De respirar a se afogar em um segundo

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Sua voz era como um sopro frio contra a minha pele.

–Claro. –Consegui articular em resposta.

Dayna, sorrindo sob uma máscara e tinha as extremidades simulando asas, como a fênix que era seu símbolo, um vestido com penas de ouro servindo como corset, o decote deixando que parecessem asas douradas, passou minha mão para a dele, encaminhando-me novamente ao centro da pista de dança ao centro do salão. Eu não sabia as coreografias, se sequer houvessem coreografias, seguia apenas meu parceiro, que parecia ter uma noção melhor que a minha.

Sua mão direita repousava em minha cintura enquanto a esquerda segurava a minha mão esquerda, braço estendido até chegarmos em nossa posição juntamente com outros casais.

Mesmo com a máscara que parecia ter sido esculpida em mármore com detalhes em prata tampando metade de seu rosto, sua expressão era visível.

Ah, belo assassino.

Parecia compartilhar da mesma tensão que eu.

–Você está... –Sua voz quebrara o silêncio entre nós, analisando cada centímetro de mim sem me deixar desconfortável.

Ao perceber que ele não terminaria a frase, abri um sorriso para provocá-lo.

–Sabe que não morrerá se disser que estou bonita, certo?

Seu foco recaíra sobre mim e meu sorriso desapareceu involuntária e lentamente, presa na intensidade de seu olhar.

Não olhe para mim assim.

Não pode ser algo –não pode ser nada.

Bonita não faz jus ao que estou vendo agora. –Droga.

O tempo se expandiu e se comprimiu, restando apenas nós dois na pista de dança, no salão, no castelo, no mundo inteiro, uma eternidade de apenas nós dois até a música começar.

Era uma balada animada, indo para lá e para cá guiada por Nick, imitando as outras parceiras, arrepiando-me quando sua pele tocava a minha furtivamente. Em um passo, eu deveria colocar meus dedos sobre os dele, mas Nikolai acariciara meu pulso com seu dedão tão discretamente que parecia minha imaginação.

Voltando a ter noção, sabia que precisava atualizá-lo sobre os acontecimentos. Próximos o bastante e distante dos outros, comecei a falar.

–Está no escritório de Corbin. –A música abafava as palavras, permitindo me dei sentir um tanto mais confiante para falar aquelas coisas sem que estivéssemos escondidos (e eu também não queria ficar sozinha com Nikolai).

Não podia. Das duas últimas vezes que isso aconteceu... sabemos como terminou.

–E tem problemas para chegar até lá? –No meio de um giro, balancei a cabeça negativamente, apenas uma mexida de pescoço para quem estivesse vendo de fora.

A dança se seguiu e, um movimento, fui levantada do chão, sendo abaixada vagarosamente, minhas mãos em seus ombros, meu peito subindo e descendo em minha respiração pesada e disforme estando tão perto dele.

Isso é perigoso.

Idiota, por que está fazendo isso com você mesma?

Se eu pudesse controlar, já o teria feito.

Já teria me afastado, tirado meus dedos de sua jaqueta que eu acho linda e parado de olhar para seus olhos –e sua boca.

–Posso roubar sua parceira para essa dança? –Ah, não.

Não poderia ser.

O que a porra do Asher está fazendo aqui?

Afastei-me de Nikolai no mesmo instante que ouvira o falso rei falando, recebendo um olhar do auxiliar da Rainha que alternava sua atenção entre mim e Asher, uma máscara que imitava duas asas de borboleta sobre os olhos pintados elegantemente de preto, Nick curvando-se levemente antes de afastar-se, lançando-me um último escrutínio antes de ir.

Asher pegou-me pela mão e segurei meu refluxo quando senti seus dedos passando pela minha cintura.

–Devo parabenizá-la pela entrada. Quebrara vários pescoço até chegar aqui. –Com um sorriso travado em meu rosto, virei-me a ele.

–Pena que há apenas um pescoço aqui que eu gostaria de quebrar.

Ele riu –o desgraçado riu.

–Parece que você criou uma certa afinidade com o auxiliar da Rainha, não? –Voltando-se para mim com seus olhos de lince, escuros como a noite. –Torryn sabe disso ou ele já fez o suficiente para você?

Meu sangue passou a ferver, querendo fincar minhas unhas em sua pele –quase o fiz, sendo sincera.

–Não sou quem usa as pessoas ao meu favor pessoal. O que está fazendo aqui?

Fazendo-se de desentendido, passou os olhos pelo salão como se minha pergunta não tivesse sido clara.

–Aqui em Drítan ou aqui no castelo? –Meu olhar era mortal para ele, aumentando gradualmente a força que tinha meu aperto sobre sua mão, provocando-lhe uma breve careta puxando um pouco seus dedos para evitar esmagá-los, retornando-me um sorriso. –Puxa, você é tão séria! Esses rapazes não devem estar fazendo a parte deles direito. –Como eu queria socar a cara daquele arrogante prepotente. –Você não sabia que esse é um baile diplomático? Todas as cortes são convidadas.

–Você não é rei, não tem corte. –O desgosto em sua expressão estampado em um sorriso de lábios comprimidos. Ele não gostava de ouvir a verdade.

Ele não tinha coroa sobre seu cabelo penteado. Pobrezinho.

–Meus súditos, boa parte de Althaia, discordaria de você. –Repentinamente, seu braço me puxara para perto, sua voz ao lado do meu ouvido. –Faça seu trabalho direito. Não quer fazê-lo por mim? Sem problemas, mas faça por quem você se importa. –Ajudar quem eu queria ajudar acabava afetando ele positivamente por tabela e eu não queria isso.

Queria que ele não tivesse um pingo de poder para chamar de seu.

E faria isso.

Antes da música terminar, um homem com uma máscara que deixava apenas a boca e os olhos à mostra, o resto do rosto coberto por uma máscara que claramente não havia dado trabalho para fazer, apenas um pedaço de metal com dois furos para enxergar.

–Meu Rei, requerem sua presença. –Congelei.

–Se me dá licença, irei tratar de assuntos mais importantes. Fora um prazer dançar com você.

As palavras de Asher foram esmaecendo, quase não percebendo a ironia em sua última frase, focada apenas na voz do homem grande e alto que viera chamá-lo.

Aquela era...

Aquela era a voz

"Acorde, Calia"

Não pode ser.

"Aconteça o que acontecer, não saia daí, meu amor"

Não!

"Tem mais alguém aqui com você?" Seus gritos ainda ecoavam em meus ouvidos, frescos em minha memória, protagonizando meus pesadelos desde que tinha 7 anos.

Era ele.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now