O nome da sombra - Crônicas de sombra e luz

O último Galene

–Torryn–

–Olha só quem apareceu mais cedo aqui. –Elowen, que organizava as cadeiras no antigo santuário, falou em tom de provocação quando me viu entrando.

–Minha última missão foi aqui perto, foi bem mais fácil pra vir.

–Acho incrível você não estar atrasado, mas você bem que poderia vir e me ajudar com as cadeiras, não? –Saí de onde estava e fui até ela, já pegando um dos assentos e imitando-a. Elowen tinha apenas um ano a menos que eu, bastante esguia, uma altura pouco acima da média e pele morena, não tão escura como a minha. Ela tinha traços diferentes dos meus, de origem ao norte das ilhas do leste, com grandes olhos castanhos, diferente de seu cabelo liso e comprido, seu nariz com uma pequena curva dando um charme final para sua face. Ela não gostava de usar vestidos, quase nunca havia visto-a usando um, agora trajando uma calça cinza escura, quase preta, e uma camisa branca que a vestia bem.

–Que lindo vocês trabalhando! Finalmente alguém que não seja eu fazendo alguma coisa. –Me endireitei e olhei para a entrada, por onde Nisha passava e ri como se ele tivesse dito a mais engraçada das piadas.

–Elowen, olha que graça, o Nisha acredita de verdade que faz alguma coisa que envolva qualquer esforço da parte dele. –Elowen, que é normalmente muito focada, largou uma cadeira e levantou os olhos para mim com humor, um sorriso em sua boca, depois se voltando para Nisha.

–Nisha, você é quem traz a alegria para meu dia. Quem mais seria capaz de me fazer rir como você? –Ele, por sua vez, nos devolveu uma careta como que descartando nossa ironia.

–Ora, em qualquer organização que se preze, existem os braços, o cérebro e o apoio moral. Eu não posso ser tudo, devo deixar alguns postos para outros já que eu sou, claramente, o cérebro, o suporte e a beleza. –Ele falava já se afastando de nós, caminhando em direção à sala de reunião que ficava no final.

–Espere, é sério que você não vai vir aqui nos ajudar? –Elowen perguntou-o quase ofendia, irritada e incrédula.

–Elowen, minha querida, apoio moral já é ajuda. Você tem que ter um espírito mais bondoso. –Antes que ela pudesse retalhá-lo, ele saíra, o que a fez bufar.

–Elô, me surpreende você ainda se deixar afetar com Nisha. À esse ponto, já deveria estar acostumada com esse comportamento padrão dele. –Thalia surgiu no portal, com Enver em seu encalço, indo direto para a jovem ao meu lado. Ao passar por mim, apertou meu obro, me direcionando um de seus sorrisos que faziam seu rosto brilhar, chegando até Elowen e abraçando-a. Thalia era alguns anos mais velha que eu, mas sua responsabilidade a fazia parecer mais velha. Sempre fui bem ciente da nossa diferença de idade, mas isso não me impedia de admirá-la à distância por ser uma mulher tão bela. Seus cabelos eram ruivos, vermelhos escuros, olhos profundamente azuis esverdeados, como água e bochechas proeminentes e rosadas, assim como seus lábios cheios. Sua confiança também impressionava, andando com o ritmo único de seu corpo bem curvilíneo e de forte porte. Sua personalidade era ainda mais chamativa, recebendo atenção pela sua alta risada, sendo toda sorrisos açucarados e bom humor, mesmo que soubesse bem se impor quando o momento pedia e, quando o fazia, todos paravam para escutá-la. Ela era dona de uma mente afiada que, muitas vezes, fingia não ter, fazendo as pessoas a subestimarem de propósito para ter mais informações que percebessem que davam.

Enver era seu marido, casados há 3 anos e já com um filho de 1 ano. Ele não era tão marcante como ela, se tratando que um homem mais sério, de poucas palavras, sempre muito enfático. Ele devia ter alguns centímetros a menos que eu, cabelos curtos, quase rentes ao couro cabeludo, pele morena, tons mais claro que eu e olhos escuros, com uma tatuagem descendo pelo lado esquerdo do pescoço. Nunca vi direito o que era, o que se dava para ver não tinha qualquer forma e eu nunca perguntara. Ao invés de sua parceira, ele não veio até nós, ficou parado onde estava, perto da entrada, dando nada além de um aceno para nós enquanto observava Thalia.