Encontro inesperado

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De repente, pareceu como se eu não havia ingerido uma gota de álcool sequer durante a noite inteira, sóbria como se tivesse mergulhado em um balde de água fria –o que, de certa forma, foi.

–Como disse?

Eira percebe como fiquei abalada, obviamente, mas não sabia em quantos graus.

–Não sei bem, foi algo muito recente. Acredito que havia uma investigação ou algo do tipo e identificaram ela como uma das informantes da resistência que trabalhava para o castelo.

Meu sangue ficou gelado sob a minha pele, senti a cor deixando meu rosto.

–Eira, se incomoda de me deixar sozinha agora? Eu consigo terminar de me arrumar, é que estou ainda chocada com isso. Preciso apenas de um tempo só para assimilar. –As palavras que eu dizia nem pareciam minhas. Eu ouvia minha voz, entendia o que era falado e, ainda, sentia como se fosse uma espectadora da cena.

–Não há problema algum, senhorita Sombra. Vou te dar espaço para digerir essa informação. Acredita que vai precisar de mim ainda hoje ou volto pela manhã para checar a senhorita? –Eira, um poço de compreensão, exprimia com a voz ferida também.

Não cheguei a pensar como ela poderia enxergar os fatos, como deve ter se sentido traída por alguém com quem trabalhava por tantos anos, como deve estar se sentindo levemente perdida, como se uma amiga a tivesse apunhalado pelas costas e compadeci.

–Você precisa descansar para absorver a surpresa também, não se preocupe comigo, ficarei bem.

Dirigindo-me uma reverência rígida e rápida, virara de costas e eu me encontrava sozinha, permitindo, finalmente, a ansiedade tomar controle.

Cordélia havia sido capturada.

Cordélia estava presa.

O que sabiam sobre ela? Que ela ajudava a resistência. Algo mais? Sabiam exatamente o que ela fazia? Não deve ser difícil fazer as conexões.

O que fariam com ela? Precisavam de respostas. A torturariam? Ela sucumbiria? Entregaria informações sobre a resistência?

Entregaria informações sobre mim?

Cordélia poderia morrer. (Poderia?)

Não só Cordélia encontrava-se em perigo e, sim, todos ao seu redor –inclusive eu.

Cerrei os punhos, sentindo minhas unhas fincando forte em minha pele na tentativa de me controlar, não é inteligente para uma ladra ficar afoita.

Em rápidos movimentos, tirei o restante dos adornos que usava e puxei minha roupa discreta sob a cama, mantendo-a escondida para que outras pessoas não encontrassem e a coloquei, o veneno que Nikolai havia me conseguido no bolso da calça e a corda fina, mas resistente, que requisitara à corte encontrava-se enrolada, de forma que ficasse pequena e nada pesada, dentro de um bolso no interior da minha capa preta ao lado de dentro, mesmo esconderijo onde um pequeno pano era mantido.

Esperei perto da minha janela a lua avançar conforme os sons iam gradualmente desaparecendo.

O castelo estava ocupando mais pessoas que o normal, pessoas essas que não sabiam da minha real identidade e que não poderiam saber.

E, se quisesse chegar até Cordélia, teria que ser por dentro dos corredores do palácio, abordagem ainda mais perigosa –não que antes já não fosse.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde as histórias ganham vida. Descobre agora