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Giovanna

Exatamente um mês que não sabemos nada sobre Guilherme, nem ao menos se está vivo. Essa parte é exagero da minha parte já que seu advogado nos deixou a par de quase tudo, mas é como se não soubéssemos. Não podemos ver ele, nem Lipe conseguiu.

Está sendo difícil, voltamos a morar no condomínio, mas juntei o dinheiro que tinha e pedi ao meu pai uma quantia emprestada para comprar uma casa pequena e confortável no mesmo, para deixar Carine e Lipe com a privacidade deles. Bom a casa tem uma enorme sala, com dois quartos com suíte, um cozinha um tanto moderna e pequena, e uma área de lazer com jardim e uma pequena piscina, isso eu não deixaria nunca de ter.

Eu acreditei que tudo logo se resolveria e o teria de volta e voltaríamos pro Morro, mas o advogado de Guilherme nos aconselhou a não colocar tanta fé, pois o caso estava mais complicado do que aparentava, desde então eu não durmo, não como, não vivo e a cada segundo do dia me sinto mais e mais culpada.

Lipe voltou no Morro apenas para buscar nossas coisas, não nos deixou ir, pois eles ainda estão em alerta de invasão. Só pedi para que me trouxesse meu piano, era a única coisa que eu queria daquela casa.

Eu preciso ver ele, preciso sentir ele, preciso sentir seu cheiro e saber como está. Por isso há alguns dias cometi a loucura de entrar em contato com Murilo, ele é o único que poderia me levar até o Guilherme. E bem, agora estou aqui no presídio junto a Murilo prestes a entrar na sala onde irei vê-lo, nem Carine, Lipe ou o advogado sabem que estou aqui.

Murilo está agindo como uma criança que ganhou doce, eu não sei se é porque ele prendeu Guilherme, mas ele está me irritando demais. Como é que eu namorei com ele? Me chamando pra jantar, como se eu fosse aceitar sair com esse louco. Tudo que eu quero é esmurrar sua cara, e quase faço quando ele abre uma porta e eu entro, mas quando me deparo com Gringo esqueço que existe um mundo ao meu redor e quando vou a sua direção para abraça - lo Murilo me puxa com tudo, e aqui está o verdadeiro Murilo, isso me faz querer desmoronar, pois por minha culpa, só minha isso está acontecendo.

Quando sento em sua frente reparo bem nele. Rasparam seu cabelo, mas deixaram a barba. Ele com certeza está bem mais magro, suas olheiras estão profundas demais e seu cheiro não é tão agradável, o que me faz acreditar que ele não vem nem se quer tomando banho. Isso aperta meu coração de tal maneira que quando percebo estou desmoronando em lágrimas.

- Giovanna. – e só de ouvir sua voz rouca meu choro triplica e tampo a boca tentando controlar minha respiração, tentando parar de chorar. Mas está impossível ao ver ele nessa situação.

- Me perdoa pelo amor de Deus, me perdoa. – estico minha mão para pegar na sua e ele simplesmente retira suas mãos que estão algemadas de cima da mesa e coloca em seu colo. Só com esse ato parece que ele enfiou mil facas em meu coração.

- Presta atenção no que vou te dizer agora. – apenas assinto, minhas mãos estão tremulas e mal consigo controlar minha respiração, mas tento ao máximo parar de chorar e prestar atenção no que ele irá falar pode ser algo importante para eu fazer. – Quando sair daqui hoje, quero que me prometa que vai viver sua vida e vai me esquecer. Esqueça tudo que vivemos tudo que já te disse até hoje. Quero que volte pro seu trabalho, volte a sair, encontre alguém bom e o ame, namore, case, tenha filhos, seja feliz. E nunca mais volte aqui. Por favor me prometa.

Eu acho que não ouvi bem o que ele me disse.

- O que? – pergunto para ter certeza.

- Vamos Giovanna, você escutou muito bem.

- Eu... eu... não posso. – aperto minhas mãos com força para controlar a tremedeira e o choro que consegui até controlar, mas está querendo voltar mais forte do que tudo.

Porque ele está fazendo isso?

- Porque está me dizendo isso Guilher...

- Gringo, pra você é Gringo. – me interrompe e me espanto com tanta frieza.

As lágrimas voltam mais uma vez.

- Eu te amo. – ele abre um sorriso debochado.

- Ok.

- Para com isso, você me ama, você disse. – me levanto parando do seu lado, segurando seu rosto.

Encosto minha testa na sua e quando vou lhe beijar ele sussurra.

- Como posso amar alguém que me colocou aqui? – meu coração falha, abro a minha boca.

Quero gritar, mas não sinto a minha voz vindo. Está doendo demais, está me faltando ar. Ele fecha as olhos com força, vira seu corpo em minha direção e segura meus pulsos com força.

- Por favor Giovanna, me prometa que vai sair daqui e vai viver uma vida tranqüila e vai me esquecer.

- Não posso. – isso sai como um sussurro.

- DROGA GIOVANNA. – ele me empurra e se levanta atrapalhado por estar algemado também nos tornozelos.

- Porque está fazendo isso?

- Eu não te amo, olha o que você fez com a minha vida, por sua culpa estou aqui, tem 16 dias que estou na solitária sem comer direito e sem um banho digno, será que você é cega ou o que? Vai embora e não volta nunca mais. POLICIAL. – ele vai em direção a porta e bate, logo o policial a abre.

- Não, não, não... por favor.

- Me leva embora.

O policial abre a porta dando passagem pra ele, e antes que eu diga mais alguma coisa ele simplesmente se vai. Vejo a porta se fechar e não sei o que fazer, estou completamente perdida.

Eu não consigo acreditar em suas palavras, eu não consigo aceitar. Mas a dor está aqui, eu a sinto, mas as lágrimas não. Elas pararam. Minha cabeça está pesando, e parece que meu coração está sendo esmagado, mas não estou conseguindo colocar isso pra fora. Então em passos pequenos vou saindo da sala e vou seguindo pelo caminho que Murilo me trouxe. Parece que estou em outra dimensão, não escuto nada além da minha respiração. Parece que meu coração parou de bater.

Continuo meu caminho até sair na rua, quando chego lá lembro que vim com Murilo e não tenho carro para voltar já que não sei onde o mesmo está.

Olho pro céu e sinto algumas gotas da chuva que se preparou a manhã toda para cair.

Acho que Deus está chorando por mim.

Respiro fundo e fico parada em frente ao presídio esperando mais pingos, mais alguns minutos e a chuva vem forte, alguns minutos e já estou encharcada e junto com as gotas minhas lágrimas vem, mas vem silenciosas.

Ele pode achar que acreditei nisso tudo, mas nãovou desistir, não quando ele disse me amar. 



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Por hoje é só xuxus, bjkinhas :*

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