Capítulo 70: E se tudo mudar?

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Meus olhos vacilaram ao se abrir, a luz do sol entrava pela janela, minha pele foi aquecida por ela, o aroma de café pelo quarto fez meu estômago roncar.
A conversa na noite passada com Morte fez o clima ficar pesado entra nós dois (não pesado, mas estranho).
Me virei lentamente, mas encontrei a poltrona vazia e no criado mudo uma xícara de café e um bilhete.
" Acho que você precisa de um tempo sozinha, com seus pensamentos, volto logo.

Morte"

Olhei pela janela, vi os carros passando na rua, pessoas caminhando e senti inveja delas, elas estavam vivendo uma vida comum, uma vida muitas vezes mais simples, menos complicada e sem poderes mágicos, sem uma mãe louca e sem uma maldição.
O clima estava frio mesmo com o lindo sol, a roupa que vestia era com um tecido que não aquecia o suficiente então me enrolei na coberta.
Fiz a poltrona ficar perto da janela e me sentei nela, era como estar em um mundo diferente, mas eu já tinha feito parte daquele mundo, mas tudo o que eu sabia do mundo tinha mudado, tudo o que eu sabia de mim mesma tinha mudado, nada era como antes, inclusive eu.
Me perdi em pensamentos e imaginações de viver como uma daquelas pessoas.
Não percebi que alguém estava próximo até sentir um toque em meu braço.
- O que está fazendo aqui? Indagou Morte sorrindo.
- Pensando.
- O que será que está passando nessa cabecinha? Ele tocou em minha testa.
- Uma vida normal.
- Nenhuma vida é normal a sempre algo que a torna diferente, posso dizer que sei disso se pensarmos que eu já vive por um longo tempo.
- Sua vida foi difícil e ainda é, graças a mim, mas você acha que valeu a pena?
- Antes eu não tinha motivo para sentir que a vida e tudo que aconteceu valia a pena, mas agora eu tenho.
Ele me olhou no fundo dos olhos.
Sorri e vi seu sorriso que poucas vezes ele mostrava.
- Quer mais um café?
- Não, sabe o que me veio na cabeça agora?
- Não posso nem imaginar.
- Gadriel, estou sentindo muita falta dele.
- Ele está bem e pergunta de você o tempo todo.
- Você vê ele?
- Estou dando uma ajuda no castelo.
- Por quê seria preciso ajuda?
Morte desviou seu olhar do meu e então eu pude perceber, algo sério estava acontecendo.
- O que está acontecendo?
Ele hesitou.
- Não queriam que você soubesse disso.
- Morte.
- Os clãs se rebelaram estão unidos aos clãs inimigos e inclusive com Dalila.
- E Geneviéve e Gregório?
- Ajudaram a invadir o castelo. Disse Morte lentamente.
- Invasão no castelo?
Ele assentiu.
Me levantei da poltrona andando de um lado ao outro do quarto.
- Eu vou voltar ao castelo, já estou melhor.
- Você não vai sair daqui, você ainda pode estar com a infecção.
- Isso não importa, eu vou cuidar disso, vou dar um fim logo a isso.
- Luna, você tem que estar totalmente saudável pra voltar, eu não posso te deixar fazer isso.
Morte segurou minhas mãos com cuidado, assegurando que não estava me machucando ou encostando nos cortes em minhas mãos.
- Tire todos do castelo, anciões, soldados e todos que lá estiverem, deixe que eles tomem o castelo, mas traga Gadriel para cá e não deixe que ninguém se machuque.
Ele assentiu.
- Você vai ir ver Dastan? Morte indagou com desconforto aparente.
- Sim, você quer que eu vá com você para ajudar no castelo.
- Não, você fica aqui aonde é seguro.
- Você volta logo?
- Voltarei o mais rápido que puder.
Ele se aproximou e beijou minha testa desaparecendo como de costume.
Abri um portal, Morte realmente achou que eu iria ficar ali parada enquanto todos enfrentavam aquilo?
