A calmaria antes da tempestade

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Sendo sincera, não queria levantar da cama.

Aquele seria o dia, afinal.

O dia.

O baile e o furto, o último dia para encontrar os registros.

Havia três opções onde poderiam estar: Biblioteca nacional, biblioteca privada e, então, a sala privada do rei.

Antes do baile, ainda teria que checar se realmente os registros se encontrariam lá, sem ter a mínima noção do que viria a acontecer se não os visse.

Pelos deuses, que estivesse lá.

Estava no meio da tarde, não o melhor momento para tentar passar despercebida, mas precisava ser agora, por isso já encontrava-me em minha roupa de ladra (precisava lavá-la, inclusive), inclinando-me sobre minha janela mais uma vez.

O escritório de Corbin ficava no último andar, não seria tão mais difícil de chegar do que fora com a biblioteca, sabendo que precisaria apenas ir e voltar ao meu quarto como se nada tivesse acontecido.

Era fácil ver como estava vazia através do vidro, sem chave alguma a vista, o que significava que ele realmente estava fora, não apenas longe por um tempo. Com a mesma tática que fizera ao entrar na biblioteca poucas horas atrás, consegui que a janela se abrisse, porém, ao invés de estatelar-me contra o chão como fizera na primeira vez, consegui desenvolver minha em uma cambalhota, impedindo o impacto sobre os joelhos e sobre minhas costelas.

Não era uma sala muito grande, contudo era prática, uma mesa reta com quatro cadeiras, uma de costas para a janela e três do outro lado, além das poltronas colocadas de maneira inteligente sobre um carpete colorido, as paredes cobertas por prateleiras, simulando estantes, livros seguindo do chão até o teto, uma escada presa em um sistema de correr para alcançar os livros mais ao alto.

Hora de encontrar o que Corbin mantinha escondido.

Tentei ir da mesma forma que as procuras anteriores, querendo entender seu método de organização e prosseguir com a busca até perceber que não havia ordem alguma, seja por assunto ou por letras, os livros dispostos aleatoriamente para o meu terror.

Sem me dar chance para respirar, fui revirando os livros, checando as primeiras quatro letras para ver se encaixavam-se no que caçava.

Meu sangue começava a ferver com a demora, mas não poderia sair dali até encontrar os malditos registros, observando o sol se seguir e ir aumentando no tapete.

Meu coração quase parara ao finalmente enxergar um caderno fino com capa de couro marrom claro com um título em caliniano e outro em dritaniano.

"Loucura da profecia / Prophenum Insanis"

Era obvio que em outro lugar, o nome para a mesma enfermidade seria diferente, porém com o mesmo significado.

Tive quase a vontade de chorar de alívio, abraçar o livro e dançar pela sala, mas fui impedida de fazer qualquer uma dessas coisas ao escutar vozes se aproximando cada vez mais.

"...não é problema alguma, Lady Melissa. Será um prazer ajudá-la com isso" Corbin dissera.

Meus olhos arregalaram-se e respirei profundamente, tentando acreditar que justo no momento que eu encontrara os registros, o Rei estaria voltando à sua ala privada, segurando-me para não revirar os olhos pelo meu péssimo timing.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde as histórias ganham vida. Descobre agora