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Giovanna

Amanhã é meu aniversário, completo 25 anos.

Estou me arrumando para sair, ou tentando parecer o mais agradável possível. Eu fiquei no fundo do poço, mas me reergui. Estou ótima, uma nova pessoa, não preciso de ninguém ao meu lado.

Faz poucos meses que aceitei o que Guilherme fez comigo e compreendo perfeitamente. Não o culpo quem ficaria com a pessoa que te colocou na prisão e parecia uma criança chorona? Exatamente, ninguém.

Hoje é quarta ou quinta, não consigo me lembrar.

Me olho no espelho e estou até apresentável com meu vestido preto que era colado no corpo, agora está um pouco folgado, mas acho que ficou até melhor. Está charmoso.

A minha velha companheira está quase na metade, bebi muito rápido não posso dar PT logo no dia do meu aniversário certo. Preciso ficar animada, preciso esquecer tudo. Procuro na minha bolsa o que me traria a alegria, acho o pacotinho e está quase no final, mas uma fileira é suficiente até chegar à balada.

Desço para a sala com a garrafa de whisky na mão e minha bolsa com o pacotinho da outra, pego as chaves do carro e antes de sair me sento no sofá e começo a preparar a fileira. Antes mesmo de terminar escuto o barulho da porta se abrir e um olhar furioso cair sobre mim.

Carine.

Ultimamente ela anda bem chata pro meu lado.

- Não acredito que estou vendo isso Giovanna, não acredito que você anda se entregando assim. Não te conheço mais, por favor, deixa eu te ajudar.

- Carine, pelo amor de Deus, estou ótima e não preciso de ajuda. Não agüento mais esse papinho.

- Será que você não enxerga no que se tornou? Olha pra você. Deve ta pesando uns 40quilos, esse vestido cabe duas de você. Só se encontra pinos e garrafas vazias nessa casa e você vem me dizer que está ótima. ONDE VOCÊ ESTÁ ÓTIMA?

- Eu paro quando eu quiser, estou precisando de um tempo tá.

- Eu te dei muito tempo e olha o que aconteceu, e eu nem contei aos seus pais senão viriam voando pra cá te internar a força. Você quer chegar nesse nível? Não irei ficar de boca fechada por muito tempo. Para de se culpar pelo que aconteceu ao Guilherme, eu sei que você o ama, mas lembra que acima de tudo você tem que se amar primeiro.

- Que Guilherme filha, eu to pouco me lixando pro Guilherme, eu to bufando pra ele. Não o amo mais, não o quero na minha vida. Estou ótima sozinha e nunca me amei tanto como me amo agora.

- Se não o ama e está bufando pra ele, porque continua usando a corrente dele? Porque não devolve pra Elisa? – sinto uma pontada no coração.

Nem em mil anos conseguiria me livrar dessa maldita corrente.

- Me deixa Carine, vai embora. Amanhã é meu aniversário e eu quero curtir essa noite, ok? Amanhã ou depois quando estiver de boas a gente conversa. – me sento no sofá e continuo o que estava fazendo.

Num movimento muito rápido ela passa a mão na mesinha de centro jogando toda cocaína no chão. A raiva me sobe, mas me seguro pra não bater nela.

- VOCÊ FICOU LOUCA? ISSO CUSTA DINHEIRO PORRA. – me levanto.

- CHEGA. – sinto meu rosto arder, coloco a mão sobre o mesmo e quando viro para olhar sua cara ela está chorando. – Chega Giovanna, eu não agüento mais te ver assim. Chega. Estou grávida de três meses e eu simplesmente não consigo te contar, pois só te encontro bêbada, drogada ou desmaiada de tanto remédio que se entupiu pra dormir. Eu não agüento mais te levar no hospital as pressas com medo de você morrer. Eu mal me lembro a ultima vez que você fez uma refeição, que eu vi comida dentro dessa casa. Não sei o dia que abriu essas janelas e deixou o ar entrar, essa casa fede, você fede e eu não agüento mais te ver assim. Essa é a ultima vez que vou te pedir, deixa eu te ajudar, não por mim, mas por você e pelo bebê que carrego aqui. Eu quero que você seja a madrinha, mas não desse jeito, eu quero a minha Giovanna de volta. Quando descobri vim correndo te contar e você estava tão bêbada que nem se lembra que eu te falei, eu queria que você fosse a primeira a saber, e me dar forças nesse momento que é assustador. Me ajudar a planejar como contar isso pro Filipe, mas você simplesmente se tornou isso, essa coisa que eu nem sei quem é e não consigo confiar.

Antes mesmo de terminar de falar já estou me desmanchando em lágrimas e nem consigo olhar pra sua cara.

Minha prima está grávida, me contou e eu não lembro. Não consigo me sentir pior do que isso. Não consigo pensar em nada, estou com um milhão de sentimentos.

- Me perdoa, por favor e me ajuda. Me ajuda. – caiu sobre meus joelhos e abraço suas pernas.

Pela primeira vez estava aceitando o fato que não me encontrava bem, que o fundo do poço que estava na verdade se abriu e eu me afundei mais ainda.

Tudo dentro de mim parecia estar se quebrando, cada pedaço. Meu coração parecia estar sendo amassado e eu estava perdendo o ar.

Ela se ajoelhou na minha frente, segurou meu rosto com as duas mãos e olhou em meus olhos.

- Estou aqui Gi, to aqui pra você. Eu vou te ajudar, tente respirar com calma. – com isso ela me abraçou e eu pude colocar tudo e um pouco mais pra fora.

Depois de um tempo me leva para sua casa, lá tomo um banho quente e quando saiu vestida em um roupão fofinho ela está na cama com uma bandeja e um prato da minha comida favorita, macarrão alho e óleo com brócolis.

- Come tudo e se quiser tem mais, fiz uma panela só pra você. Filipe até tentou comer, mas não deixei. – fiquei imaginando cena e abri um sorriso.

Me sento na cama e começo a colocar comida pra dentro. Meu Deus quanto tempo eu não como uma comida gostosa dessas... em alguns minutos já acabei a pratada e descemos pra eu me servir de mais. Já aproveito e pego um copo grande de Coca-Cola.

Me sento no balcão e começo a atacar a segunda pratada.

- Quero que você vá pra uma casa de repouso Gi, não acho que ficar por aqui vá te fazer bem. – assinto,

- Eu vou, eu também não acredito que ficando aqui conseguirei sair dessa. – ela sorri toda animada e vem me abraçar.

- Graças a Deus, não a sabe a culpa que levo nas costas por essas coisas que aconteceu. – ela alisa meu cabelo.

- Não se sinta culpada Cah, quem se entregou fui eu. – sorriu pra ela e continuo comendo e ela vai falando sem parar sobre seu neném, o qual sou madrinha e nunca estive tão feliz.


– 

Oi pipol.

Agora terá uma passagem de tempo em cada cap. 

Tentarei postar mais um hoje, bjkinhas. 

  



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