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Acordei e ele não estava mais na cama, fiquei fitando o lado da cama que ele dormiu e me castigando mentalmente pela noite anterior. Como é que o cara aponta uma arma na minha cara, me joga no chão e me expulsa da casa dele e eu ainda tenho cara de pau de dar pra ele, não só uma, mas três vezes numa noite só. Eu só posso tá pagando pelos meus pecados, eu devo ser muito otária mesmo. 

Afundo meu rosto no travesseiro abafando um grito de raiva, por que sim, eu estava com raiva de mim. 

Me levantei, amarrei meu cabelo num coque mal feito. Eu ainda tava pensando sobre o que ele disse de saber falar inglês e espanhol. 

Entrei no quarto que estavam minhas roupas e peguei meu celular, já eram 13h21. Desbloqueei e vi várias mensagens perguntando como tava, esqueci totalmente de avisar ao pessoal que eu estava bem e que transei loucamente pela casa inteira com o louco que apontou a arma pra mim, hehe. Respondi as mensagens e disse que depois explicaria tudo. Inclusive me deparei com uma mensagem do Murilo pedindo desculpas e perguntando se estava bem, sorri com aquilo, e respondi que estava sim e respondendo que sim, podíamos nos encontrar durante a semana.

Desci as escadas e não vi ninguém:

- Gringo – gritei e me apareceu uma mulher de meia idade, aparentemente com uns 50 anos.

- Oi minha filha, você deve ser a Giovanna né, prazer em te conhecer, eu sou a Marta – ela estendeu a mão e sorriu carinhosamente.

- Sim, eu mesmo, prazer – devolvi o sorriso e apertei sua mão. – Cadê o Gringo?

- Ah, ele foi na boca, mas disse pra deixar seu café da manhã preparado, ta aqui já viu. Como era só você eu deixei no balcão, mas se quiser arrumo a mesa pra senhora.

- Nossa, não, por favor, nem se incomode comigo e pelo amor de Deus, me chame de você. Eu que devo respeito pra senhora – sorri educadamente.

- Venha então – ela retribuiu o sorriso. – Você é a primeira garota que eu vejo nessa casa, sabia?

- É sério? O Lipe já tinha falado, mas eu não levei muito a sério. - vou aproveitar que ela tem cara de que adora falar pelos cotovelos e saber mais sobre o Gringo.  Me sentei no balcão e peguei um pãozinho e me servindo de suco de sei lá que era. 

- Me fala mais um pouco dele, ele não me fala muitas coisas.

- Bom, ele é um bom rapaz, foi criado com muito amor pela Rita, que Deus a tenha – olhou pra cima e se benzeu. – Depois que ela se mudou me tornei amiga dela, eu já trabalhava aqui na época, com o pai do Gringo. A mãe dele morreu no parto, seu pai não aceitou muito bem a morte dela, nos primeiros anos de vida do Gringo ele até tratava bem o garoto, mas quando ele começou a perguntar da mãe, não sei o que aconteceu com o Magrão, começou a ficar louco, espancava o moleque, até cigarro apagava no menino. Rita fazia o máximo que podia para proteger o menino, mas não era muito. Então tenha paciência com ele, é um bom garoto, só que as vezes se perde. E eu sei que ele gosta de você, principalmente porque te trouxe até aqui e ainda tu dormiu no quarto dele né – ela soltou um sorrisinho me fazendo virar um pimentão. – Rita o educou muito bem, como um príncipe, ensinou a como se comportar em várias coisas essas frescuras de rico sabe e eu perguntava pra que era aquilo e ela dizia que era porque ele ia sair daqui um dia e se tornar alguém importante que aqui num era lugar dele, ele estudou em escola particular a pedido dela e até essas línguas estranha ela ensinou o menino e parece que ele fala bem viu, mas claro que Magrão estragou o menino com a loucura dele, ensinou ao menino a atirar, a matar, a torturar quando o pobre só tinha 16 anos, e colocou pra trabalhar na boca com ele. E depois piorou com a morte da Rita, ai que ele se perdeu mesmo – ela abaixou a cabeça balançando negativamente.

HERDEIROWhere stories live. Discover now