A ladra nem precisou roubar

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–Nikolai–

Aquilo, simplesmente, estava me matando.

Não ter capacidade de bater em uma porta estava me matando.

Não conseguir reunião coragem suficiente para olhar em seus olhos era pior do que uma morte por mil cortes.

E ali eu ficara, parado no corredor, a mão levantada para bater na madeira até aceitar que seria algo que eu não faria.

E aceitar que era um idiota por não tentar.

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Ainda estava repassando o que acontecera em nossa última parada em minha mente, o calor do corpo de Sombra sobre o meu enquanto caminhava do meu quarto para o andar de baixo, até a recepção da estalagem quando um braço me puxou para dentro de outro quarto, onde eu sabia que Ophelia estava ficando. Já dentro do cômodo, ela fechou a porta e pressionou meus dois ombros contra a parede, olhando-me nos olhos com o cenho franzido, preocupado.

–O que foi agora, Ophelia? –Sem hesitar com o meu tom impessoal, exausto e monótono, continuou com a seriedade em sua face.

–Me fale, o que existe entre você e Sombra? –Sua pergunta me pegou desprevenido, surpreso, abrindo a boca para responder e fechando-a logo em seguida, sem saber direito o que responder.

–Ophelia, do que você... –Queria passar por desentendido, não entregando de bandeja que poderia existir (ou já existisse) algo de fato, contudo, ela já me contara antes mesmo que eu pudesse terminar minha frase.

–Pelos deuses, não é como se eu estivesse julgando-o. Eu a beijaria também se pudesse. Só quero saber o que está se passando.

A encarei divertido e não muito surpreso. Já notara há tempos a forma como Ophelia ficava perto de Sombra, os olhares lançados.

–Eu também acho que ela a beijaria. –Assim como Ophelia, também percebera como Sombra já perdera minutos apenas admirando a mulher à minha frente com uma feição um tanto sonhadora, principalmente na confraternização em Althaia, sendo toda sorrisos e elogios para com Ophelia.

–Não me dê esperanças, rapaz. –Como se ela mesma se distraíra com a possibilidade, voltou a me encarar com ferocidade. –Tampouco tente fugir do assunto. O que tem entre vocês dois?

–De onde surgiu essa paranoia? Não há nada –mesmo que eu quisesse –entre nós. Eu sou o assassino e ela é a ladra, só isso.

Contra minhas expectativas, ela abriu um sorriso zombeteiro, provocativo e maroto, sua especialidade.

–Deuses, não acredito que a famosa ladra conseguiu roubar algo que eu não sabia que existia... o coração do assassino.

A encarei mais profundamente, não confortável para onde ela levava aquela conversa. Ela soava tão segura de si, tão certa, porém, como ela poderia saber sobre os meus sentimentos se nem mesmo eu os entendia direito.

–Você é lunática, Ophelia. Eu já te disse isso? –Ela soltou uma breve risada com o meu tom de sarcasmo revirando os olhos.

–Se sou lunática, onde você dormiu quando estávamos na ilha? No seu quarto é que não. Me pergunto onde estaria... talvez com uma certa bela ladra. –Não esperava que ele soubesse disso, me pegando desprevenido.

–Por que fora até meu quarto?

–Coisas sobre a viagem, coisas essas que resolvi sozinha já que não te encontrava.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now