Drítan não gosta de estrangeiros

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–Torryn–

Nossas costas doíam –não é muito confortável dormir em redes dentro de um navio que vive balançando.

Nossa viagem foi ininterrupta, sem pausa alguma em lugar algum, o que fez com que pisássemos no porto de Drítan, de madrugada, com as pernas tortas. Elowen quase caíra na passagem.

Os cavalos eram caros para serem alugados, então conseguimos carona (remunerada, obviamente) com um grupo mercante que levava a mercadoria que havia acabado de chegar à capital.

Ao chegar em Solandis, nos encontrávamos pior do que antes, mais doloridos e cansados, porém, infelizmente, não era algo com o qual já não estávamos acostumados.

A entrada na cidade era simplesmente deslumbrante, as vias principais pareciam pinturas vivas até perceber que era exatamente –pinturas vivas para deixar os visitantes importantes impressionados com a beleza e a riqueza.

Enquanto o nosso caminho até a estalagem que já havíamos alugado se seguia, afastando-nos do centro, era fácil ir notando a diferença. As cores das paredes esmaecendo, mais diluídas, mas apagadas. Algumas ruas além, a pintura era vista descascando. No começo, acontecia nas beiradas, depois ia tomando boa parte da parede até não ter pintura alguma, apenas pedras escuras que eram mais difíceis de serem manchadas, os ladrilhos brilhantes há muito ausentes, passando por pedras pretas e, então, terra batida entre algumas poças de lama.

Era naquela parte da cidade que o nosso dinheiro doado pela causa poderia nos estabelecer.

Chegando na recepção, a mulher não fizera questão de tentar entender-nos, falando palavras rápidas em uma das suas línguas nativas, elas sendo iliana, que também era a nossa, e dritaniana. Para seu azar, eu e Elowen entendíamos o básico de algumas línguas. Juntando o conhecimento de ambos, poderíamos nos arriscar entre vorumês, vedano, forquês, dritaniano e ephyriano, os dois últimos sendo bem parecidos.

A dona da hotelaria, com a cara fechada para nós dois, pareceu surpresa quando Elowen respondera no mesmo idioma em que a mulher nós chamara de "parvamorus", uma ofensa à estrangeiros com a tradução similar à "invasores imbecis".

De maneira infeliz, entregara-nos a chave e guiara-nos até onde nos hospedaríamos.

Enquanto já estávamos dispondo nossos itens pelo quarto com duas camas separadas, meu foco passara pela janela e, então, a vira contra o crepúsculo que se aproximava.

Sombra estava com um manto tentando cobrir seu rosto, mas seus olhos ainda escapavam tentando observar o redor, absorver as novidades e eu também a reconheceria até de costas, até de cabeça para baixo, até de olhos fechados, quem sabe –há algo de especial na forma como ela se move.

–Voltarei logo. –Informei Elowen com um sorriso no rosto sem afastar meu olhar de Calia.

O que esse reino estranho pode oferecer a um jovem apaixonado além da pessoa que fazia seu coração pular?

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now