Mania do oráculo

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A chave fora um desperdício. Roubar algo perigoso para nem sequer ter uso. Minha janela de oportunidades foi se fechando enquanto sentia constantemente a presença de Kai do lado de fora, além de que ele agora havia uma chave para a minha porta novamente, depois de ter pedido emprestada a de Dhara pelo menos até encontrar sua própria. Ela reclamou, mas cedeu do mesmo jeito, lhe dando um sermão sobre como precisava cuidar de suas próprias coisas.

Depois de duas refeições, o céu já escuro, pelo que podia ver da minha pequena abertura, escutei novamente vários passos pelo corredor vazio, no entanto, agora eu os escutava cadenciados, sob uma ordem certa. Meu peito doída de ansiedade, minha respiração curta, abafada. Fui até o lado oposto do pequeno cômodo, buscando ficar mais longe possível da porta. Eu não sabia se deveria lutar contra eles ou se deveria apenas segui-los, já que, até agora, não fizeram nada contra mim, mas tudo em meu ser era contra aquilo, meus instintos gritando para que eu saísse de lá.

Quando, finalmente, abriram minha cela/quarto, vi 2 homens com o mesmo uniforme de Kai, rostos inexpressivos até pousarem seus olhos em mim eu um lampejo de surpresa passar em suas faces.

–Senhorita, siga-nos.

Hesitante e incerta de tudo, fiz o que pediram.

No corredor, seguimos o caminho oposto ao que levava até a câmara de banho, um deles à minha frente, Kai à minha direita e o outro guarda desconhecido ao meu lado esquerdo.

–Kai, onde estamos indo? –Perguntei pouco mais alto que um sussurro, entre uma respiração e outra.

Despreocupado, apenas virou levemente seu rosto para mim.

–Daqui apenas alguns passos você já vai descobrir.

Aqueles "alguns" passos pareciam a eternidade até o corredor se abrir em outras bifurcações. Escolheram um dos caminhos e entramos em outro corredor, um mais largo, mais vivo, com pinturas nas paredes, tapetes, vasos de plantas espalhados e, ocasionalmente, pessoas passando por nós, me olhando como atração e depois tentando desviar o olhar.

Depois de um tempo, chegamos um salão grandioso, tão grande quanto minha mente poderia processar, tão cheio de tudo. Cada parede que se estendia, cada ladrilho brilhante no piso, cada estandarte da família Melione, seu tapete azul, assim como as cores do reino, os degraus e, finalmente, seu trono. Isso sim exalava poder.

Não queria levantar meu olhar, estava com medo e vergonha demais, então continuei encarando seus sapatos enquanto dava uma tímida reverência.

–Como devo te chamar? Fantasma invejoso? Mão invisível? Deus da justiça? Sombra? Impressionante como você consegue ter mais nomes que eu!

Sei que disse que confessaria apenas com a rainha falando quem eu era na minha frente, mas retiro isso. Aquilo era aterrorizante ao mesmo tempo que incrível, a adrenalina passando pelo meu corpo por um milhão de sentimentos diferentes.

–Nenhum desses, vossa Alteza. Com todo respeito, creio que a senhora tenha me confundido com tal ladra. Meu nome é Amélia, eu não tenho nada relacionado com tais roubos.

–Levante seus olhos, por favor, sinto que você está conversando com meus pés. –Hesitante e lentamente, o fiz. Ela me escrutinou bem minunciosamente, cada centímetro do meu corpo e se detendo com um olhar duro e firme, o olhar de uma rainha, em meu rosto. Me dedicou um belo e branco sorriso, seus dentes mais me lembrando presas e eu sendo a caça ao mesmo tempo que ela parecia estar se divertindo com aquilo tudo. –Sabe, querida, peço para que não subestime minha inteligência, assim como eu não subestimo a sua. Você não sabe quanto tempo estivemos atrás de você, a energia que gastamos em uma investigação sobre você, então não tente me dizer que você é inocente, isso apenas me deixa entediada quando eu já sei a verdade. Além do mais, os dois dias que você ficou sob nossa supervisão, quase não tivemos reclamações de roubos. O que você acha disso? Coincidência?!

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now