Capítulo 89

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O susto da noite anterior ainda passava por minha cabeça, mas os treinos deixavam a cada segundo mais impossível pensar em algo mais do que tentar me manter viva.
- Ataque, pare de se defender a melhor defesa é o ataque.
Me lancei para frente atingindo os soldados de Lua.
- Impetus.
Eles voaram para longe caindo contra o chão.
- Um ataque mais forte, quero que não tenha que se desviar.
- Furorem, ira non in lucem.
Em plena luz do dia um clarão partiu de minhas mãos encontrando com os soldados de Lua, minhas mãos tremiam por manejar tanto poder de uma vez só.
- Mantenha-se firme.
- Luna Gladius.
Me lancei em direção a nova frota de soldados que surgiram, a cada segundo surgiam mais, como se fossem infinitos.
Havia alguns cortes no meu braço e apesar de estar usando tanto poder eu me sentia viva.
Minha habilidade com a espada estava no mínimo impecável, o treinamento com Sol havia me proporcionado um melhor domínio da minha espada e melhora na minha técnica, além de um arsenal de feitiços e ataques.
O último soldado caiu ao chão e eu encarei Lua, eu ainda segurava minha espada a olhei como um leão olha para um veado.
Ela abriu um pequeno sorriso e eu me levantei caminhando até ela.
- Vejo que a subestimei.
- Sempre faz isso.
- Acho que enfim consegue segurar uma espada como uma guerreira, como uma rainha.
- Obrigada!
- Agora quero ver a mesma qualidade em seu poder, meus soldados deveriam ter sido massacrados em poucos segundos, mas você demorou quarenta minutos para acabar com uma pequena quantidade de meus guerreiros, demorou todo esse tempo para derrotar apenas mil guerreiros. Quanto tempo irá demorar para derrotar Sol? Um século?
Mil soldados, ela devia estar de brincadeira, eu lutei com no mínimo quatro mil, soldados.
- Sinto muito, vou me empenhar mais da próxima vez, mãe.
- É melhor que realmente faça isso, não vou treinar um peso morto, vou treinar a maior força que existe nesse mundo, vou fazer de você melhor do que qualquer coisa, melhor do que qualquer um, mas para isso quero que no mínimo me de o melhor de si.
- Eu farei isso.
- E para esclarecer nosso acordo, eu posso fazer você se arrepender se me trair, tenho meus meios.
- Serei leal a você.
Lealmente serei sua inimiga.
- É mais seguro para você se isso fizer. Disse ela sumindo em seguida.
Precisava urgentemente de um banho, surgi já dentro da cabana os olhos de Cam me encontraram e ele sorriu.
- Acho que você deve ter treinado muito. O que é isso? Indagou ele apontando para um corte do meu braço.
Coloquei a mão por cima e quando tirei nenhum vestígio dele havia restado, olhei para Cam como se fosse um mágico fazendo um truque barato.
- Legal. Disse Cam surpreso.
Sorri.
- Aonde está Gadriel?
- No seu quarto.
- Eu vou tomar um banho.
- Tudo bem, desça daqui a pouco que eu fiz aquele macarrão que você tanto gosta.
Puxei o ar e senti o inconfundível aroma do molho de almôndegas de Cam.
- Você é o melhor. Disse enquanto subia as escadas.
Meus pés nem haviam entrado completamente no quarto quando o vi o rosto de Gadriel em frente a porta.
Não precisamos trocar nenhuma palavra apenas o meu toque foi suficiente para que nenhuma pergunta fosse feita, ou nenhuma saudação fosse dita.
- Vou tomar um banho e já volto.
Ele assentiu.
Caminhei até o banheiro e joguei meu corpo cansado na banheira, me perdi em meio a água quente e deixei que ela lavasse meus piores pensamentos.
Me troquei e desci, Cam já havia colocado a mesa e Morte estava sentado (como se ele fosse comer).
Eu estava distraída, meus pensamentos estavam a anos luz de distância, tentei me concentrar na conversa entre Cam, Morte e Gadriel, mas nem sequer tinha entendido do que eles falavam.
Minha fome passou na primeira garfada.
- Luna, você nem tocou direito na comida.
- Estou sem fome, vou sair um pouco.
- Não, você não dormiu nada está noite e agora nem comer você está comendo, vai acabar adoecendo.
- Estou bem, vocês não tem que se preocupar com isso.
- Para onde vai?
- Se Gadriel estiver com vontade, gostaria de ir caçar.
- Vai ser um prazer ter sua companhia para caçar.
Saímos quando a lua surgia no céu, fomos até o meio da floresta, a pouca luminosidade era perfeita. Caminhamos com passos leves que não emitiam qualquer ruído, em minhas mãos estava o arco e a flecha já posta.
Pude ouvir o som de galhos se partindo. Balancei a cabeça para Gadriel, minha afeição por ele era tamanha que já não o via como um animal, mas agora vendo ele assim, seus dentes afiados e olhos centrados na caça, pronto para matar.
Em nosso campo de visão estava um veado, carne suficiente para que Gadriel se alimentasse.
- Posso? Sussurrei.
Ele assentiu.
Mirei e atirei a flecha, ela cortou o ar e acertou no animal que caiu no chão sem sofrer muito.
Caminhamos até ele e eu passei a mão por sua pelagem, tirei a flecha.
- Se incomoda se eu comer?
- Nunca, sinta-se a vontade.
Ele atacou, seus dentes rasgaram a pele do animal e penetraram a carne, aquilo não me causou nada, nenhum sentimento como pena ou comoção, na verdade não me causou sentimento nenhum.
Gadriel terminou sua refeição em pouco tempo, então voltamos para casa depois de passar horas caçando.

