Deveria?

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A barra do meu vestido estava marrom –não que fizesse diferença ao tecido velho e já manchado nas pontas.

Eira organizara apenas os vestidos novos confeccionados por ela, Cordélia e Wren, mas eu não pude me impedir de colocar algumas peças dos meus próprios vestidos antigos como uma forma de prevenção (além de, claro, minha roupa preta de ladra). Em alguns momentos, momentos como esse, precisava passar pelas ruas despercebida e não conseguiria fazê-lo com as roupas de Lady Meeran.

Seguia as informações que estavam no pedaço de papel que Torryn havia me dado na fonte, pedindo informações sempre que não conseguia me localizar, caminhando bastante até o outro lado da cidade.

A estalagem que estava escrita junto com outras informações se chamava "Dommegers", devendo fazer sentido a quem falasse dritaniano, certamente não a mim.

Quando estava quase aceitando que eu não os encontraria hoje, avistei de longe o letreiro de metal enferrujado, meio esverdeado e fui em sua direção até que fui puxada pelo braço à um beco pouco iluminado, úmido e apertado perto da hotelaria, meu primeiro instinto sendo me defender, atacando a pessoa que me segurava, agarrando a mão que repousava sobre mim e girando-a até a silhueta encontrar-se de joelhos no chão lamacento para que o osso não quebrasse, notando, por fim, que a pessoa era Torryn.

–Bom saber que não preciso questionar seus reflexos. –Ele dissera com bom humor mesmo com uma careta de dor estampada em sua face, soltando-o imediatamente e ajudando-o a ficar de pé com culpa em meus olhos, sobrancelhas franzidas e um sorriso nervoso e envergonhando surgindo em mim.

–Você definitivamente deveria parar de tentar me surpreender ou uma hora acabo te machucando. –Com um sorriso leve entre os lábios, segurou o pulso girado com a outra mão e massageou-o.

–Acho que essa hora já chegou. –Ele rira divertido, incapaz de ser abalado com minha ação. –Na realidade, não poderia ficar mais feliz. Isso me mostra que eu não preciso me preocupar com a sua capacidade de se defender. –Ajeitando-se, tirou uns fios que haviam caído sobre o meu rosto durante o "ataque" e passou a mão boa sobre minha cintura, aproximando-me dele, o sorriso em seu rosto refletido no meu.

–Então o líder da resistência Torryn gosta de cantos escuros? –Seus sorriso alargou-se, os lábios bem próximos aos meus, podendo quase já sentir seu gosto.

–Não sou eu que me chamo Sombra. –Com um inclinação pequena, retribuía seus beijos, sorrisos surgindo por momentos em ambos, meus dedos brincando com seus cabelos, seu pescoço, segurando seu braço enquanto ele intercalava entre minha cintura, percorrendo-a como se fosse uma pintura, e meus cachos, clamando por mais de mim em seus lábios até, em um riso, nos afastarmos, testas coladas. –Por mais que eu adoraria fazer apenas isso...

–Temos assuntos a tratar. –O completei, sabendo que sua respiração pesada e compassada o traía em terminar de verbalizar seus pensamentos.

Sem desviar o olhar da minha boca enquanto mordia o seu lábio inferior, balançou a cabeça.

–Sim, temos.

Pegando-me pela mão, guiou-me até o quarto que alugava com Elowen, que encontrava-se sentada em sua cama dobrando roupas que tirava de sua mala, levantando os olhos para a entrada ao passarmos para dentro do cômodo e vindo a nós, recebendo-me com um abraço bem receptivo.

–Que bom ver que está bem. Como fora sua viagem? –A pergunta desencadeara sentimentos conflituosos, travando meu sorriso enquanto minha mente voltava a acontecimentos específicos do trajeto, acontecimentos com Nikolai, deixando minha mente confusa por um segundo.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now