O nome da sombra - Crônicas de sombra e luz

É apenas lógico

–Torryn–

–Então eu não vou? –Perguntei a Asher enquanto Thalia e Elowen deixavam a sala depois de ajudarem a me atualizar sobre o que perdi nos dias da minha viagem.

Asher tinha hematomas no nariz, a feição mais irritadiça que o normal, adquirido de alguma forma que ele não quisera contar e eu, tendo noção, soube que não era algo do qual eu poderia pressioná-lo a falar.

–Tivemos uma discussão e foi consensual que Enver seria melhor lá do que você. –Ele estava mais sério, não querendo ter aquela conversa comigo mesmo sabendo que estava se submetendo a isso ao momento que escalara Enver para ir à Drítan e não a mim.

–Só que Enver não conhece Sombra. Se, ao todo, eles tiverem trocado três palavras, seria demais. Ela não se sente confortável com ele, quase um desconhecido. Ela precisa ser acompanhada por alguém em quem confiava.

–Por que sempre que esse assunto surge, parecem esquecer-se da presença de Elowen? Ou vai usar os mesmos argumentos sobre Enver com ela também? –Fui pego um tanto de surpresa com a aspereza em suas palavras, como se ele estivesse conversando com um possível aliado que pegava em seu pé e não com um amigo de longa data, um líder de sua resistência.

–Perdão se estou sendo inconveniente, –lhe devolvi em seu mesmo tom jocoso –mas se estou te falando isso, é porquê não é infundado. Sombra já estará indo em um lugar desconhecido e você ainda quer mandá-la com pessoas que a conhecem por pouco tempo. Sem falar que tirar Enver de sua família que tem um bebê pequeno, sinceramente, é meio sem noção, para não falar insensível.

–Eu fiz o que era prático. Ficar de fora durante os dias de planejamento e retornar já querendo mudar tudo é um tanto arrogante e prepotente. Quer mesmo entrar nisso?

–Eu viajei porque você me pediu! Não venha colocar a culpa dessa situação em mim. –Não pude evitar de aumentar minha voz, minha cabeça esquentando a cada palavra que Asher dizia, ele sendo, na melhor colocação, um filho da puta. –Se quer enviar Enver no meu lugar, como havíamos combinado antes, e ter uma má execução do plano, fique à vontade, só não venha até mim quando perceber que fizera uma decisão burra, me pedindo para ajudar a consertar seus erros.

–Por que você quer ir, Torryn? –Ele se encontrava do outro lado da mesa, apoiando suas duas mãos sobre a mesma, o corpo inclinado, o olhar pétreo focado em mim, a voz calma e controlada. –Seja sincero.

Sua tranquilidade, mesmo que visivelmente forçada, me desestabilizara por um momento.

–Não se esqueça de que fui eu quem a encontrou e quem a apresentou para a resistência, você deveria ter mais consideração ao que eu faço pela...

–Pare de mentir! –Asher disse finalmente descontrolando-se, batendo na mesa enquanto esbravejava. –Você acha que sou estúpido? Acha, Torryn? Ou que sou cego, talvez, só assim para não ver o que há entre vocês dois, como a olha parecendo um cachorro. Você quer ir a Drítan para acompanhá-la, não pela causa.

Cruzei os braços ao inclinar-me para trás, quase rindo de escárnio.

–Isso seria inveja, Asher? Você tem interesse nela e pretende me tirar de perto da Sombra, é isso? Pelos deuses, como você é patético. –Asher veio ficar a minha frente rapidamente, o maxilar rígido, o punho cerrado e eu soube o que se passava em sua mente apenas com o olhar, pouco menor que eu.

Ele não me bateria –Asher sabia melhor do que pensar que poderia me vencer em um combate corpo a corpo.

Mas o brilho em seus olhos pretos demonstravam a vontade.

–Enver ficará e eu irei. Só volte a conversar comigo quanto aceitar que essa é a solução mais lógica. –Já estava virando-me em direção à porta quando ouço sua voz.

–Não esqueça, caro amigo, eu ainda sou seu Rei. Talvez te dar tanta intimidade fez com que você esquecesse disso. –A mão no batente aberto, de costas a ele, girei minha cabeça para observá-lo bem.

–Você não tem poder sobre mim se eu sou o seu poder. –Eu executava suas vontades, era teoricamente a mão do Rei e, agora, sua própria mão não podia controlar-me.

E eu iria acompanhar Sombra.

Não seria Asher que me impediria.