Deusa da (justiça) vingança

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Eu menti –menti muitas vezes, mas uma mentira se destacava naquele momento.

Não era apenas uma ladra, também era uma invasora antes mesmo de entrar no quarto de Nikolai ao ir para o castelo.

Aos quatorze anos de idade, fui atrás de Ailee. Demorei para aceitar as marcas eternas que ela havia cravado em mim, fossem físicas ou mentais, então a procurei em Kava para fazer algo.

Não sabia o que seria esse algo, mas a eu de quatorze anos não sabia lidar bem com os sentimentos.

Eu só queria que ela pagasse pelo fato de que eu não conseguia mais me aceitar inteiramente, com vergonha de tirar a blusa à frente dos espelhos. Ela acabou nem sequer estando na cidade mais, dispensada do Orfanato há tempos.

A segunda vez foi aos dezesseis. Um homem grande passara por mim e, por um instante, eu poderia jurar que era assassino da minha mãe. O seguira durante o dia, uma adaga presa firme em minha mão até vê-lo entrando em sua casa.

No meio da madrugada, em meio ao seu sono, passei pela janela aberta do segundo andar de sua casa e fui ao seu quarto, minha lâmina pendendo sobre sua cabeça, deitado ao lado de sua esposa.

Não consegui fazer nada. Dentro de mim, eu sabia que não era ele e não poderia viver comigo mesma se virasse uma assassina por uma suposição.

Mas o verdadeiro estava aqui, tão perto de mim.

Com ele eu não hesitaria.

Algo que pensava enquanto estava empoleirada sobre uma viga, observando-o pegar feno para um dos cavalos, era como a linha entre justiça e vingança eram tênues.

Até onde a justiça iria para que uma pessoa pagasse pelos erros? Uma vida por outra vida é justo, mas seria justiça?

Ou apenas a vingança sangrenta e desejada?

Fui em outra viga e derrubei a lanterna, empurrando para perto do assassino, logo acima dos fenos, a lamparina quebrando-se e espalhando um fogo rápido sobre a palha, contido rapidamente também com sua imagem assustada, pisando nas chamas antes que se alastrassem.

Ele voltara o olhar para porta, atrás de si, surpreso e assustado.

Sorri.

–Tem alguém aqui? –Ele esperava uma resposta (e eu estava pronta para dar-lhe).

–Se me considerar alguém. –Respondi escondida e mantida em segurança pelo escuro, quase colada a uma das paredes para que minha voz se projetasse e ele não soubesse imediatamente de onde vinha.

Queria que eu viesse de todos os lugares.

Queria que ele soubesse que eu estava ali, que estava chegando a ele.

Queria deixa-lo com o mesmo medo que uma menina de sete anos que passava mal vendo sangue sentiu ao ver o pescoço de sua mãe cortado à sua frente.

–Quem é você? –Direcionei-me até outra lanterna e a apaguei, observando enquanto ele recuava indo para trás.

–Já deve ter ouvido falar de mim. Posso ser Sombra, Mão Invisível, Fantasma Invejoso... deus da justiça. –Não esperava nada, então quando o vi rindo, ainda fiquei controlada, apenas observando-o, curiosa, interessada.

–A ladra de Althaia é uma menina? –Minha voz poderia não ser tão intimidadora quanto eu gostaria que fosse, como a sua voz fora para mim, mas não me incomodei. Seria a última coisa que ele escutaria de todo jeito. –Por que está em Drítan? É longe de casa, menina.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now