O nome da sombra - Crônicas de sombra e luz

A realeza de Drítan

–Não poderia pensar em roupas melhores para cavalgar. –Disse, coberta de ironia enquanto me forçava manter sobre o cavalo com um vestido esvoaçante, felizmente capaz de manter uma perna em cada lado do animal, abominando a ideia de cavalgar sentada lateralmente, a longa fenda que se seguia perto do quadril do lado direito auxiliando em minha movimentação.

–Você conhecerá o Rei de Drítan e sua irmã, a praticidade nas roupas pode esperar. –Ophelia comentara vestindo sua jaqueta vermelha coberta de medalhas, a mesma que Kai trajava. Era sua roupa de oficial da guarda da coroa, mas Nikolai não era guarda ou sequer oficial, ele era o auxiliar da Rainha, com a jaqueta preta com medalhas prateadas que usara na confraternização.

E, eu, era Lady Meeran, em um vestido completamente disfuncional para andar a cavalo.

–Ah, Sombra, por falar na princesa de Drítan, é melhor que eu te avise que ela pode ser um tanto... complicada. –Kai intervira ao meu lado.

–Complicada como? –Sua educação não permitia que falasse mal de alguém, sendo apenas vago.

–Uma grandessíssima filha da puta. –Ophelia respondera por Kai, olhando firme para frente enquanto adentrávamos em Solandis, a capital de Drítan. Pela forma que dissera, não pude conter uma risada, Kai lançando um olhar de reprovação à Ophelia que era mais parecido com "não xingue a princesa em seu próprio reino" do que "não chame pessoas de filhas da puta", provocando um balançar de ombros da parte dela como resposta. –Falei apenas a verdade, sua fama a precede.

Desligara-me do que eles falavam na tentativa de absorver toda a imagem da cidade. Não conseguia ver muito ao passar apenas pelas vias principais, mas o que enxergava era suficiente para roubar meu fôlego.

Em contraste com o caminho árido, amarelo e laranja que tomamos até chegarmos ali, Solandis chegava a ferir meus olhos com tantas cores vibrante, a versão de cidade das feiras de Kava. As paredes das lojas, das hotelarias, das casas eram cores vivas, como se Drítan respirasse todos os tons de azul, roxo, vermelho, laranja, verde, rosa, deixando o caminho com um aspecto alegre, toldos coloridos em suas entradas tentando buscar uma forma de proteger-se contra o calor.

Ao contrário da terra batida ou das pedras escuras que ocupavam as ruas de Althaia, Solandis tinha claros ladrilhos brilhantes que refletiam o sol, aparentemente impossíveis de serem manchados de terra, iluminando ainda mais a cidade que se banhava no sol do auge do verão.

As pessoas por quem passávamos nos lançavam olhares curiosos e divertidos, como algo que eles nunca viram antes, espelhando minha própria reação.

Lançando meu foco à distância, uma colina que crescia um pouco mais longe, nos limites da cidade, ruínas grandes e vazias erguiam-se imponentes mesmo que castigadas pelo tempo impiedoso, reduzidas à uma fração do que já foram um dia, quando estava em sua glória durante o período dos antigos, dos primeiros antes de se destruírem. Drítan era conhecido por ainda ter tantas ruínas do antigo mundo, coisa que Althaia também tinha, porém nossas ruínas eram mais espalhadas entre o reino.

Mais ao centro da cidade, as torres do castelo começaram a despontar por trás das outras construções, destacando-se por ser feito em uma pedra brilhante similar ao que se encontrava nas vias que passávamos, porém ainda mais brilhante e clara, ouro, prata e pedras preciosas ornamentando mais a minha visão.

Como um dia meu mundo pôde ser apenas as ruas, os becos e vielas de Kava quando tudo isso existia?

Quando nossos cavalos pararam entre uma praça circular com uma grande fonte rasa ao centro e a frente do castelo, com sua grande porta de mármore, uma pessoa jovem a cada lado com vestes formais de, supus, sua própria guarda, atrás de fortes e altas colunas brancas que sustentavam o teto, Kai me ajudara a descer da minha montaria e um homem entre os quarenta anos caminhara até nós com uma equipe de três pessoas logo em seu encalce, recebendo-nos com um sorriso.