Os nuances sobre a verdade

46 12 9
                                    

Depois de tirada das diversas camadas de tecido vermelho, Cordélia escoltava-me até a biblioteca para mais uma aula com Melissa, meus passos com uma nova perspectiva, um novo objetivo: eu encontraria mais respostas sobre a grande questão acerca dos Galenes que vinha crescendo em minha mente.

–Que bom já vê-la aqui, querida. –Claro que você me veria aqui, literalmente está dentro da minha rotina, não é como se tivéssemos nos encontrado por acaso. Contudo, reprimi meus pensamentos um tanto mordazes e gratuitos e ofereci um sorriso a Melissa, que agora usava seus cabelos em diversas tranças intrincadas ao couro cabeludo, fios dourados mesclados com o escuro de seus cachos presos, refletindo a luz do sol como uma estrela.

Não deveria mais ser surpreendida pela beleza de Melissa, algo que já estava bem familiarizada, porém encontrava-me sem ar por um segundo sempre que a via.

–Também fico feliz de estar de volta à biblioteca. Vim já pensando no que poderíamos estudar dessa vez. –Ela abrira um sorriso iluminado, animada com minha aparente ânsia que aprender, o que, de certa forma, não era mentira, apenas tinha objetivos diferentes aos que ela imagina. Eu, ainda sorrindo inocentemente, encarei-a com grandes olhos a fim de não levantar suspeitas sobre minhas perguntas, lembrando-me que, segundo o mesmo tratado que mantinha em sua biblioteca o registro da linhagem completa de Drítan, era dever possuir tais informações sobre todos os reinantes, mesmo que, por conhecimento geral, todos de uma família estejam (supostamente) mortos. –Será que você poderia explicar-me sobre o antigo sistema regencial dos Galenes? Sobre o reinado deles, digo.

Melissa não parecera desconfiada e, sim, confusa e curiosa, juntando suas sobrancelhas e diminuindo o tamanho de seu sorriso.

–Um pedido interessante, devo admitir. O que te deu interesse para saber sobre uma regência que não existe mais? –Comecei a caminhar distraidamente entre as estantes e ela, no mesmo instante, começara a se mover ao meu lado, os passos alinhados aos meus.

–Ora, é a fundação para o reino que nos encontramos agora, a história do meu lar e, como você dissera, a história não é feita por apenas um ponto de vista. Percebo que sei quase nada do lugar onde cresci. –Talvez ela notasse a tentativa descarada de manipulação como Bram, já que a inteligência de Melissa não me desconhecida... ou talvez não notasse e a apelação que fiz com sua própria citação. Talvez ela se deixasse levar pelo ego massageado.

O resultado veio quando dera uma pequena risada elegante, assim como tudo nela, e permaneceram com um sorriso complacente.

–Acho muito sábio da sua parte perguntar sobre o que deu origem a tudo isso, de fato. –Segurando meu braço ternamente como se eu fosse uma dama de companhia. –Você já deve saber sobre como, historicamente, os Galenes são descendentes da Grande Lia. Tal família baseava-se em hereditariedade consanguínea, um pouco similar aos Meliones inclusive acerca da união de dois do mesmo gênero, contudo, também conseguia-se título por matrimônio, então poderia existir dois reinantes ao mesmo tempo se viesse a ser da vontade dos dois.

Ela caminhava energicamente até o fundo da biblioteca, perto de onde o livro/caderno da linhagem de Drítan era mantido e puxada um volume de capa de couro preta ainda extremamente preservada, sem insígnia nenhuma, com páginas brancas, sem sinais do tempo. Melissa, em movimentos fluidos, colocou-o sobre uma mesa e foleou rapidamente, porém ainda notei a tinta preta vibrante e uniforme com a mesma letra indo por todos os nomes até os últimos.

–Lady Melissa, por que essas anotações estão tão recentes em comparação às outras? –Ela, por sua vez, arqueou suas sobrancelhas e direcionou seu olhar à mim.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now