Morte e Cam estavam sentados no sofá, me olharam quando eu entrei na sala.
- Como foi?
- Foi bem.
- Você pode se sentar aqui, Luna? Indagou Morte apontando para o sofá.
- Não, vou me trocar e ir treinar.
- Você não vai dormir?
- Não estou com sono.
- Então, sente-se aqui que precisamos conversar. Disse Morte se levantando e vindo até mim.
- Não tenho tempo, preciso ir treinar.
Não estava com interesse em conversar, minha cabeça precisava se manter concentrada em treinar e no meu plano.
- Eu treino com você, assim podemos conversar.
Era uma ótima idéia, já que Morte era imortal.
Nos colocamos o mais longe da casa que pudemos, não queria acabar demolindo tudo.
Fiquei em frente a Morte, suas mãos abertas e seus olhos vidrados em mim, a floresta silenciosa ao redor de nós.
Ataquei antes mesmo de perguntar se ele estava pronto, um lâmina de luz foi em sua direção, ele recuou deixando que o golpe acertasse as árvores ao nosso redor, como se fossem gravetos elas se dividiram em duas.
Morte vendo o resultado me olhou.
- Isso não é justo. Disse ele.
- Por qual razão?
- Eu não posso usar tudo que tenho contra você.
- Pare de ser chorão e me ataque logo.
- Eu poderia arrancar sua alma se eu quisesse.
- Estaria me fazendo um grande favor. Admiti
Ele me atacou com um sorriso malicioso nos lábios, uma nuvem negra me envolveu como se a escuridão tivesse me tomado por inteira, me senti cega, minhas mãos procuravam um caminho para sair, mas encontravam o vazio.
O toque gélido da mão de Morte me puxando para si fez meu corpo se arrepiar, seus braços me levaram para sua frente, seus olhos claros encararam os meus e um brilho selvagem se refletiu, iluminados pela fraca luz da lua, ele tinha palavras presas em sua boca.
- Eu tenho que te contar a verdade, antes que a surpresa caía sobre você e nada possa ser feito.
- Eu não quero que me diga nada, não quero me preocupar mais com nada.
- E se isso mudasse tudo para você?
- Não faria diferença.
Antes que mais alguma coisa fosse dita eu calei sua boca com meus lábios, seus braços me envolveram e sua língua dançou com a minha, em um ritmo perfeito.

Voltamos de mãos dadas para casa, ele mantinha seus olhar a todo tempo em mim, sua mão segurava a minha com tanta força que ele parecia sentir que só aquilo me prendia ao chão.
Sentado no chão em silêncio estava Gadriel, seus olhos ficaram apreensivos quando ele me viu, e ao me olhar no espelho pendurado na parede da sala entendi, meus cabelos estavam sem vida assim como o meu rosto, olheiras profundas estavam abaixo de meus olhos e minha pele parecia transparente de tão pálida.
Me aproximei de Gadriel enquanto Morte ficou perto da porta.
Ele entendeu assim que me sentei ao seu lado e assentiu quando beijei o topo de sua cabeça.
Subi as escadas e encontrei Cam deitado em sua cama, dormindo pesadamente.
Morte conversava com Gadriel no andar de baixo.
Me sentei na cama próximo a Cam e sussurrei em seu ouvido.
- Vá atrás de Melissa, diga a ela quanto foi um tolo, diga o que sente por ela e o quanto sente sua falta, não deixe que eu seja o motivo da sua infelicidade.
Beijei levemente sua bochecha levemente amassada e ele nem se moveu.
Fui até o andar de baixo, o sol estava nascendo, Morte se aproximou quando fiquei em frente a porta.
- Já está indo de encontro a Lua?
Assenti.
Seus olhos me olharam e pude sentir que ele estava lembrando do beijo, para ele, aquilo era um beijo como outro que eu dera, mas ele não fazia a menor idéia que aquela era a despedida, que aquele beijo era o último.


A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolWhere stories live. Discover now