Ladra

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–Você deve adorar me ver assim. –Afirmei quando sua espada estava contra mim.

–Acredito que não mais que você. –As espadas de treinamento não tinham cortes, sem nada realmente afiado, podendo apenas machucar, então me dei a licença para pressionar a minha contra a barriga de Nikolai, onde eu sabia que, possivelmente, ainda se recuperava de mim, afastando-o.

Ele me xingou (tive que segurar meu riso) ainda apontando onde eu havia forçado a lâmina, seu rosto demonstrando dor. Antes que eu pudesse me vangloriar daquela cena, ele se endireitou, sua face impassível novamente, me encarando. A única coisa que ele parecia não controlar muito bem era o que seus olhos passavam, queimando em ódio por mim. Tomei como desafio e levantei uma sobrancelha.

–Você tem uma péssima técnica, não sabe equilibrar o peso da espada e age apenas por impulso, não é bom não pensar em seus próximos passos. Analise como no xadrez, você pode sacrificar uma peça momentânea se for te aproximar da vitória. Agora, se for mexer seu jogo apenas em reação, você mesma vai cavando seu fracasso pouco a pouco. –Em contraste com o sentimento que eu sabia que ele nutria por mim, seu tom era incrivelmente controlado.

–Se eu soubesse jogar xadrez, tenho certeza de que seria uma excelente analogia.

Ele já não estava com seus olhos presos em mim enquanto caminhava em minha direção, ajeitando a espada que segurava, ajeitando meus dedos e, por fim, passando suas mãos pela minha cintura, me sobressaltando com a surpresa da proximidade, não acostumada em sentir seu corpo tão perto (pelo menos não sem ameaças iminentes ou ações passivas agressivas).

–O que está fazendo?

–Consertando sua pose. Você está toda desequilibrada. –Depois girar levemente meu corpo e posicionar meus quadris em um ângulo diferente, senti-me mais estável, mais balanceada. Ao parar de me encostar, levando o calor de seu corpo com ele, observei-o enquanto se afastava, de costas para mim, andando ereto, com toda a confiança do mundo. –Veremos se agora melhora. Vamos mais uma vez.

Não importa como ele me movesse e girasse, eu nunca seria tão boa quanto ele. Parecia que ele nascera com uma espada na mão.

Quando minha oponente era Ophelia, ela se movimentava primordialmente, já Nikolai parecia que era movimento, que tudo que todos os avanços e esquivas fossem parte dele, fluido como água, como se nem percebesse quando se mexia, algo apenas de seu subconsciente.

Mas eu tinha rapidez. Não era tão inútil, afinal de contas.

Eu tinha uma mínima noção do que ele falara para mim antes, sobre pensar em ações mais adiantes que apenas o próximo passo e conseguia ver muito facilmente como isso se aplicava à ele. Ele era bom, excelente, mas era limitado. Ou melhor, seu pensamento era limitado, não acredito que ele teria muitas limitações físicas.

Todas as ações dele poderiam ser previstas para quem se atentasse ao seu padrão –e eu sou boa em enxergar padrões. Lhe faltava imprevisibilidade.

Então, lá estávamos, naquele jogo, dançando pela área de treinamento, ele com a indiscutível vantagem que toda sua experiência o proporcionava.

Fora fácil para ele me desarmar, vendo enquanto ele girava a espada em sua mão, fazendo a minha voar para longe de mim. Ele, em tese, já teria me ganhado nesse combate, então veio andando despreocupado quando chutei com tudo que podia seus dedos que seguravam o cabo de sua espada. Ele arquejou baixo, praguejando novamente, mais para si mesmo que para mim, trocando a arma de braço e sacudindo a mão acertada, a raiva apenas sendo alimentada em seu olhar.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now