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4 MESES DEPOIS

As coisas andavam bem no morro, bem até demais pro meu gosto. Os policiais não tentaram mais invadir, coisa que estava achando bem estranha. Não achamos ainda o X9, e nesse tempo outros dois morros tentaram invadir, mas não conseguiram nada. 

Giovanna estava até se comportando nesse tempo, depois da surra que ela levou acho que entendeu que o que eu estava tentando fazer era simplesmente cuidar dela. E eu sei disso porque comigo foi a mesma coisa, não me aceitavam bem por ser filho de "uma de fora", mas fui conquistando o pessoal aos poucos. 

Estava na cozinha tomando meu café, quando vejo uma coisinha pequena entrando.

- Eu quero aprender a atirar. – Giovanna entra na cozinha me olhando e segurando minha arma.

Olhei pra mesma com o cenho franzido me questionando o que eu tava criando ali. Peguei a arma da sua mão, coloquei na mesa e voltei a comer. Ela pegou a arma de novo e disse num tom mais sério.

- Eu to falando sério Guilherme – olhei com raiva, ela sabia que eu odiava ser chamado pelo meu nome e fazia isso pra me provocar. Deu um sorriso como de uma criança quando sabe o que fez, mas não confessa.

- Tá bom, eu te ensino outro dia – peguei novamente a arma de sua mão e coloquei no meu colo.

- Não, eu quero hoje. Você vai me enrolar que eu sei, então eu quero começar H O J E – praticamente soletrou o hoje, e pegou meu pão e deu uma mordida.

- Faz seu pão oh desgraça – peguei de volta.

- Faz pra mim, seu pão é melhor que o meu – levantei uma sobrancelha.

- Cara, é só passar manteiga, passar na panela e depois colocar o presunto e o queijo e deixar um pouco mais pra derreter o queijo.

- Eu sei, mas o seu sai tão melhor que o meu – fez bico.

- Porra, parece que eu to com uma criança e não uma mulher de 23 anos. Vai se fuder – levantei e fui preparar a merda do pão. Ela sorriu vitoriosa e bateu palmas.

- TRAZ MAIS SUCO O SEU ACABOU – gritou da mesa. Revirei os olhos, faltava só ela começar a me cortar em pedaços pra me comer. 'Magra de ruim essa porra'

Antes de ensinar a bonita a atirar passei na boca e vi se tava tudo certo, deixei Lipinho lá enquanto ia ensinar a infeliz. Voltei pra casa pra buscar ela, e estava na sala assistindo TV.

- PORRA QUE DEMORA DO CARALHO – a minha vontade era de ensinar ela agora a atirar, atirando na sua cabeça e falar "Assim que se atira". Chata do caralho.

- Cala a boca e vamo, eu sou Dono de um Morro, trabalho todos os dias 24h por dia, não trabalho numa empresa de merda com horário não caralho, eu não posso ter folga – me fuzilou e ia dizer algo, mas desistiu.

- Vamos – passou por mim saindo de casa e parando do lado da minha moto.

Chegamos num terreno, foi onde eu aprendi a atirar também e era onde todos treinavam. Meio que já tava tudo preparado, era só colocar as latas em cima das pedras e pronto.

- Bom, vamos lá, vou colocar as latas aqui e ai é só mirar e pronto – dei de ombros.

- Ah que coisa mais simples né, se fosse fácil assim eu nem pediria sua ajuda – deu um sorriso irônico. Acabei rindo disso.

Coloquei as latas no lugar, voltei até ela e ensinei como destravava a arma, mirar e meter bala. Ela errou e muitas de primeira.

- Caralho, assim tu vai acabar com a munição do morro mano – cai na risada no décimo quinto tiro dela, e só tinha acertado duas latas, das seis que eu coloquei lá. – Você tem uma mira muito ruim, esquece isso, você não serve pra ter uma arma.

Ela me olhou e mirou a arma pra mim.

- É porque você não me ensina direito, fica ai só no celular enquanto eu to me matando aqui – caminhei até ela, fiquei por trás, coloquei minhas mãos encima das dela, mirei em uma lata e atirei.

- Você só tem que fazer isso, é só mirar. Você não ta mirando, ta atirando pra todo lado sem ver. Você fecha os olhos na hora que puxa o gatilho, e não pode fechar, tem que manter eles bem abertos pra ver onde ta acertando.

Ela tentou mais algumas vezes até que conseguiu derrubar todas. Olhei o relógio e já era 15h47.

- Bora, já ta tarde e eu to morto de fome. Depois te trago aqui pra acabar de vez com a munição do morro – ri e ela me mostrou o dedo do meio.

Voltamos pra casa e fomos almoçar Marta já tinha deixado tudo pronto. Era só esquentar e mandar pro buxo.

Enquanto almoçávamos a bocudinha que não consegue ficar calada começou:

- Quem te ensinou a atirar?

- Obviamente que meu pai né.

- Nossa seu grosso, pode simplesmente responder "meu pai" – fez uma vozinho no meu pai.

- Não. – continuei comendo.

- O que aconteceu com seu pai? Como ele morreu? – respirei fundo.

- Não vou te falar sobre isso.

- Ué por quê? Fala ai vai. - insistiu.

- Não – ela abaixou a cabeça, largou o garfo, acariciou as próprias pernas, mordeu o lábio inferior, eu respirei fundo e já sabia que tinha coisa – Desembucha.

- Eu ouvi uns boatos por ai – passou a mão no cabelo, colocando pra trás da orelha, ela não me olhava, só olhava pras suas pernas.

- Sim, eu matei ele. Era isso que queria saber? – já perguntei furioso e largando o garfo na mesa.

- Mas, por quê? – Ela levantou o olhar até o meu.

- Porque ele era meu inferno. Tá satisfeita? Agora vaza daqui. Vai embora que eu tenho coisa pra fazer – levantei peguei minha arma e a fuzil, e nem olhei na cara dela, só desci pra garagem peguei minha moto e desci até a boca. 

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