Diplomacia e chá

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Pulei da cama com Ophelia invadindo meus aposentos, acelerando-me para já ajeitar-me, tendo em vista algum evento ao qual deveríamos comparecer –realeza insuportável. Que tipo de evento acontece tão cedo?

Como estava sem dama alguma para auxiliar-me, Ophelia tirou a roupa que ela própria escolhera do meu armário, um belíssimo vestido vermelho com pequenos diamantes intrincados no tecido, de forma que brilhava com o movimento, possuindo um decote menor do que eu usara no dia anterior, até o final dos seios, onde começava um cinto de espartilho feito inteiro em prata, ornamentado com detalhes tão minuciosos entre galhos e vinhas também em prata que parecia mais uma tela de arte, sem fendas dessa vez, e mangas costuradas de ombro a ombro em um tecido vermelho mais transparente ainda sem expor, em minhas costas, as cicatrizes sempre presentes.

Como era de se esperar, era algo estonteante de se ver disposto em minha cama, colocado lá por Ophelia, no entanto, quanto mais observava, mais complicado me parecia, alegando que precisaria de ajudar para entrar nele, ajuda essa que Ophelia concordou a oferecer resignada a fim de não nos atrasarmos mais para o que, descobri enquanto me vestia, era um café da manhã entre os convidados dos reinos diversos, já que a nossa parte da comitiva fora uma das últimas, todos já presentes.

A única coisa que eu permitia ocupar minha mente era aquilo, vestidos belos, palavras falsas e sorrisos doces entre pessoas que não sabiam a verdade sobre mim, interpretar bem o papel a qual me foi dado.

Não poderia pensar em um certo assassino que estivera nesse mesmo quarto no dia anterior, que me beijara bem aqui (e que eu correspondera).

Saindo do cômodo, fui acompanhada por Ophelia até um jardim que não tinha visto ontem, repleto de flores e folhas coloridas ao redor de bancos de pedra brilhante que formavam um círculo na clareira, uma grande mesa com uma toalha de mesa branca com diversas opções de comida, pãezinhos diferentes dos que eu via Dhara fazendo, cheiros diferentes inundando meus sentidos, temperos, condimentos, comidas típicas de Drítan dispostas em travessas, frascos, tigelas e jarros de cristais com itens diferentes e todos muito convidativos.

–Lady Meeran, Oficial O'keefe, que bom terem vindo juntar-se a nós. –O Rei de Drítan, Corbin, falara enquanto caminhava até nós duas, escutando pela primeira Ophelia ser chamada de Oficial, com duas xícaras de cristal bem elaboradas cheias com algum líquido que não era tão escuro para ser café e oferecendo-as para nós. –Espero que gostem do que Drítan pode oferecer de melhor. Esse é o nosso chá, está adoçado com um pouco de mel e tem um pouco de limão para quebrar o doce.

Pegando-a em minhas mãos pela alça, estando bem quente, levei aos meus lábios por curiosidade, no entanto, principalmente, por educação ao presente de Corbin.

Por falta de cuidado, queimei minha língua (parece que nunca aprendo), mas o gosto era bom, era diferente e meu cérebro levou um tempo até realmente processar o que eu sentia quanto ao sabor, dando-lhe um sorriso amável e grato, observando enquanto ele se afastava –afinal, todos requerem a presença do Rei, nosso anfitrião.

Colocava biscoitos, pãezinhos, torradas e algumas coisas que eram pequenas e eu não sabia o que eram, cultura dritaniana à medida que Ophelia dizia o nome das pessoas ao nosso redor, pessoas tão diferentes, cada uma era um mundo, de um mundo tão maior que o meu pequenino e eu não poderia fazer mais a não ser querer descobrir mais sobre cada um, segurando-me para não estragar o disfarce de Lady bem estudada que, com certeza, sabia sobre o reino de cada um.

Sorria e abaixava a cabeça como reverências curtas, apenas demonstração de respeito.

–Se vierem para falar com você, apenas seja educada. –Ophelia sussurrava entre sorrisos e passos. –Você sabe como amo suas respostas, mas, por aqui, elas podem esperar.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now