O que uma ladra faz? Ela rouba

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De fato, a primeira coisa que peguei assim que entrei ao salão fora uma taça de vinho –não tinha intenções de passar pela noite sóbria.

Melissa passara pela entrada antes que eu, indo direto até pessoas importantes com caras de constipados.

Em poucas batidas de coração, o copo em minha mão encontrava-se vazio, sendo deixado na bandeja de um dos empregados do castelo que perambulavam entre as poucas pessoas na "festa" com uma das minhas mãos enquanto a outra pegava uma nova bebida, dessa vez uma caneca com a cerveja branca borbulhante.

Passei meus olhos pelo local na expectativa de encontrar qualquer pessoa que pudesse conversar para que não fosse deixada sozinha com meus pensamentos, meu coração batendo mais forte com a perspectiva da viagem estar se aproximando, apenas mais dois dias até encontrar-me em um navio, até encontrar-me em um caminho sem volta onde me era oferecido apenas duas opções: conseguir ou... falhar, para não dizer outra coisa. Essas eram as opções que me eram dadas –mas eu pretendia criar algumas outras para mim.

Balancei minha cabeça, não era para esse caminho que queria que meus pensamentos fossem hoje, dei mais um gole e visualizei a primeira pessoa conhecida em meu campo de visão.

Nikolai estava bem arrumado, uma blusa branca limpa, sem a jaqueta vermelha dos Meliones e, sim, uma jaqueta preta, a mesma cor de sua calça, com detalhes prateados, seu corpo escorando-se pelas costas à parede. Seu olhar também estavam em mim.

Mais um gole.

Comecei a caminhar em sua direção.

Ele tomara um gole de seu vinho, sua face pétrea.

–Uh, tão sério. –Mais um gole. –Você não sorri?

–Por que eu deveria estar sorrindo? –Ele me retornara, olhos presos aos meus.

–Ora, é uma festa, não um funeral. –Mais um gole.

Nikolai ainda não sorrira, mas contraíra seu maxilar, estudando-me.

–Você está bem bonita hoje. –Mais um grande gole.

Ele estava saindo do roteiro e eu não sabia reagir.

Acredito que ele nunca tinha um comentário minimamente relacionado a minha aparência, talvez apenas quando tinha uma faca em meu pescoço ao dizer-me que eu parecia com um convidada do castelo e não mais como uma prisioneira, referindo-se mais ao fato de que não estava presa.

Fiquei parada à sua frente, observando-o levar sua taça de vinho aos lábios mais uma vez sabendo que não conseguiria encontrar uma resposta e percebi que era esse seu objetivo, desestabilizar-me. O porquê eu não sabia, mas vindo de Nikolai, sabia que poderia esperar de tudo.

Quando pensei que poderia congelar naquela posição, finalmente escutando a voz de Kai próxima.

–Se me der licença. –Não curvei-me (seria um tanto impossível com o vestido que me encontrava, mesmo o tendo feito à Melissa, percebo agora), apenas virei-me em direção à voz de Kai e segui.

Mais um gole. Como já havia acabado com minha caneca de cerveja?

Da maneira mais rápida que poderia, tomei em mãos outra taça de vinho a caminho de uma mesa ocupada por algumas cadeiras, Ophelia encontrando-se sentada lá, e várias pessoas de pé ao redor, cartas de baralho sendo jogadas ao centro, gerando grandes reações de quem observava.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde as histórias ganham vida. Descobre agora