Roubando um pouco de volta

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Eu não dormi direito –quem dormiria?

Tudo pendia sobre minha cabeça e eu não conseguia mais fingir que não: a viagem à Drítan, o roubo dos registros, o que fazer se quando os tiver em mãos e, agora, mais o peso da chantagem de Hayes, o que eu menos queria fazer.

Partiríamos amanhã ao amanhecer e a ficha ainda não havia caído. Todo o castelo estava em correria, menos eu. Eira, em tese, expulsou-me do meu próprio quarto para que não a atrapalhasse mais enquanto ela organizava tudo metodicamente, todos os vestidos confeccionados por elas, belíssimos e complicados para ser manejados sozinhos.

Kai e Ophelia estavam ocupados organizando-se, não encontrava Nikolai e sabia que a Rainha, assim como sua esposa, os Mestres e o Erudito já estavam à caminho de Drítan, então estava vagando deliberadamente pelos corredores do castelo, pulando de azulejo em azulejo com um vestido mais comum dessa vez, preto com singelos detalhes em prata –não havia ninguém para impressionar agora, não precisava ser Lady Meeran, era apenas Sombra.

Tentava colocar qualquer coisa em minha cabeça que não fosse a minha ansiedade em meu encalço, então contava as janelas pelas quais eu passava, observava os trabalhos de artesãos ao me deparar com tapeçarias, notava os pequenos detalhes nos vitrais e como a luz se refratava e dançava colorida pelos vidros.

Por algum motivo, terminei na biblioteca, os dedos flertando com lombadas de livros que eu nunca leria, livros mais antigos que eu, histórias que eu nunca conheceria até o sol ir avançando no céu.

Estava quase dirigindo-me para fora a fim de ficar no jardim até o pôr do sol quando um rapaz franzino e da minha altura, não muito mais velho ou mais novo que eu surgiu me procurando com um pequeno papel em mãos.

–Senhorita Sombra, tenho uma mensagem direcionada a você. –Ele tinha olhos assustados e suas fisionomias, ao mesmo tempo que não me eram estranhas, não me pareciam muito familiares também. Com um aceno de cabeça, o jovem fora dispensado com o que ele carregava já em minhas mãos.

Curiosa com o tamanho do papel e por ter sido designado por um mensageiro, o abri e não reconheci a letra.

"Encontre-me na praça central, perto da fonte dos deuses.

-T "

Sorri ao notar o T ao final, mesmo tentando contê-lo.

Imediatamente, dirigi-me à saída querendo encontrá-lo, mas sabia que não poderia passar pelos portões desacompanhadas e pular o muro durante o dia era arriscado, então fui atrás de Kai para que ele pudesse acompanhar-me, encontrando-o sentado na cozinha, conversando com Dhara que, por sua vez, oferecia biscoitos.

–Oh, minha criança, você já está tão bonita! –Dhara soltou assim que me viu parada à porta, caminhando até mim a acariciando minha bochecha, onde ela sabia que, por baixo da fina camada de maquiagem, um hematoma sarando se encontrava, quase totalmente imperceptível a quem já não soubesse de sua existência. Ao falar, a cabeça de Kai, que estava de costas para a porta, virou-se para me ver. –Acho que a vida no castelo combina com você. –Quase ri nesse instante. Ah, Dhara, se você soubesse como realmente é. Se há algo definitivamente que não fora feito para mim, era a realeza. Seus olhos escureceram-se por um momento, dedos ainda traçando minha pele. –Precisa apenas ter cuidado, minha criança.

Coloquei minha mão sobre a sua, abraçando sua amabilidade.

–Tentarei, Dhara. Prometo que tentarei. –Ao dar minha resposta, ela oferecera-me um sorriso cálido e voltou a atenção aos biscoitos.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