Capítulo 102: Morte

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Penúltimo capítulo.

Eu me arrependi no momento que pisei naquela grama, me arrependi no momento que eu a vi. Ela era linda, o mais lindo ser que eu já tinha visto. Os olhos eram tão intensos e luminosos que iluminavam a minha existência sombria. O vestido lhe caía tão bem que ela se assemelhava a uma estátua. Os cabelos mais curtos emolduravam seu rosto jovem. Cada parte daquela mulher me admirava, cada passo, cada respiração, cada movimento. E embora eu não soubesse quando eu me apaixonei por ela eu sabia o quanto eu a amava. E como amava, achei que nunca fosse possível sentir isso, mas ela era diferente de tudo que já existirá, ela era como furacão e calmaria ao mesmo tempo. Ela era tudo, tudo que existia para mim, como se a vida só existisse porquê ela existia, como se ela fosse a vida. Como se tudo tivesse sentido depois dela.
Ela andava devagar, a pele exposta era coberta por cicatrizes que hoje brilhavam assim como sua pele e seu sorriso, eu morreria mais um milhão de vezes por aquele sorriso, eu morreria.
A luz do sol ia de encontro a ela como se ele só existisse para servi-la, para ilumina-la.
Eu era frio e silencioso, mas ela era quente e barulhenta, eu imperceptível e ela tão aparente, chamava minha atenção em cada movimento.
Os pequenos e peculiares detalhes me encantavam, os olhos azuis acizentados cintilantes e penetrantes, os cabelos cinzas agora em cachos, a pequena pinta na orelha esquerda que era sempre coberta por seus cabelos, os dedos finos com cicatrizes, a covinha que surgia quando ela sorria de verdade.
Eu estava lá, olhando para ela indo se casar.
E apesar de conhecê-la desde sempre eu havia visto mudar, tanto que não havia notado. Ela havia se encontrado e se perdido tanto que era difícil saber quando ela realmente soube que ela era capaz, que ela era a única que podia dar fim a maldição. E mesmo quando eu acreditei nela ela duvidava de si.
E no final eu tive sorte, não só por conhecê-la, mas por tão preciosa criatura ter sido alvo do meu amor e por ter sido amado por ela.
Seria solitário novamente. Ela havia trazido vida novamente para a minha existência, sua aura dourada iluminava todas as trevas de mim. Eu havia me acostumado com a sua presença, com seu toques leves, com seus lábios, com a sua voz, com a sua respiração e com as batidas do seu coração.
Eu sempre a admirei de longe, sempre nas sombras, como neste momento.
Ela estava lado a lado com ele, sorria tão lindamente ele colocou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha, aquela pequena mecha insistente que sempre lhe caía sobre o rosto, a mecha que enquanto ela dormia, eu incontáveis vezes afastei de seu rosto.
Tudo ao redor dela parecia um borrão, talvez por eu só me importar com ela todo o resto fosse insignificante.
Eu estava feliz a felicidade dela era o que eu mais queria e não me importava se ela estivesse com ele, se ela fosse feliz eu seria feliz.
Eu havia visto tanto dela que eu achava que a conhecia mais do qualquer outro, mas eu acho que estava errado, ela naquele momento parecia feliz, mas de alguma forma algo parecia a incomodar, ela olhava vez o outra para os lados e para os lugares dos inúmeros convidados.
Eles disseram aceito e Dastan a beijou,  foi um beijo cheio de sentimento. Sua mão segurava o pescoço de Luna e ela segurava a outra mão dele. Eu não pude conter, mas me imaginei no lugar dele, tendo ela tão próxima de mim. O calor de seu corpo, a respiração tocando minha pele, as batidas do coração contra meu peito. O beijo durou apenas por alguns segundo, mas para mim foram como horas.
Eles se afastaram e todos levantaram e começaram a gritar felicitações, cobrindo a minha visão, eu já não podia mais vê-la então caminhei até a praia. Lembrei das inúmeras vezes que eu a via lá, sem ela nunca se dar conta que intervinha nas mares, que quando seu humor se alterava as ondas seguiam suas emoções, batiam contra as pedras vorazes quando a raiva habitava seu ser e quando estava calma e serena as ondas eram da mesma forma. De certa forma ela era inconstante como a maré ou a maré fosse inconstante como ela, era difícil dizer. E mesmo tendo essa ligação com o mar ela não sabia nadar. Quando era apenas uma garotinha em uma tarde ensolarada enquanto ela e Cam haviam ido pegar conchas escondido dos pais ela brincava na água e Cam comprava sorvete, uma onda forte a jogou contra as pedras e cobriu seu corpo. Ela estava afundando, ela estava desacordada, mas eu consegui alcançar sua pequena mão e depois apaguei a suas lembranças daquele dia.