Atravessei o portal e cheguei na ilha, pude ver o caos no qual o castelo se encontrava, a torre estava destruída, as grandes portas do castelo mostravam sinal de arrombamento.
Me mantive olhando de longe, pessoas zangadas andavam de um lado ao outro, gritavam com armas na mão.
Então no topo da escada pude ver ela em cima de um enorme cavalo preto e sobre sua cabeça a minha coroa.
Dalila estava com um sorriso de vitória em seus lábios e segurava uma corrente, uma corrente que puxava... Gadriel, ela o arrastava enquanto ele se negava a andar e era chutado por aqueles por onde passava.
Aquilo me fez enlouquecer, ninguém faria isso com ele.
" - Você vai matar ela, você disse que se a encontrasse faria isso. " Sua voz ecoou alta em minha mente.
"- Ela está maltratado ele, você tem que mata-lá e a todos que ousaram invadir e se rebelar contra você."
Me levantei de onde estava levantada vendo que não só Gadriel estava sofrendo nas mãos de Dalila, Eva, Vosdred, Jeb e Lily estavam servindo como criados por Geneviéve e Gregório.
Ver aquilo me fez perder ainda mais o controle.
Joguei meu suporte para dentro do mar.
Meus pés não tocavam mais o chão, relâmpagos e trovoadas começaram, uma ventania tomou o salão e todos se viraram assustados com a minha presença.
- Luna. Gadriel e Eva falaram juntos notando minha presença.
- Solte-os. Ordenei e junto com minhas palavras uma ventania fez todos se assustarem.
- O que você faz aqui? Indagou Dalila mostrando um certo medo.
- Eu vim até aqui acabar com tudo isso, é a última vez que ordeno, solte-os.
- Agora quem manda aqui sou eu. Gritou Dalila.
Todos estavam perto da escada como se Dalila pudesse os proteger.
"- Mate a todos eles."
- Eu sou a rainha e quem ousar ficar contra mim encontrará seu fim.
- Peguem na. Gritou Gregório.
Todos me olharam e bolas de fogo, assim como jatos de água, rajadas de vento e raízes tentavam me acertar.
Espadas foram erguidas contra mim.
- Luna Gladius.
Com o mesmo brilho de sempre ela surgiu, a empunhei.
Afastei tudo com a rajada de vento, desci até o chão e alguns deles se aproximaram me deferindo golpes com espadas.
Em meio aos barulhos das lâminas batendo e dos gritos de ataque ia golpeando um por um.
Um homem alto e desajeitado corria em minha direção, usei seu peso contra ele mesmo e o chutei para longe.
Algo queimou ainda mais dentro de mim, foi como se minha força e velocidade tivessem aumentado, outro chute afastou mais um homem de perto de mim.
Uma garota com um pouco mais de minha idade se aproximou a empurrei para longe e quando ele tornou a se aproximar soquei seu nariz como o soco que tinha dado na parede, ela caiu desmaiada.
- Saiam do meu caminho eu não estou atrás de vocês eu quero a Dalila.
Abri meus braços e fiz uma rajada de vento varrer todos para longe de mim, sabia que não poderia usar muito do meu poder pois eu perderia o controle e o outro eu assumiria.
Olhei para o pé da escada e Dalila não estava mais lá, assim como Gregório e Geneviéve haviam desaparecido.
- Vocês querem ela como rainha? Querem alguém que fuja quando vocês estão correndo perigo? Gritei subindo as escadas e correndo até Gadriel que estava deitado no alto da escada.
Minha respiração começou a falhar novamente e eu me senti mais fraca, mas corri até ele e o abracei.
- Gadriel? Gadriel? Você consegue me ouvir?
- Luna?
- Sim, sou eu. Respondi com lágrimas nos olhos.
Ele estava com os olhos fechados choramingando.
