Sobre um belo vestido vermelho

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–Obrigada por pular o treinamento de hoje por mim. Eu não fui construída como vocês, ainda sou humana. –Confessei em tom de bom humor à Kai, o braço dado ao meu enquanto caminhávamos pelo jardim em busca de tomar sol, cansada de passar a maior parte das minhas manhãs entre paredes e fadigada pelo treinamento pesado ao qual era exposta.

Cada músculo do meu corpo gritava até pelo menor movimento que fosse, roxos aparecendo em pontos específicos do meu corpo, presentes dos meus oponentes impiedosos em combate, logo, tudo que eu precisava hoje era um momento de descanso antes da minha rotina se apertar em experimentar modelos para o vestido que viria a usar no baile diplomático.

–Não se preocupe, eu sabia que um dia seu corpo não ia aguentar treinar, era apenas questão de tempo. –Kai respondera com as palavras acompanhadas por uma risada leve, soando como melodia junto ao canto dos pássaros. Em reação, coloquei uma mão no peito como que indicasse que eu ficara falsamente ofendida.

–Está me chamando de fraca, guarda Kai? –Sabendo meu jogo, rira mais, juntando-se a mim.

–Se você permanecesse no treinamento como o restante, aí sim eu me preocuparia. Um dia de descanso é mais do que merecido, tendo em vista que não estamos pegando leve com você.

Mas o objetivo principal da minha sugestão de caminharmos pelo jardim não era a fadiga ou o sol, era para que eu conseguisse informações sobre o palácio abandonado.

Levei-o "despretensiosamente" até perto de algumas árvores onde as torres do palácio ficavam visíveis e soltei como quem não esperasse nada:

–O que é aquilo? –Notei a percepção de Kai lançar seu escrutínio sobre as torres de pedra e agir com pouco caso enquanto balançou os ombros e apertou os olhos para enxergar direito, não vendo motivo para ficar alarmado com minha pergunta inocente.

–Ah, aquele é o palácio onde a família Galene costumava ficar.

–E quem fica nele agora? –Continuei com olhos desinteressados à mesma medida que curiosos, controlando-me para que ele não viesse a perceber o quanto estava investida em descobri a verdade que aquelas grossas paredes mantinham.

–Ninguém. É uma construção abandonada por conta de uma lenda que fala que o espírito de quem morreu na casa a clama e quem quer que tentasse viver nela seria atormentado pelas almas. A Rainha, em si, não é uma pessoa muito religiosa, mas não lhe custa quase nada apenas deixar o pequeno palácio no esquecimento, por isso ela é lacrada e ninguém tem realmente contato com ela, deixando apenas que a natureza a consuma junto aos pertences dos falecidos.

Minha cabeça foi logo fazendo conexões e cheguei a somente um questionamento por fim: ninguém tem contato com a casa e, ainda, seus quadros estavam descobertos pelo lençol branco, diferente do restante dos móveis.

Alguém estaria não só desobedecendo ordens da Rainha como também indo atrás de informações sobre os Galenes.

Aparentemente, eu não sou a única atrás disso.

–Você acha que deveríamos voltar ao castelo? Creio que já esteja quase no horário da prova do vestido.

–Quer dar sua opinião sobre ele também? Não é todo dia que se pode presenciar a criação de um, segundo Bram, "vestido de cair o queixo".

Um sorriso despreocupado surgiu em seu lábios e já foi direcionando-nos de volta ao castelo.

–Será um prazer... Cordélia é uma das costureiras, certo? –Com uma risada em resposta, apenas fui caminhando de forma leve ao lado de Kai.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWo Geschichten leben. Entdecke jetzt