava sem cabeça pra ele no momento, mas aceitei o convite. No almoço ele veio me buscar e me levar no mesmo restaurante que almoçamos alguns meses atrás. O caminho todo nos mantemos calados.

- Boa tarde, vocês tem reserva? – uma moça muito bonita e elegante pergunta.

- Sim, Murilo Zarsen, uma mesa pra dois.

- Ah, certo. Por favor me acompanhe. – ela sai na frente e a seguimos até uma mesa.

Me sento e Murilo se senta na minha frente, nos encaramos por longos segundos e aquilo tava me deixando agoniada e resolvo abrir a boca.

- Bom Murilo, acho que te devo um pedido de desculpas por...

- Não Giovana, eu te entendo e perdoou por isso, na verdade eu que quero me desculpar pela maneira como te tratei, foi bem baixo e ridículo da minha parte, espero mesmo que me perdoe e podemos pelo menos continuar amigos, gosto muito da sua companhia. Sempre soube dos seus sentimentos que não eram pra mim e não seria justo te acusar de algo que estava na minha cara e eu no caminho atrapalhando. – ele me interrompe e desabafa.

Arregalo os olhos levemente, esperava que ele pegaria os sushis molhasse no shoyu e enfiasse nos meus olhos, ou sei lá, tacasse a barca na minha cabeça, pegasse um pedaço de sashimi grande e desse na minha cara, mas não esperava que ele fosse me pedir desculpas. Desculpas não, perdão. 

Olhei por longos segundos seus olhos e me parecia ser sincero.

- Não tenho o que te desculpar, eu jamais fiquei com raiva de você, entendo perfeitamente que foi raiva, coisa de momento, te conheço e sei que jamais falaria tais coisas. – sorrio sincera. – E outra, eu que deveria me desculpar né, mas sim, eu topo ser sua amiga.

Ele abre o maior sorriso que já vi, pega minha mão e beija. Encosta as costas da minha mão em sua bochecha parecendo uma criança.

- Obrigado chatinha. – mostro a língua e rimos.

Bom , o restante do almoço foi ótimo, conversamos e chegamos a conclusão que éramos melhor amigos do que namorados.  Inclusive disse que até queria ir no Morro conhecer já que nunca tinha ido em um, e prometi que o levaria em um baile. 

HERDEIROOnde histórias criam vida. Descubra agora