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Acordei já desejando não ter feito o ato. Abri os olhos lentamente e fitei o teto do meu quarto pensando na besteira que havia feito ontem. 

Nunca me dei o luxo de sair do meu morro pra ir atrás de mulher, muito menos ir na casa delas. Apenas pegava umas que frequentavam aqui nos bailes, levava pro motel e depois despachava. Não sei o que Giovanna estava fazendo comigo, mas isso ia parar, ia acabar. Não sou homem de me apaixonar, isso só trás dor de cabeça. Já vivi isso, e graças ao amor minha vida sempre foi bosta. 

Quando entro na cozinha a porta é aberta e logo vejo Lipinho entrando, já com um sorriso de quem vai aprontar no rosto, já sabia que vinha coisa ai.

- Falai manow – dei um toque nele indo pra cozinha e ele me segue.

- Ué, me fala você. Me fala da sua noite, querido. – ele diz se insinuando, ele já sabia. Provavelmente a fofoqueira da Carine.

- Fui lá mesmo, queria transar.

- Ah para Guilherme, te conheço bem; Você nunca saiu do morro pra ir atrás de transa, quem dirá de mulher. Você disse seu nome pra ela caraaaaiiii – 'Filha da puta, ela comentou isso com a putinha, ódio'

- Falei sem querer – disse já sem paciência.

- UHUM, sem querer. Você queria que ela gemesse seu nome AAH GUILHERME, AAHH GUILHERME – fez tentando imitar uma mulherzinha e parecia mais um viadinho com dor.

- Ah vai se fuder caralho – dei um soco em seu braço.

- Confessa que ta na dela, vai – me encarou segurando o riso, balançando a cabeça como se dissesse sim pra algo.

- Eu to sim na dela, to na de transar com ela, é isso que eu to – me encarou de cima a baixo com cara de nojo, como uma mulher faria.

- Ai para de mentira Guilherme, para que ta feio. – deu risada.

- Se quiser continuar vivo é melhor tu calar a tua boca, infeliz – gargalhou mais ainda e então se sentou na mesa e começou a comer meu café da manhã. Além de fofoqueiro é folgado, esse é o irmão que eu fui arrumar. 

A semana passou rápido e com ela tentei pensar o menos possível em Giovanna, mas quanto mais eu tentava não pensar acabava pensando. Não mandei mensagem, não liguei, não fiz nada em relação a ela e aquilo tava me torturando mais que a morte. 

Já era noite de quinta, já estava terminando meu turno e deixando tudo certo pra ir embora tomar uma cerveja, f1 e dormir, quando a vaca leiteira entrou na sala já falando como de costume. 

- E ai, tu vai amanhã, né? Pq eu vou e não quero ir sozinho – se sentou esparramado no sofazinho que havia na sala, olhei pra ele confuso.

- Vamos pra onde amanhã? – me olhou mais confuso ainda, e depois parece que a fixa caiu e então fez cara de espanto.

- Pra nenhum lugar ué, só joguei um verde pra saber se tu tinha rolê, mas num tem, nóis vai fazer um agora – deu seu pior sorriso de péssimo mentiroso que é.

Apontei a arma pra ele, destravei e repeti:

- Vamos pra onde amanhã?

- A Gi vai cantar num barzinho, e a Bonequinha me chamou. Eu achei que ela tinha te chamado – coçou a nuca fazendo uma cara engraçada que eu até riria se não estivesse espumando de raiva.

Travei a arma e coloquei encima da mesa

- Hm, bom saber. Nós vamos sim – tava furioso em saber e ela ia saber disso.


*


Já era sexta e hoje eu ia cantar no barzinho do Marcelo, era um barzinho bem simples, mas muito legal e aconchegante. Lá quem quisesse ia cantar, recitar poesias e tudo mais. 

Como era aniversário da Lisa (namorada dele), ele nos pediu para que cantássemos, iria rolar uma festinha pros mais chegados.

O dia passou normal, nada de muita diferença até quando tava voltando do trabalho levei um susto, quase bati o carro, sai do mesmo pra ver se tinha acontecido algo. Coloquei as mãos na cabeça quando vi que não tinha nem encostado:

- Puta que pariu, obrigada carinha ai de cima, to te devendo uma. - respirei aliviada e já ia voltando pro carro quando vi aquele monumento saindo do carro.

Moreno alto, de olhos pretos 'Nossa que olho, tu ta com sorte em Giovana, só tem uns gatos aparecendo na sua vida' pensei, e quando percebi eu tava com um sorrisinho no rosto.

- Puts, me desculpa, eu sai sem olhar, mas pelo jeito foi só o susto né, ainda bem – sorriu pra mim, MEU DEUS QUE SORRISO.

- Sim, foi só o susto – quase babei falando. 

- Queria te compensar pelo susto, posso te chamar pra sair – engoli seco com os olhos arregalados e nem pensei duas vezes.

- Claro - abri um sorriso e logo lembrei do barzinho - ah, olha, hoje eu vou cantar num barzinho, aniversário de uma amiga se quiser ir, vai ser algo mais pros chegados, mas vai estar aberto ao público e você pode levar alguém também – ele sorriu

- Acho que quem eu quero já vai estar lá – senti meu rosto virar um pimentão. – Pega meu número pra você me passar o endereço, eu vou sim.

Trocamos os números e eu logo passei o endereço pra ele.

- Tchau, até mais tarde então.

- Tchau – entrei no carro dando partida sorrindo que nem o Coringa'Caralho Giovana, caraaaalho'

Cheguei em casa e fui pro banho, me arrumei e fiquei esperando a Cah, enquanto trocava algumas mensagens com o Murilo, descobri o nome dele haha.

- Nossa que sorrisinho safado é esse – pergunta Carine me dando um susto

- A MI GA nem te conto, hoje quase bati o carro e mas bati num gato, olha – mostrei a foto do whatsapp.

- Porra que gato, que sorte em Gi, dois gatos babando em você.

- Dois?

- Sim, ele e o Gringo – levantei as sobrancelhas lembrando

- Ahhhh, mas o Gringo já foi não quero mais nada, ele me assusta e é louco. Viu no outro dia né, veio aqui fez o que queria com a besta, foi embora e nunca mais apareceu. Eu tô fora de encrenca, quero distância dele. – ela deu risada e então saímos de casa. 

HERDEIROWhere stories live. Discover now