A biblioteca

28 8 10
                                    

–Precisa que repassemos o plano mais uma vez? –Nikolai perguntara enquanto chegávamos perto da biblioteca em si, suas torres pontudas bem menores que o castelo.

–Não precisa disso, estou bem ciente do que faremos. –Respondi o mais segura que podia, meu braço entrelaçado ao dele.

Havia a tensão pesada sobre nós, a clara e palpável eletricidade estranha que ocorria quando nos tocávamos, mas não comentávamos sobre, fingíamos que não tinha nada.

À medida que chegávamos até a porta da grande construção, dois guardas à disposição parados em cada lado das portas que se erguiam magníficas –eu sou tão fácil de ser impressionada que até as portas me deixam surpresa.

Com apenas uma ação calculada e imperceptível, ao passar pelos guardas, estiquei minha mão e meus dedos até as chaves que estavam no cinto de um deles, envolvendo todas rapidamente depois de pegar a argola do molho para que não tilintassem. Ninguém notara, o furto efetuado em um tempo menor que uma batida de coração.

Já dentro, Nick... Nikolai dirigira um olhar à mim em lamentação, sussurrando "precisa que voltemos?" tão baixo que me perguntei se ele havia apenas mexido os lábios, a preocupação deixando seu rosto lentamente enquanto levantava a mão direita e mostrava o brilho prata da argola como um anel que envolvia um dedo como um novo anel, um sorriso pintado no canto dos meus lábios, logo imitada por ele.

Sem precisar avançar muito, chegamos ao bibliotecário sentado atrás de uma mesa de madeira dizendo boa tarde para nós com um sorriso amarelado como as páginas dos livros que ele cuidava, perguntando questões básicas para permitir nossa entrada e se precisávamos de alguém para nos guiar, tão claramente estrangeiros, ajuda essa que recusamos educadamente e seguimos entre as estantes como o labirinto que aquilo era até sairmos de sua visão, sabendo que seríamos um dos únicos, senão os únicos presentes no local naquele horário, todos em horários de trabalhos e ainda mais ocupados com a aproximação do festival da fartura, escondendo-nos perto do fundo da biblioteca, apressando-nos em nosso plano, Nikolai entre duas estantes e eu entre outras, apenas uma entre nós, a bolsa que o assassino carregava lateralmente ao corpo com a minha roupa de ladra já aos meus pés para que eu me trocasse.

–Acredito que... talvez você queira discutir sobre o que aconteceu... sobre o que eu fiz quando chegamos aqui, quando eu fui no seu quarto. –Escutei sua voz abafada vindo depois da estante de livros à minha frente, como se não quisesse ficar próximo à mim, utilizando do objeto entre nós para expressar-se sem precisar me encarar. Se eu não estivesse uma pilha de nervos por todos os motivos possíveis, até riria de como o grande assassino se encontrava, balbuciando, gaguejando, perdido nas palavras. Era engraçado porque ele parecia tão nervoso quanto eu, sua ansiedade atacando, tal como a minha.

–Se não quiser falar nada, não precisa. –Não disse isso pelo seu bem estar, disse pensando no meu, no meu coração correndo, na missão em minhas mãos, nas ações que dependiam de mim, não poderia me permitir ser distraída.

–Mas precisamos, esse é o problema. –Um silêncio se seguiu e mesmo que eu não pudesse vê-lo, quase pude visualizar enquanto ele engolia em seco. –O que eu fiz naquele momento foi impulsivo e...

–Sim, eu entendo. Não é como se você sentisse algo por mim. –Com suas palavras, fui entendendo o que ele queria dizer, juntando-me à sua linha de raciocínio. O que ele me dizia fazia certo sentido e talvez eu não quisesse pensar em outra possibilidade.

–Também posso me assegurar que não há sentimentos dessa forma vindos de você à mim. –Ele voltou a dizer com mais segurança em sua voz.

–Claro, obviamente. –Pude apenas concordar com o que ele expunha.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang