Loucura da realeza

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Divagava sem um rumo certo pelos corredores do castelo, sabia somente que não ficaria um segundo a mais no escritório de Nikolai –sozinha.

Fosse o que fosse, queria apenas me ocupar.

Não poderia ir ficar com Kai e Ophelia. Por mais que exercícios me fariam bem, estaria atrapalhando todo seu treinamento por chegar de repente e tornar tudo sobre mim e sobre o que poderiam fazer para me inserir às atividades, além de ainda ter que ir trocar de roupa e parecia muito esforço para o enorme desânimo que sentia agora.

Entre um passo e outro, me encontrei à porta da biblioteca, os desenhos diversos gravados na madeira escura, tão complexos, tão bem feitos me encarando de volta até que eu decidisse entrar.

Não sabia bem o que eu faria, talvez esbarrasse com Melissa e pedisse aulas extras ou simplesmente buscaria informações por conta própria, pensando no que mais eu poderia descobrir que não haviam me contado –quem sabe apenas me esconder por ali algum tempo já seria suficiente.

Passei grande parte da minha vida sozinha e me dava bem tendo somente minha própria companhia até que, então, de repente, todos os meus dias são assistidos e guiados, quase não fiquei verdadeiramente só desde que viera ao castelo.

E, às vezes, precisava poder escutar meus próprios pensamentos.

Meus pensamentos e meus passos ecoando pelo chão encerado enquanto explorava a biblioteca, que me surpreendia a cada vez que eu entrava pelo seu tamanho.

Eu passava meus dedos despretensiosamente pelas lombadas dos livros voltadas para mim, sabendo que eu não os leria, curiosa apenas para saber seu conteúdo. Que tipo de livros a Rainha manteria em seu acervo pessoal? Será que todos se tratavam apenas de políticas, histórias e geografia, como os que eu via com Melissa?

Estava quase puxando um da prateleira com flores e vinhas gravados em dourado sobre a capa para apenas folheá-lo rapidamente quando ouvi outros passos. Pequenos, distantes, abafados e discretos passos também presentes na biblioteca.

Vinha de uma prateleira de livros no andar superior e, mesmo me esforçando, não consegui nenhuma visão no nível em que me encontrava, o que me fez, curiosamente, subir as escadas, em direção ao som o mais silenciosa possível, o que fazia com que meus passos parecessem mentirosos, como se eu não estivesse movendo-me de verdade, como se flutuasse pelo chão, apenas tendo noção da minha progressão pela minha constante aproximação.

Ao chegar perto do meu destino, primeiro, vi o chão e os pés... ou melhor, veria os pés se não estivessem cobertos por um tecido marrom grosso.

–Fugindo da loucura da realeza? –Questionei Bram aproximando-me sem segundas intenções, interessada apenas em sua companhia.

–O máximo que se é possível quando faz parte dessa mesma loucura. Inclusive, acho que a senhorita é uma das maiores loucuras da realeza que o castelo presencia em um bom tempo.

Minha mente foi direto às outras coisas que suas portas escondiam, como um assassino à mando da Rainha, uma cobra chamada arco-íris e, obviamente, as diversas pessoas delirantes repetindo a mesma frase sem parar nas masmorras.

Não tive sequer tempo para me sentir ofendida e meus pensamentos foram diretamente para os fatos, trazendo à vida minhas segundas intenções: Bram era simplesmente o erudito do castelo, o cargo dele é ser inteligente e saber das coisas –se alguém fosse saber sobre a Mania do Oráculo (para também que eu abrisse uma discussão sem estar espalhando informações secretas) era ele.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now