É necessário conhecer o oponente

113 13 16
                                    

Vega era um rapaz simpático, muito mais afável do que sua aparência faz parecer, sendo todo sorrisos, risadas e comentários espirituosos a maior parte do tempo, o que o diferia de Zoram, que se recusara a sentar conosco por minha causa.

Nem havia notado como o meu prato estava vazio tinha tempo até que Cordélia apareceu por lá, parada ao meu lado.

–Senhorita, Lady Melissa está te chamando para a biblioteca.

–Bom dia, senhorita Cordélia. Já te disse como a luz do sol parece beijar a sua pele? –Cordélia, em resposta, olhou para Kai com uma única sobrancelha levantada, como se dissesse "isso é sério?" enquanto respirava fundo.

–Não, senhor Kai, você nunca me disse isso. –Antes que ela desse abertura para ele falar, ela se virou para mim e continuou. –Pode me seguir.

Deixei meu prato e meus talheres em uma pilha de louça suja e a deixei que me guiasse. Depois de já ter sido banhada e vestida por Cordélia, trajando um novo vestido simples preto de seda com longas mangas e decote quadrado que, ao contrário do vinho que usara antes, tinha sua faixa na cintura, com detalhes prateados na faixa, na barra e nas mangas, linhas pratas que subiam pelo braço como galhos de árvores, acabando pouco acima do cotovelo, fomos para um caminho completamente diferente do que os que eu já estava relativamente familiarizada, fomos parar em um corredor mais largo do que os outros que eu já tinha visto, um que parecia mais antigo, no entanto, muito bem cuidado. O chão brilhava ainda como novo, aquela área não recebia muitos visitantes, pensei.

Paramos na frente de duas portas enormes de madeira entalhada. Ela era repleta de detalhes, de forma que só poderia captar tudo nela se me sentasse e a observasse por algumas horas. Creio que a porta estava ali desde antes do destronamento, pude passar meu olho rapidamente por uma borboleta antes de Cordélia a abrisse, o antigo estandarte de Eirlys, dos antigos Galenes.

Adentrei no cômodo depois de Cordélia e aspirei o ar de lá –se sabedoria tivesse um cheiro, seria aquele, cheiro de papel antigo, couro, cola... algo velho que não fosse necessariamente ruim. Era diferente, mas não fora isso que me deixara tonta. Foi o espaço.

A parede oposta à porta era repleta de janelas continuas que iam do chão ao teto alto, que iluminava todo o ambiente, toda a extensão das grandes estantes abarrotadas de livros, suas lombadas viradas para fora para que seus títulos pudessem ser vistos, tantas estantes que quase me deixavam tonta. Durante meus anos na rua, eu tinha lido apenas um livro, um que havia sido dado para mim por Davina, o primeiro e único romance que pude experienciar em minha vida. Ela era uma jovem mercante, ficaria na cidade apenas uma semana até voltar a navegar com sua família. Em um dos nossos encontros escondidos, ela me presenteou com um livro, "As aventuras de Ravina", uma história muito conhecida pelo mar. Ele era lindo, tinha um desenho com um navio à deriva em sua capa e o nome em dourado. Me sentia um tanto envergonhada por não ler direito, já que minhas últimas aulas de leitura ocorreram quando eu tinha 8 anos, me esforçando especialmente para termina-lo. Li suas 63 páginas em um mês, ela já tinha até ido embora. Pensei na quantidade de livros que tinham ali, em quantas páginas dariam. Aquilo me intimidava um pouco.

Fui levada até uma mesa atrás de uma das prateleiras, perto da janela, onde Melissa já estava sentada e antes mesmo que eu pudesse me virar para agradecer Cordélia, ela já tinha desaparecido. Melissa tinha novas correntes douradas finas passando pela raiz de seus cabelos bem cacheados e volumosos, cintilando com a luz do sol que recebia juntamente com todos os adornos dourados que usava e que se espalhavam no bordado vermelho de seu vestido. Ela parecia uma estrela.

–Sombra, que bom te ver. –Melissa sorriu ao me ver, iluminando seu rosto, me pegando pela mão e me aproximando dela enquanto ela se levantava. –Como seus primeiros dias estão sendo aqui no castelo? Sente que está conseguindo de encaixar?

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now