Um é a ruína do outro

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Estava de volta ao castelo e o amanhecer ainda estava um tanto distante. Tinha que voltar ao baile, dizer que dormira por um tempo e tinha minhas forças renovadas para continuar festejando. Quanto mais tempo estivesse sendo vista e público, mais sólido qualquer álibi meu seria, então colocava mais uma vez o belo vestido vermelho, mesmo que eu pensasse que o brilho que eu sentia ter no início da noite parecia ter sido apagado.

Não poderia pedir por muito.

Ainda amarrando-o, ouvi batidas em minha porta e a voz de Nikolai do outro lado chamando-me pelo nome Amélia. Lady Amélia Meeran.

Relutante, destranquei a porta, vendo-o entrar e analisar-me sem a máscara que usava no baile.

–Nikolai! O que faz aqui? –Tentei controlar-me para soar o mais natural possível, um sorriso duro em minha face.

–Eu queria te perguntar se está bem. –Seus olhos caçavam por mim, como se não se cansasse de me ver.

Eu não me cansava de ser vista por ele.

Mas não existia somente nós dois e eu não poderia continuar fingindo que éramos o que não podemos ser (mesmo que me doa).

–Estou ótima, o que te fez pensar que não estaria? –Era tão forçada que me doía,

–Você saiu do salão um tanto... Perturbada. Perdão se isso soou insensível, -Interrompeu-se antes que eu pudesse interpretá-lo de forma errada, se importando comigo e no que eu penso sobre suas palavras –estava apenas preocupado. –Por um momento, desviou o escrutínio para o vestido, de início com admiração e talvez até desejo, segurando-me para não tomar decisão burra alguma apenas pela maneira como ele me olhava, depois ficando visivelmente curioso, o cenho franzido. –Por que está colocando o vestido agora?

Ah, Nick, não teria como você não notar as coisas apenas por um segundo?

–Não escutou quando disse no salão que estava cansada e que me retiraria em meus aposentos para descansar? Estou tirando minha camisola e voltando à minha gala para retornar ao baile. –Tentei justificar da maneira mais plausível possível, não sabendo se seria convincente.

Estudei sua postura e segui o que o seu olhar via, passando da janela aberta, de onde entrava uma brisa fresca para perto dos meus pés, onde minhas roupas pretas de ladras encontravam-se emboladas, tentando esconder com a saia do vestido entrando à frente das roupas de maneira discreta, mas não invisível.

Nikolai soltara um suspiro e voltara os olhos a mim, presos, com algo diferente, como se relutasse a algo, confuso –traído.

Parecia que o assassino não levava em consideração a possibilidade da ladra não ser honesta, como se tivesse esperança de que eu fosse mais, aquilo foi o pior.

Não posso falar que era algo completamente inesperado.

–Sombra, onde estão os registros? –Não...

–Guardados. –Fui recuando a curtos passos, passando para trás da mesa. Ainda não sabia quem mentia, não sabia quem merecia os registros. Para isso, eu precisava ser a primeira a lê-los. Nikolai não poderia ter vindo em um pior horário.

–Já pode me dá-los. –Eu continuara quieta, meu olhar preso ao seu e o vi revirando os olhos junto de uma bufada impaciente. –Os registros não pertencem a você. Seu trabalho aqui é roubá-los e nos entregá-los. –Levava minha mão disfarçadamente até a espada apoiada na mesa, sabendo que precisaria me defender caso ele me atacasse. Como viemos parar aqui? Menina tola, você nunca deveria ter o enxergado como algo além de inimigo. –Pelos deuses, você é uma mulher incrivelmente irritante.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now