Eu sempre estive perto, sem força suficiente para agir em certos momentos e com impedimentos para intervir na sua maldição, mas eu sempre estive lá. Estive lá quando ela corria pela floresta, estive lá quando ela descobriu sobre quem ela era. Ela sempre foi alguém que eu quis ser presente na vida, mesmo que ela não soubesse disso, mesmo que eu pudesse ajuda-lá de longe. Fui seu protetor.
Ela sempre me causou interesse, sempre quis entender quem ela seria e o que faria, ela era frágil exteriormente, mas forte interiormente.
Eu sabia do seu lado sombrio, sabia mesmo antes dos primeiros sinais, mas eu não podia assusta-lá, não podia machucar ela de tal forma. Eu fui em diversos clãs procurar por escritos que ajudassem, mas eu achei pouco ou quase nada que pudesse ser útil. Eu sentia seu lado sombrio toda vez que olhava para ela e sabia como ela se sentia em relação a isso, o quanto Luna lutou para se afastar de tudo isso, preferia machucar a si mesma a ver outros sangrarem.
Ela era assim, mesmo após a maldição, se sacrificaria por aqueles que amava se pensar duas vezes. Ela era movida por amor, embora o destino tenha levado tantas coisas pelo caminho ela teve esperança e teve amor para passar por tudo isso.
E agora era a minha vez de sacrificar algo pelo amor, pela única pessoa que eu amei e a única que eu amaria por toda a eternidade.
Eu caminhei novamente de volta a cerimônia.
Ela estava dançando, seu corpo em harmonia com a música, os cabelos balançando com o vento e com os movimentos fiquei ali a observando a forma como as mãos se moviam, como a sua aura brilhava iluminando tudo ao redor mesmo com as manchas pretas do seu lado sombrio em sua aura.
Eu a observava até que seus olhos se encontraram com os meus, ela congelou, mas ninguém percebeu, além de Dastan. Ela rapidamente veio em minha direção seguida por ele.
Eu me direcionei até uma parte mais afastada da ilha, um lugar mais calmo e com vista para o mar, havia um banco de pedra e eu me sentei e aguardei por ela que surgiu ofegante e com um sorriso doce.
- Você veio. Ela se aproximou e sentou do meu lado a sua mão quase tocando a minha, eu podia sentir seu calor.
- Você está linda. Disse segurando sua mão e ela me abraçou antes que eu pudesse notar ou dizer algo, seus braços ao redor de meu corpo, eu a envolvi com os meus braços e nesse instante Dastan surgiu com um expressão calma, mas no fundo eu via o quanto estava incomodado com isso.
- Eu achei que nunca mais o veria... Você me deixou. Sua voz saiu como um sussurro.
- Você não se livraria de mim tão fácil. Disse dando um beijo na sua cabeça.
Ela sorriu com os olhos brilhantes por lágrimas que ficaram ali, sem cair.
- Eu vim para te dar seu presente de casamento... É um presente para os dois.
Ela se afastou lentamente e eu repousei meu braços ao lado do meu corpo.
- Eu achei um jeito de adormecer novamente o seu lado sombrio... Se não fizermos isso eu temo que ele possa dominar você completamente, sobrepondo quem você é de verdade, eu passei todos esses meses buscando uma forma e enfim encontrei.
Dastan se aproximou mais.
- Isso é ótimo! Sorriu ele.
- Só que antes disso eu quero te dizer Luna, você está dividida... Sei que não ama só Dastan, mas ama a mim também, eu quero que você seja plenamente feliz, mas dividida desse jeito, você não será, então... Eu vou me apagar das suas lembranças. Disse lentamente.
Seus olhos apreensivos ficaram assustados.
- Eu não quero te esquecer, não posso fazer isso com você, eu não posso fazer isso com você... Eu amo você, não posso esquecer tudo que passamos juntos, sinto muito, mas isso não vai acontecer. Gritou ela em protesto.
Dastan sofria em silêncio, mantendo seus olhos em nós, as mãos inquietas ao lado do corpo.
- Luna, eu amo você tanto que é impossível de expressar, você me fez feliz de uma forma que eu não consigo entender, foi a melhor coisa da minha existência e foi um presente  que eu preciso de alguma forma agradecer... E essa é a minha forma, me deixe te fazer feliz como me fez.