- Me desculpe por não estar aqui com você, eu não deixaria que fizessem mal a você.
- Você não deveria estar aqui.
- Mas eu estou e vou cuidar de você, meu amigo.
- Luna. A voz de Lily e Eva correndo até mim fizeram meu coração se apertar dentro do peito.
Elas se aproximaram junto com Vosdred e Jeb e eu as abracei.
- Eu não sabia disso, se eu soubesse tinha vindo antes.
- Eles conseguiram a dominação total do castelo hoje, nos mantemos firmes pelo tempo que deu, mas hoje a maior parte dos clãs apareceram e não suportamos.
- Onde está Morte?
- Impedindo que eles entrem na sala de armas.
- Vocês estão bem?
- Estamos Luna, o pobre do Gadriel foi o que mais sofreu, porque ele se negava a chamar Dalila de minha rainha.
- Eu serei leal até o dia da minha morte a você, rainha Luna, minha rainha.
Beijei sua testa peluda e o ergui ainda respirando com dificuldade.
Abri o portal e o atravessei levando Gadriel em meus braços e sendo seguida por Jeb, Lily, Eva e Vosdred.
Mas algo ali estava errado, algo não parecia bem eu fui até o corredor e Roland correu até mim, seu rosto estava cheio de lágrimas.
- Roland, o que aconteceu?
- O Dastan.... O Dastan... Ele morreu.
Meu chão caiu assim como o meu mundo e eu caí de joelhos com Gadriel em meus braços, Vosdred o tirou.
Eu fiquei sem reação.
Ele não podia ter morrido, aquilo era um mal entendido.
Me levantei e corri até seu quarto sua cama estava vazia.
Roland veio atrás de mim.
- Isso é mentira, não aconteceu nada com ele, ontem ele estava bem. Falei em meio a minhas lágrimas.
- Ele pegou uma infecção mais forte que não conseguia ser detectada, ela era muito forte e ele não aguentou. Roland mal conseguia falar.
- Eu quero vê-lo.
- Ninguém pode, a infecção foi tão forte que pode ser passada e os médicos não vão deixar que ninguém o veja.
- Kalir disse isso?
- Kalir estava de folga hoje, um outro médico viu que Dastan estava morto e o levou, ninguém viu ele sendo levado, a última vez que o vimos foi ontem.
- Eu também. Eu soluçava sem parar.
Braços me envolveram e pude ver o rosto de Morte.
- Ele se foi. Aquelas palavras doeram tanto ao sair dos meus lábios.
Morte me segurou tentando me manter em pé.
Lágrimas escorriam por meu rosto.
Eu gritei com toda força que eu tinha, gritei como se aquilo fosse diminuir aquela dor que eu estava sentindo.
- Não. Gritei e gritei.
Depois de tudo que havíamos vivido juntos, era assim que tudo terminava? Ele morreu e junto com ele uma parte minha também havia morrido.
- Luna, eu não consigo sentir...
- Saiam daqui, me deixem sozinha. Gritei chorando desesperadamente.
Todos saíram e eu fui até a cama de Dastan, abracei seu travesseiro senti pela última vez seu cheiro e então algo me chamou a atenção algo brilhante sobre uma de suas cobertas.
O anel que ele tinha me pedido em casamento, o apertei em minhas mãos.
Uma trovoada foi seguida por uma chuva forte.
Se um dia eu tive um coração ou simplesmente tive uma alma nenhum dos dois existia mais.
O mundo não fazia mais nenhum sentido, Dastan tinha partido.
Eu só queria acordar desse terrível pesadelo, acordar e ele estar ali sorrindo como sempre pra mim, queria beijar seus lábios e o abraçar, mas aquilo não era um pesadelo.
Eu não viveria em um mundo no qual ele não estivesse, não importava se eu poderia ganhar a batalha eu me entregaria, eu deixaria que na batalha eles me matassem.
Se existe algo do outro lado eu espero que eu possa encontrar com Dastan novamente.

Fiquem atentos aos sinais.....

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora