O nome da sombra - Crônicas de sombra e luz

O treinamento

Cordélia, com suas mãos extremamente delicadas, me despia outra vez naquele mesmo dia. Tinha me despedido tristemente do vestido vinho, no entanto, eu nem sequer havia deixado meu foco nas outras peças que foram entregues, não notara como tudo ali era incrível, tudo no mesmo nível de beleza e conforto. Mas tinha dois conjuntos que chamaram mais a minha atenção que o resto.

Calças e blusas -não que eu tivesse conhecimento sobre a etiqueta da realeza, mas eu sabia que calças não eram as roupas comumente utilizadas.

O corte, o bordado, o caimento era o mesmo entre os dois conjuntos, contudo, suas cores eram diferentes.

Uma das partes de baixo era marrom puxado para o bege/nude, bem maleável, frouxa nas pernas e justa nos tornozelos e na cintura enquanto a outra, quase idêntica, era preta.

As blusas que me fizeram perder o fôlego. Seu trabalho era perfeito, suas costas cobertas de bordados, desenhos e padrões simétricos. Notava galhos, serpentes e flores personalizados em sua costura, me impressionando com o trabalho. Haviam duas daquelas, uma branca e a outra preta, me apaixonando pelas duas. Para usar sob elas, regatas eram dispostas também nas duas cores.

-São minhas? -Cordélia acenou com a cabeça, com os olhos cheios de expectativas, esperando pacientemente pela minha reação com o esboço de um sorriso complacente pintado em seus lábios. Não me surpreenderia se ela tivesse um dedo nessas confecções também. -São completamente adoráveis! Quem quer que as costurou tem um talento incrível. -Eu estava certa, realmente ela fizera parte de sua criação pelo orgulho que brilhava em sua face, similar ao de Eira quando me vira trajando o vestido vinho.

-Já quer que eu te vista? -Me perguntou, esperançosa, enquanto as admirava sem que nada me cobrisse além da minha peça íntima inferior. Me dirigi até minha penteadeira, à frente do espelho, a blusa preta sob meu tronco, tentando ver como ficaria em mim. Cores escuras sempre foram amigas minhas, mais fácil de se esconder em cantos esquecidos. Não que eu não gostasse de outras cores, particularmente adorava me ver em tecidos azuis e vermelhos, mas meu cotidiano era regrado pela praticidade, logo, o que eu mais possuía eram peças com tons sóbrios, como aquela blusa preta que pendia sobre meu colo contrastando com minha pele clara. Eu poderia experimentar outras coisas agora.

Caminhei até a cama, onde as peças estavam estiradas, peguei a regata branca e sua respectiva blusa, oferecendo à Cordélia a segunda enquanto já passava a primeira pela cabeça.

Em questão de segundos, estava completamente vestida, admirando a visão no reflexo. Realmente, aquilo foi feito para mim.

Já no corredor, Cordélia caminhava comigo até a ala de treinamento, pela qual havia passado direto mais cedo com Kai. Miranda decidiu junto com Nikolai que o certo seria que eu treinasse minhas habilidades físicas em combate também, podendo ser requisitadas em seu plano.

Agora os barulhos ficaram mais baixos, não com toda a animosidade que eu escutara pela manhã. Chegando próxima aos pilares da entrada, o sons foram ficando mais nítidos: espadas se encontrando, pessoas se esforçando, passos fortes e rápidos soando pelo chão e expressões nada galantes sendo proferidas.

Já na passagem, fui absorvendo toda a vista que me era proporcionada. Era um salão bem amplo, claro e aberto. No lado oposto àquele que eu estava, não tinha uma parede e sim uma fileira de pilares, o espaço livre entre eles levando para o lado de fora, para um dos lados do jardim. O teto, assim como no resto do castelo, era abobado e bem alto, dando ainda mais sua sensação de grandiosidade.

Não possuía muitos elementos no local, mas tinha um armário de vidro apoiado à parede da direita, que ficava mais distante da entrada, onde estavam várias espadas, escudos, arcos e aljavas cheias de flechas. Alvos circulares e bonecos de madeira em formatos humanos da barriga para cima encontravam-se espalhados pela sala, repleta de pessoas com roupas não muito diferentes que as minhas. Homens e mulheres estavam lá, alguns lutavam e treinavam, outros conversavam e se encontravam sentados. Para minha sorte, todos estavam ocupados demais para notar minha presença.