O tempo mudou e nuvens cinzas se formaram.
- Não posso...
- Sinto muito e eu te amo. Segurei uma das suas mãos e ela abaixou a cabeça eu ergui com meu dedo indicador seu queixo e olhei para o seus olhos e ela para os meus.
- Eu estarei aqui por toda a eternidade por você e para você, seja feliz e você me deixará feliz.
Coloquei minha mão em seu pescoço e ela já não conseguia dizer nada, não podia mais eu já havia começado a tirar suas lembranças, uma a uma, cada vez que ela havia me visto estava sendo apagada de suas memórias e de seu coração, cada beijo, cada sorriso, cada momento, cada toque, iam lentamente desaparecendo. Suas lágrimas escorriam por seu rosto caindo sobre o vestido. No mesmo instante gotas de chuva começaram a cair.
Eu me aproximei e meus lábios encontraram com os dela, e ela me beijou com ternura como um beijo de adeus, sua língua percorrendo minha boca e minha língua, sua respiração acelerada e seu corpo quente, seus lábios tinham gosto de lágrimas e morango, sua pele cheirava a rosas e a chuva.
Eu senti quando tudo foi apagado e ela se afastou tocando novamente meus lábios com os seus e caindo nos meus braços com os olhos fechados. Eu a abracei e senti algo escorrer por meu rosto, me surpreendi com minhas próprias lágrimas.
Lentamente coloquei ela deitada sob o banco de pedra, sua mão segurava a parte de baixo do meu meu casaco de maneira tão firme como se ela me prendesse ali, para que não pudesse deixá-la.
Seu rosto estava sereno, mas úmido pelas lágrimas. O céu voltou a cor de final de tarde e a noite se aproximava devagar.
- Prometa cuidar dela com a sua vida. Disse em tom autoritário limpando as lágrimas do meu rosto.
- Eu prometo!
- Só você vai lembrar de mim, todos os que me viram e todos que são próximos de Luna esquecerão cada vez que fui mencionado e cada momento que me viram, então só você vai se lembrar, para que nunca esqueça que eu estarei sempre por perto pronto para acabar com a sua vida se fizer algo contra ela ou caso a magoe, e para que não se esqueça que estou disposto a tirá-la de você caso você faça algo errado. Eu ainda olhava para ela, segurando sua mão e acariciando seu rosto.
- Eu sei disso... Eu agradeço por tudo que fez por ela, agradeço por ter cuidado dela quando eu não fiz isso.
- Eu fiz isso por ela e não por você, não me agradeça. Minha voz saiu voraz e seca.
Olhei para ele e voltei meu olhar para ela.
Minha mão ficou sobre sua testa e eu fechei meus olhos recitando mentalmente o feitiço para adormecer seu lado sombrio.
" Adormece e separa o que não pode existir e deixa habitar o que é seu por existência, não deixa nada para trás "
"As palavras somem o que foi feito se apaga, você só vai se lembrar quando a hora chegar, quando precisar lembrará"
O céu alaranjado de final de tarde se tornou escuro e o corpo de Luna se iluminou por uma luz escura, que tomou lugar lentamente por uma clara que expulsando a luz escura totalmente de seu corpo, a luz escura ao sair do corpo de Luna foi levado em partículas pelo vento que fez mechas do cabelo de Luna levantarem. O céu voltou a cor normal.
- Ela vai acordar confusa, diga que ela conseguiu sozinha. Disse a Dastan.
Me virei para Luna, sua respiração estava calma e a mecha insistente estava sob seu rosto novamente eu a tirei e beijei sua testa, olhando cada detalhe do seu rosto e tentando memorizar tudo.
- Estou aqui se precisar. Sussurrei e desapareci deixando ela aos cuidados de Dastan.
Eu estava cansada física e mentalmente, minha energia foi sugada com o feitiço e eu estava pensando em como seria novamente vê-la, mas ela não saber quem eu era e o que eu significava para ela.
Ela estava a salvo e nada agora a atrapalharia de enfim viver.
Ela iria lembrar quando fosse a hora de lembrar e eu esperaria por isso para pode estar ao seu lado. Nós tínhamos a eternidade então eu esperaria por ela.

Gostaram do capítulo???  Foi o que vocês esperavam do Morte.
Ps: o cara do vídeo não é o Morte, é só de uma série que eu gosto e que toca essa música.

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolWhere stories live. Discover now