Confronto

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Incrivelmente, não me encontrava cansada depois da noite anterior.

Chegara ao castelo mais tarde que planejava, talvez por esse motivo, acordara ainda mais cansada e com uma dor de cabeça incomum, despertando-me mais cedo do que normalmente, bem antes que qualquer pessoa chegasse ao meu quarto.

Estava com meus músculos ainda rígidos, porém mais impaciente que preguiçosa, na esperança de que alguém aparecesse logo à minha porta e a destrancasse, não podendo fazer isso agora por minha conta, por ser tão cedo, e me fizesse companhia, o que me fez andar com passos firmes de um lado para o outro no limitado, não pequeno, cômodo, procurando algo para me ocupar, seja escolhendo minhas vestimentas para o dia, penteando meu cabelo ou lavando meu rosto com a água gelada à minha disposição.

Acredito que outro motivo para estar desperta dessa maneira era para conversar com Cordélia assim que ela chegasse para me vestir, descobrir o eu fazia na reunião da resistência, se, de fato, era ela a informante deles que trabalhava no castelo. Tais pensamentos me deixavam inquieta e dividida, já que significava que ela estava em uma situação parecida com a minha, um certo alívio, e que ela enfrentava, talvez, riscos ainda maiores que os meus, consideravelmente em uma posição mais descartável que uma ladra requisitada pelos dois lados, me deixando preocupada por ela. Definitivamente, ela tinha mais coisa em jogo que eu, o que me deixava ainda mais em dúvida, afinal, para entrar em tal situação precária, ela deveria ter um motivo muito bom para levar tal vida dupla.

Virei-me ao momento que escutei a fechadura da minha porta girar, vendo minha dama particular entrar segurando minha bandeja de café-da-manhã com os ombros curvados, como se quisesse diminuir sua altura, sua presença, o que, logo presumi, simbolizava que eu não partilharia da primeira parte do dia do Kai ou Ophelia.

Fui andando em passos inquisidores em sua direção, tomando em controle meu poder, mesmo que não tivesse qualquer, verdadeiramente.

De começo, decidi não confrontá-la, sem querer deixá-la pressionada.

Trocamos olhares no antigo santuário, então, se eu a vira, ela também me viu. Considerei melhor agir normalmente até que ela escolhesse falar algo.

Tudo agora parecia ter um peso que até ontem era inexistente, cada respiração nossa, cada ação, suas mãos sobre mim enquanto me despia em um silêncio absurdamente alto.

–Sir Graybane pede sua presença com ele durante essa manhã. –A direcionei um olhar confuso, exprimindo que eu não fazia ideia de quem Graybane era. –O auxiliar da Rainha, Nikolai Graybane. –Assenti levemente com a cabeça enquanto entrava sob o tecido do vestido, sabendo que, muito possivelmente, ela não veria meu movimento sutil, entendendo que eu não iria para o treinamento, como acontecia de costume.

Durante todo esse tempo, ela não abrira a boca novamente, o que fazia com que as palavras não ditas me esmagassem, sentindo o incomodo reinar no quarto com uma das pessoas que eu mais sentia segurança no castelo até não aguentar mais.

–Cordélia...

–Não, senhorita Sombra. –Cordélia me interrompera de maneira ainda polida no começo da frase, me impedindo de continuar com o que quer que eu fosse dizer. –Aqui não. As paredes podem ouvir. –Seguira em um tom sussurrado, de forma que eu mal pude escutá-la, mesmo tendo ela às minhas costas, o som perto do meu ouvido. Suas palavras foram vagas e curtas, no entanto, as entendi com perfeição.

Ali não era o melhor lugar para falar sobre conspirações.

Em resposta, apenas respirei fundo enquanto ela amarrava minhas costas em um novo vestido, uma das várias belas opções que eu tinha no armário.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now