Contradição

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–Que bom que conseguiu vir, Amélia! –Thalia me recebia perto da porta do templo, do lado de fora, enquanto pessoas passavam por ela, saindo do local depois da apresentação da resistência ter terminado. –Já está quase tudo decidido acerca da viagem. Entraremos na sala de reunião assim que Asher liberá-la. Venha, vamos entrar. –Thalia, tratando-me com familiaridade ao puxar-me pelo braço, próxima a mim, o sorriso fácil descansando em seu rosto mesmo distraída ao levar-me pelo ambiente enquanto se esvaziava pouco a pouco.

–Asher está sozinho na sala de reunião? –Perguntei expressando minha confusão acerca do que poderia estar ocupando-o.

–Ele está conversando com um aliado em potencial. –Elowen intervira à medida em que caminhávamos até as escadas, onde ela se encontrava, vestindo blusa e calças sob um manto, assim como o que decidira usar hoje, meu conjunto de peças pretas com o manto, nada surpreendente, da mesma cor.

Mal pude inspirar para perguntar mais sobre esse tal possível aliado quando ouvi um choro baixo de bebê, me virando em direção ao som e vendo Cordélia aproximando-se ao lado de Enver de onde estávamos, distraída e sorrindo, olhos no sobrinho em seu colo.

–Délia, você é uma santa. –Thalia direcionou-se à cunhada, mexendo na mãozinha da filha. –Obrigada por ficar com Cecília por um tempo, ela é muito agitada, não consegue manter as mãos longe dos meus seios por muito tempo.

–Espere, você está falando sobre Cecília ou sobre Enver? Agora fiquei confuso. –Nisha fez sua contribuição à conversa, aparecendo por trás das escadas, passando pela porta que dava ao Pátio dos deuses e integrando-se em nossa roda, logo recebendo uma cotovelada de Elowen e uma encarada severa de Enver (no entanto, não posso esconder que precisei me controlar para não rir).

–De todo jeito, Thalia, –Cordélia, antes referida carinhosamente como "Délia", continuara como se Nisha não tivesse dito nada, sua atenção toda em Thalia e em Cecília –já terei que ir, infelizmente. –Devolveu, com pesar, a sobrinha aos braços da mãe, abraçando tanto o irmão, a cunhada, Elowen e, por fim, vindo até mim no mesmo instante que a porta da sala de reuniões se abriu, atraindo todos os nossos olhares.

A primeira pessoa que saíra foi Asher, ainda virado para o homem que o acompanhava, alguém perto dos trinta anos, o rosto redondo, como se ainda não tivesse perdido a estrutura facial de criança, em contraste com a barba que crescia cheia e com o corpo magro, um pouco menor que Asher, trajando roupas com cortes bem feitos, bordados cuidadosos, linhas de qualidade, sapatos brilhantes, pouco gastos.

Ele queria impressionar o rei da resistência –e ele certamente tinha dinheiro para isso.

Deveria ser importante e, se meu palpite estivesse correto, ele também deveria ser importante dentro da política Melione.

Interessante.

Ele, por sua vez, perpassara seu olhar por todos nós, dispostos ao pé da escada. Ao me olhar, nossos focos convergiram, ambos se estudando, ambos tentando descobrir o que não era mostrado. Ele não era burro, então.

Sem que eu me demorasse mais tempo retribuindo seu escrutínio, os líderes da resistência começaram a movimentar-se enquanto que Cordélia puxava-me para um abraço, querendo voltar ao castelo sozinha, da mesma forma como viera, separadas para não levantar suspeitas –além de que eu ainda não tinha permissão para ficar fora até tão tarde sem que tivesse companhia apropriada (algum guarda da coroa), a única exceção tendo sido concedida ao dia 14.

–Tome cuidado ao retornar ao castelo. –Eu lhe dissera com meus braços ao seu redor, o cheiro de lavanda de seu cabelo cacheado, ainda mais que o meu, preenchendo meu olfato.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now