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Faz um semana que estamos aqui e bom, morar na favela não era bem o que pensei. Achava que todos se davam bem e essas coisas, mas estava bem enganada. 

Estava descendo, passando por um beco para cortar caminho para a lojinha que Carine e eu estávamos prestes a abrir quando três mulheres aparentemente da minha idade entram na minha frente. 

- Olha Raqueli e Luiza, se não é a patricinha. - revirei os olhos.

- Com licença. - tentei passar porém as mesmas me barraram.

- Você não acha que tá no lugar não flôrzinha? Seu lugar não é aqui não, nem sua lojinha de merda, rala daqui antes que eu faça esse favor pra você. 

- Meu anjo, se eu pudesse nem estaria aqui, ok? Agora deixa eu passar que eu tenho mais o que fazer. - novamente fui barrada.

- OLHA COMO VOCÊ FALA COMIGO SUA VADIA. - e lá veio o primeiro tapa na cara.

Por impulso a empurrei e a mesma caiu no chão, quando ia pra cima dela senti meus braços serem segurados. Tentei sair, mas as putinhas eram mais fortes que eu. 

Então a bruaca que estava no chão se levantou rindo e veio já desferindo um soco na minha cara, outro e outro, perdi as contas de quantos foram. Até que ela pegou uma faca e começou a me cortar, foram pernas, barriga, braços, já estava perdendo as forças quando ouço uma delas.

- Pega a tesoura, é hora desse loiro falso de farmácia. - levantei a cabeça e olhei pra ela rindo ainda, pois eu estou no caixão, mas não perco a piada. 

- Falou a ascendente de alemãs, te perderam por aqui resto de aborto? 

- CALA A BOCA SUA DESGRAÇADA - bateu em meu rosto com a tesoura fazendo um corte na minha bochecha. - É hoje que tu volta pro lugar de onde veio, e avisa pra sua amiguinha que o caminho dela é o mesmo. Sorte dela que não estava aqui. - pegou meu cabelo em um rabo de cavalo e quando ela passando a tesoura ouvi um tiro.

No mesmo instante as outras duas me soltaram, cai com tudo no chão. Sussurrei um Graças a Deus, pois eu já não suportaria mais um tapinha se quer. 

- QUE PORRA É ESSA AQUI? - me arrepiei da cabeça aos pés, e sabia muito bem quem era. 

- Gringo, el.. ela, ela que começou. - olhei pra cara da desgraçada que disse isso, e minha vontade era de pegar a arma do Gringo e dar um tiro no meio da testa de Rihanna dela. Escrota. 

- Não quero saber quem começou. - ele puxou o rádio e mandou alguém subir com o carro até onde estávamos. Elas começaram a chorar desesperadas. 

- Por favor, por favor... perdoe nóis. - se ajoelharam as três nos pés dele. Ele começou a rir e sim, isso me assustou pra caralho, era uma risada que deixaria qualquer um apavorado. 

- Eu mandei vocês encostarem o dedo em mim? - pegou a arma e elas na mesma hora foram pra trás. - Vocês estão mais que cansadas de saber que eu odeio esse tipo de comportamento no meu morro, principalmente com quem é de fora. E pra completar, alguém que está comigo.

- A gente não sabia Gringo, desculpa, perdão, perdão. - só vi ela indo parar no chão com o tapa que ele deu em seu rosto, logo pegou ela pelo pescoço e a levantou. - Eu... não... não... respi...rar.

Mas isso era verdade, acredito que mais da metade do pessoal do morro não sabe sobre nós dois. Além de seus amigos e os que estavam naquela festa, pois ele nunca saiu comigo. Sabem da Carine, pois a mesma faz questão de sair desfilando pelo morro em cima do Lipe, coisa que eu não consigo ter essa intimidade pública com o Gringo. Ele parece não gostar desse tipo de coisa. 

- Ótimo, não é mesmo pra conseguir respirar. Eu nem preciso perder meu tempo pra explicar o que vai acontecer né, espero que se divirtam. - ele soltou ela fazendo a mesma cair.

Dois carros pararam e desceram quatro caras, dois de cada carro com seus fuzis e armas.

- Coé chefia. - falou um deles com um sorriso de que estava se divertindo, ele era todo tatuado e ostentava vários cordões de ouro. 

- Leva essas vadias, já sabem o que fazer. Deixa um carro aqui, preciso levar a Giovanna pra casa. Junin, fica comigo. O outros levem as três. 

- Certo. - e assim eles foram, e sumiram levando as meninas. 

Gringo se aproximou me pegando no colo, entrou no carro no banco traseiro e me deixou em seu colo. Junin acelerou em direção a casa dele.

Chegando lá ele entrou e me colocou no sofá, em nenhum momento me perguntou nada. Parecia estar nervoso e eu estava realmente com medo, nem sentia mais as dores dos cortes e dos murros. 

Ele discou um número rápido e logo começou a falar com alguém.

- Oi doutor Maurilio, sou eu ... Sim, preciso que venha o mais rápido possível ... Obrigado.

Pegou o radinho e mandou chamar o Perninha, ficou andando de um lado para o outro. Os minutos se passavam e ele não olhava pra mim e eu não conseguia nem se quer falar uma palavra, estava muito tenso. Ele foi até o bar que tinha na sala e se serviu de uma dose de whisky, e assim repetiu mais umas três vezes até que a porta foi aberta e Perninha passou por ela, estava sério e parecia estar com receio de algo.  

Grindo simplesmente tacou o copo nele, ele desviou e por pouco não pegou nele. E quando pisquei Gringo já estava dando um soco na cara do Perninha, depois pegou pelo pescoço e o enforcou. 

- QUE PARTE DE CUIDAR DELA VINTE E QUATRO HORAS POR DIA VOCÊ NÃO ENTENDEU SEU MERDA? FORA E DENTRO DESSE MORRO, VINTE E QUATRO HORAS. - o soltou e Perninha começou a tossir e alisar o pescoço. - Eu te dei uma simples missão, e hoje ela quase morre na mão da Michelle, Riqueli e Luiza, PORRA. 

- Chefe, deixei claro para os meninos que era pra ficar de olho nela o tempo inteiro. Não sei o que aconteceu, mas isso não vai mais acontecer. 

- Parece que eu tenho que fazer tudo nessa porra, pode chamar todos que você colocou de vigia nessa porta que eu quero conversa um por um e eles vão ver que eu não estou brincando. 

- Guilherme. - ele virou e pela primeira vez desde o beco ele olhou pra mim. - A culpa é minha, eu pedi pra eles não me acompanharem, eu não gosto disso, de alguém atrás de mim. 

- Não tem que gostar, olha o que te aconteceu. PORRA GIOVANNA, falei pra você que tem um X9 dentro do morro e não posso deixar você um minuto se quer sem estar te vigiando. Não até eu saber quem é esse caralho. 

- Desculpa.

- Mesmo assim Perninha, quero todos. Explicar que não é ela quem dá as ordens, sou eu. Se eu mandar fazer uma coisa é pra fazer. Se eu mandar comer bosta, vai comer nesse caralho. - Perninha apenas assentiu e saiu.

Gringo se sentou no outro sofá e ficou me encarando e eu queria apenas ser engolida pelo sofá, até ser salva pelo congo, ou melhor, médico. 


HERDEIROWhere stories live. Discover now