A entrada não é pela porta

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–Nikolai–

–Chegaremos à Drítan exatamente no dia primeirode julho, no quarto dia inicia-se– o festival da fartura e no quinto dia, obaile ocorre no quinto dia e voltamos no sétimo dia, o que significa que vocêtem, mais ou menos, sete dias para checar todos os possíveis lugares onde os registros podem estar e roubá-los, então precisamos roteirizar a ordem dos lugares que você irá por níveis de facilidade e como você os invadirá. –Eu falava a Sombra em meu escritório iluminado por lanternas e poucos candelabros por ser tão cedo e o sol ainda não ter despontado no céu, deixando meu cômodo, normalmente bem claro pela luz que entrava pelas janelas, na escuridão se não fosse pelas velas.

Eu e Sombra estávamos atrasados com o plano de furto, considerando que em quase todas as nossas reuniões tiveram... contratempos e hoje seria a primeira vez que teríamos que apresentar o que já tínhamos preparado para a Rainha, os mestres e Bram e não tínhamos quase nada orquestrado, então acordei uma hora mais cedo do que já estava acostumado, às quatro da manhã, bati à porta de Sombra para acordá-la e destranquei-a, encontrando-a em confusão, perguntando-me porque precisava de sua presença ainda, teoricamente, de madrugada, dispensando a ajuda de sua dama particular, Cordélia, já que a ladra não precisava de vestidos elaborados apenas para ficar em meu escritório, o que explicava o motivo dela se encontrar com olheiras de uma noite dormida pela metade, seu cabelo cacheado sem pentear e em sua vestimenta de dormir, uma camisola branca bem elaborada e solta, sem que marcasse seu corpo, no comprimento de um vestido normal e um robe preto por cima, já que, por mais que o verão estivesse em seu início, as manhãs sempre eram mais frias, quase geladas.

Não era ideal que usasse uma camisola fora do quarto, principalmente estando sozinha comigo em meu escritório, mas certas etiquetas poderiam ser puladas considerando nossa situação –e ela não era qualquer senhorita, ela era Sombra.

–Você terá que conferir se os registros estão em um desses três locais mais prováveis, a biblioteca nacional, onde tudo da história de Drítan pode ser encontrado, ou quase tudo, no centro da capital, Solandis, onde ficaremos, a biblioteca real que fica no próprio castelo, o que pode facilitar para você e, por fim, a sala privada do Rei, possivelmente o lugar mais guardado. Sobre os dois pontos no castelo que você terá que invadir, você terá que ir pelo lado externo, ou seja, você terá que entrar por alguma janela ou algo do tipo, mas não se preocupe, a arquitetura de Drítan é muito mais segura para que você faça algo do tipo do que a daqui.

Levantei meu foco dos papéis para olhá-la do outro lado da mesa, uma aparência mais frágil do que o comum sob a luz tremeluzente, segurando uma xícara do café que eu trouxera da cozinha para nos manter despertos entre as duas mãos perto da face, o vapor chegando ao rosto, como se tentasse roubar o calor que o líquido quente proporcionava de maneira adorável –controle-se, Nikolai, essa é a mesma menina que invadiu seu quarto apenas há alguns dias e te ameaça sempre que tem chance, nada sobre ela é adorável, não se deixe enganar por um rosto bonito.

–Ei, aqui vai uma ideia louca, por que eu simplesmente não uso a porta? Nós dois sabemos sobre minhas habilidades de abrir fechaduras. –Ignorando o sarcasmo em sua voz, balancei os ombros, prontamente descartando a possibilidade que ela abrira.

–Acho fofo você pensar que seja simples assim, mas a tranca de Drítan é bem mais complexa. Você, que está acostumada com a de Althaia, pode não ter chance nenhuma se for garantir-se apenas com a capacidade de abrir as portas daqui, isso sem contar nos guardas que ficam nas entradas.

Sombra respondera com uma bufada, torcendo o nariz ao ouvir toda a ironia que carreguei ao chamar algo que ela fizesse de fofo e em seguida tomando um pequeno gole do café preto enquanto caminhava entre minha sala sem um motivo específico, inimiga de ficar parada, com passos delicados e silenciosos, movimentos quase felinos.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now